Opinião: Manifesto dos Engenheiros Florestais à Comunidade Riograndense
2006-03-16
A Classe dos Engenheiros Florestais Gaúchos, profissionais habilitados e capacitados pelo Sistema Confea/Crea, a exercer atividades técnicas relativas ao setor florestal e ambiental, em razão dos fatos obscuros, ocorridos no dia 08/03/06, junto ao viveiro florestal e laboratório de pesquisa da empresa Aracruz Celulose em Guaíba, vem publicamente esclarecer a Sociedade Riograndense os mitos e verdades sobre a questão:
1º) Na relação homem versus ambiente, primeiramente há de respeitar este cidadão vegetal chamado "eucalipto" que tanto colaborou e contribui com a preservação e conservação ambiental e florestal deste estado e país, visto que seu múltiplo uso evitou a exploração e destruição de milhares de hectares de florestas nativas, pela substituição de produtos madeireiros e energéticos proveniente de madeiras nativas por eucaliptos;
2°) Tanto as manifestações públicas de "ecologistas" e de integrantes da Via Campesina, sobre a pecha de que o eucalipto é uma árvore assassina, que polui o ar, destrói o solo e consome enormes quantidades de água, não tem a menor comprovação técnica e cientifica. Isto é uma "heresia técnica". Nenhuma árvore tem esta capacidade, pelo contrário, só trazem benefícios, como: a) seqüestro de carbono (ex: 1 hectare de eucaliptos em crescimento captura 11.000 Kg de carbono por hectare/ano; b) infiltração de água no solo. (ex: uma árvore de eucaliptos adulta, infiltra 2.000 litros de água, em uma chuva com duração de 1 hora); c) proteção e conservação do solo pelas copadas e serrapilhadeira, evitando a erosão e lixiviação do solo; d) translocação de minerais do subsolo, pela incorporação de matéria orgânica (folhas, ramos, galhos) na superfície do solo; e) formação de estrato protetor (como guarda chuva), ambiente propício ao desenvolvimento e crescimento de espécies nativas, que proporcionam o desenvolvimento e a formação de novas florestas nativas. Este fator somente está relacionado com a questão de espaçamento e luminosidade; f) abrigo, alimentação e proteção da fauna nativa (ex: papagaios se alimentam de sementes de eucaliptos);
3º) Há de se diferenciar pequenos e médios reflorestamentos de eucaliptos, chamados de florestas sociais, que têm funções sociais, econômicas e ambientais, com relação as áreas extensas de florestas industriais, como é o caso da Aracruz;
4º) O Brasil, incluindo o RS, possui um dos melhores climas do planeta para a produção florestal. Os produtos florestais (celulose, papel, móveis, painéis, chapas, aglomerados, madeiras serradas, carvão vegetal, lenha, etc) são o segundo fator econômico na pauta de exportação do Brasil; nosso país é o 9º produtor mundial de madeiras. Aqui uma árvore, por exemplo, de eucaliptos, se corta ao 5°, 7° ou 15º ano, dependendo do produto que se deseja obter. Enquanto, no Hemisfério Norte, e Europa, leva-se de 100 a 200 anos para chegar ao ponto de aproveitamento. Estas vantagens comparativas remetem o Brasil a se tornar uma grande potência florestal mundial, como acontece hoje na produção de grãos, carnes, frutas, entre outros. E isto põe medo a muitos!
5) Os reflorestamentos projetados para a metade sul do Estado, por empresas como Aracruz, Votorantin, Stora Enzo, não podem ser consideradas "Desertos Verdes", pois representam no máximo apenas 3% da área total do Pampa Gaúcho. Serão áreas consideradas como monoculturas de eucaliptos, por serem
extensas, como as lavouras de soja, arroz, milho e pastagem existentes no RS. Esta nova atividade trará inúmeros benefícios sociais e econômicos, com implicações ambientais, certamente compensadas conforme a legislação florestal e ambiental.
A Câmara de Engenharia Florestal do CREA/RS, repudia tais atitudes intempestivas, improcedentes, sem embasamento técnico-científico. Defendemos o desenvolvimento sustentável de regiões como a metade sul, através do reflorestamento, com o plantio e manejo correto de espécies florestais nativas e/ou exóticas; que resultarão na melhoria da qualidade de vida da população gaúcha.
Fonte: Câmara de Engenharia Florestal do CREA/RS.