Petrobras avalia investir em até três plantas de biodiesel
2006-03-17
A Petrobras está analisando a possibilidade de investir em usinas de biodiesel
no país e criou um grupo para estudar o assunto. O Valor apurou que não há uma
decisão fechada sobre o assunto, mas que, dependendo das conclusões dos estudos,
a estatal poderá participar de três usinas.
De acordo com uma fonte da companhia, caso a empreitada seja levada adiante - e
fontes ligadas a esse mercado acreditam que sim - a idéia é buscar associações
com investidores privados para tocar as plantas.
Quem acompanha este início de desenvolvimento do mercado brasileiro de biodiesel
reconhece que a participação de um "player" de peso como a Petrobras na produção
é importante, até por sinalizar um compromisso ainda maior do governo federal
com o programa.
As mesmas fontes lembram que, mesmo antes de definir eventuais investimentos
diretos no novo segmento, a estatal já vem estimulando sua evolução.
No primeiro leilão de biodiesel do país realizado pela Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no ano passado, a Petrobras
comprou 100% dos 70 milhões de litros vendidos. Do total, 93,3% foram adquiridos
pela própria empresa e 6,7% pela Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), onde a
estatal é sócio da Repsol YPF.
O próximo leilão de biodiesel está marcado para o dia 30 deste mês de março,
quando serão oferecidos 170 milhões de litros do produto. A expectativa é que a
gigante petroleira novamente arremate o volume total ofertado.
Em Araçatuba, no interior paulista, participando da 4ª edição da Feira de
Negócios do Setor de Energia (Feicana), Rodrigo Rodrigues, coordenador da
Comissão Executiva Interministerial de Biodiesel, adiantou que outros 400
milhões de litros deverão ser adquiridos pela Petrobras em novo leilão em abril.
De acordo com Rodrigues, os volumes que serão comprados nesses dois próximos
leilões terão de ser entregues entre julho deste ano e dezembro de 2007.
No caso dos 70 milhões de litros arrematados no primeiro leilão, realizado em
novembro de 2005, parte do volume começou a ser comercializado. Cerca de 80
postos de combustíveis do país já receberam o produto para misturá-lo ao diesel
em uma proporção de 2%. "Até o fim deste mês, o produto será comercializado em
1.000 postos", disse Rodrigues.
O executivo lembrou, ainda, que só podem participar dos leilões de venda de
biodiesel empresas que têm o Selo Combustível Social - obtido por quem se
compromete a comprar pelo menos parte da matéria-prima para a produção de
biodiesel de agricultores familiares do país.
Atualmente há no Brasil apenas cinco empresas habilitadas a processar biodiesel.
Outras cinco companhias estão com projetos em fase de aprovação. Segundo
Rodrigues, há 24 projetos em andamento, alguns deles com participação de grupos
estrangeiros.
Como a produção brasileira é incipiente, o governo federal, por meio da
Petrobras, terá de fazer um contrato de compra de biodiesel "bem amarrado", uma
vez que boa parte da oferta que será adquirida ainda não está disponível.
A produção nacional está hoje em torno de 80 milhões de litros. Os quase 600
milhões de litros que deverão ser adquiridos pela Petrobras entre março e abril
ainda não foram produzidos. Mas, conforme Rodrigues, a empresa confia na oferta
futura das empresas já instaladas no país e também nos projetos em curso.
Grandes agroindústrias como a multinacional Bunge, contudo, frearam seus planos
para o biodiesel à espera de vantagens tributárias.
Pelo impacto social que o governo acredita que programa pode representar, as
vantagens tributárias estão concentradas na agricultura familiar. Nas regiões
Norte e Nordeste, por exemplo, para os agricultores familiares a Cide é
inexistente e há isenção total de PIS/Cofins.
(Valor Econômico, 16/03/06)