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2006-03-16
O Ministério de Ciência e Tecnologia já acumula 98 projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) em andamento, em diferentes estágios, aguardando aprovação. Empresas como a Suzano Papel e Celulose , Sadia e Rhodia já estão preparadas para este mercado, que mundialmente deve movimentar cerca de 34 bilhões de euros até 2010.

O Brasil é o segundo país do mundo, atrás apenas da Índia, em número de projetos que resultam em venda de créditos de carbono. Este ano, no entanto, especialistas neste mercado acreditam que haverá uma verdadeira corrida das empresas em busca da geração de créditos. “O mercado está em ebulição. Há investidores batendo na porta das empresas querendo comprar créditos de carbono”, observa Adriano de Souza, gerente de corporate finance da Deloitte . “Por outro lado, há novas metodologias de projetos sendo aprovadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, as companhias têm modelos já aprovados que podem ser copiados, o que torna o processo mais rápido e barato”, complementa Guilherme Fagundes, chefe do departamento de projetos especiais da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

A BM&F, atenta ao crescente interesse empresarial pelos créditos de carbono, está se preparando para intermediar estas negociações ainda este ano, a partir provavelmente do segundo semestre. “A Bolsa pretende organizar este mercado no País, criando regras que irão conferir maior transparência às negociações e induzir a um processo de formação de preços mais eficiente”, explica Fagundes.

Desde o final do ano passado, a BM&F está trabalhando com um banco de projetos em seu website. Lá, as empresas podem cadastrar seus projetos de MDL, já validados ou em estágio de validação. A partir destas informações, a Bolsa fará uma seleção daqueles mais consistentes — com apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — para iniciar a comercialização dos créditos.

A Suzano é uma das empresas brasileiras que está de olho no mercado internacional de créditos de carbono. A empresa é cadastrada desde 2004 na Chicago Climate Exchange (CCX) — Bolsa do Clima de Chicago — com projetos de reflorestamento de uma área de 40 mil hectares entre o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia.

“Temos capacidade de geração de cinco milhões de toneladas de carbono”, diz Luiz Cornacchioni, gerente da unidade de negócios florestais da empresa. A comercialização destes créditos, que ainda não foi realizada, renderia para a empresa um retorno de aproximadamente US$ 10 milhões. “O preço da tonelada passou de US$ 0,80 em 2004 para US$ 2,17 em fevereiro deste ano”, destaca o gerente, que analisa atentamente a variação de preços para decidir o melhor momento para fechar negócio.

O valor supera em muito o investimento da Suzano, de cerca de US$ 150 mil, em todo o projeto que possibilitou as negociações dos créditos. “Nosso investimento na floresta já está feito e é amortizado com a venda da celulose. Já os valores gerados com os créditos serão uma receita extra para nós”, explica Cornacchioni.

A Suzano, por uma determinação da CCX, pode negociar créditos resultado de reflorestamento concluído até 2006. Há, no entanto, possibilidade de este prazo ser estendido até 2009. “Se isso de fato ocorrer, teremos mais áreas para incluir nos projetos tanto na Bahia, quanto em São Paulo”, diz o gerente.

A Sadia, por meio do Instituto Sadia , também tem ambições na área de créditos de carbono. A companhia está implementando o Programa 3S (Suinocultura Sustentável Sadia) em 3,2 mil propriedades que trabalham em parceria na criação de suínos. A expectativa da Sadia é negociar 12 milhões de toneladas de gás carbônico nos próximos 10 anos, o que deve gerar uma receita da ordem de 108 milhões de euros, a preços atuais. Os valores devem ser revertidos para os suinocultores com o desconto do valor do biodigestor, que a Sadia fornecerá.

“Além do resultado em créditos, uma segunda fase do projeto permitirá a geração de energia elétrica a partir dos resíduos e também biofertilizantes, que os produtores poderão utilizar em outras culturas de suas propriedades”, explica Meire Ferreira, coordenadora para sustentabilidade da Sadia.

A empresa já obteve um financiamento de R$ 60 milhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a viabilização do projeto, que deve incluir cerca de 1.000 propriedades até o final deste ano. “Ainda não realizamos nenhuma venda de créditos, mas estamos mantendo negociações no mercado europeu”, conta Meire.

Assim como Suzano e Sadia, a Rhodia está dando os primeiros passos nas negociações internacionais de créditos de carbono. A empresa implantará uma unidade em Paulínia, com investimento de US$ 11 milhões, que deve começar a funcionar no primeiro semestre de 2007. No local, que será uma fábrica de ácido adípico, a Rhodia deverá reduzir a emissão de óxido de nitrogênio em aproximadamente 20 mil toneladas ao ano, equivalentes a seis milhões de toneladas anuais de gás carbônico.

“Este será um novo negócio do Grupo. Sabemos que algumas empresas já sabem que precisarão desses créditos, mas nenhum negócio foi efetuado até o presente momento”, conta Jean-Pierre Clamadieu, CEO da empresa.
(Portal do Agronegócio, 15/03/06)

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