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2006-03-16
Os países em desenvolvimento podem chegar a níveis de excelência em biotecnologia, mas precisam tomar uma decisão nacional de fazer investimentos na área. Esta foi uma das principais conclusões do professor franco-marroquino Albert Sasson, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas (IAS-UNU) durante o painel “O papel da biotecnologia nas economias em desenvolvimento”, em evento paralelo à 3ª reunião dos Países Membros do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP3), realizado ontem (15/3).

Para Sasson, a grande diferença entre os países em desenvolvimento, na área de biotecnologia, é resultado de uma opção feita por alguns deles décadas atrás. Ele citou como exemplo o programa brasileiro de combustíveis de base vegetal, o Proálcool, iniciado há mais de 30 anos e que, desde então, gerou tecnologia e quadros qualificados em biocombustíveis que hoje são referências mundiais.

O professor também disse que a necessidade de longos prazos para colher resultados não significa que se tenha esgotado o tempo para as economias em desenvolvimento buscarem soluções biotecnológicas para áreas como agricultura, alimentação, energia, farmácia e outras. Ele observou que países como Chile e Índia têm tomado decisões em favor da pesquisa biotecnológica que podem fazer deles em alguns anos pontos de excelência.

Sasson também lembrou dos esforços que Uganda está fazendo para criar um centro mundial de referência na pesquisa com banana, e da Jamaica, no desenvolvimento de técnicas de aprimoramento no cultivo do mamão. Segundo o professor, outros casos de sucesso no investimento pesado em biotecnologia são a produção de remédios genéricos em Cuba e no Brasil, o que tem colaborado para a redução de custos de tratamento de doenças.

Na direção oposta, de acordo com Sasson, vai a Nigéria, região nativa da palma oleaginosa, que, por não ter se mobilizado em pesquisas com o vegetal, deu chance para a Malásia investir na área e assumir a liderança no conhecimento do óleo de palma, ao desenvolver variedades mais rentáveis.

OGMs
A estreita associação que normalmente se faz entre biotecnologia e os controversos organismos geneticamente modificados (OGMs) acaba sendo um empecilho para que os países tomem a decisão de investimento de longo prazo. “O Estado tem de definir seus interesses nacionais, tem que fazer suas tarefas e nada além”, afirmou Sasson.

Com relação aos OGMs, Sasson observou a hegemonia de abordagens dogmáticas sobre o tema. Para o professor, deve se adotar uma visão pluralista, que permita, com os devidos cuidados ambientais, a convivência harmônica de culturas agrícolas tradicionais, orgânicas e transgênicas. “Com isso alguns países estão fazendo progressos, à margem de toda a questão dos transgênicos”, afirmou.

Países em desenvolvimento têm se beneficiado de programas do International Centre for Genetic Engineering and Biotechnology (ICGEB), organismo intergovernamental de pesquisa e treinamento, para implementar ou aprimorar programas de biotecnologia. Segundo o diretor da Unidade de Biossegurança da entidade, Decio Ripandelli, embora trabalhe em diversos níveis do fomento, a ICGEB prioriza o treinamento em ciências básicas e de longa duração, para criar nos países beneficiados bases técnicas sólidas. Segundo Ripandelli, as transferências de tecnologia já fizeram com que países como Irã e Argentina conquistassem posição de destaque na produção de remédios genéricos.

Para saber mais:
www.ias.unu.edu
www.icgeb.org
Por Adir Nasser Junior, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3

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