Oferta de biodiesel no Brasil será 40% maior que a demanda em 2008
2006-03-16
O Brasil irá produzir 1,118 bilhão de litros de biodiesel ao ano em 2008,
39,75% mais que a demanda - de 800 milhões de litros - esperada para suprir a
mistura mandatória de 2% ao diesel de petróleo, a B2. A previsão foi divulgada
ontem (15/03) pelo coordenador da Comissão Executiva Interministerial do
Biodiesel, Rodrigo Augusto Rodrigues, durante simpósio sobre o tema na Feira de
Negócios do Setor de Energia (Feicana/Feibio), em Araçatuba (SP).
Os volumes são somente do combustível com selo social, ou seja, os que têm como
matéria-prima grãos produzidos pela agricultura familiar e os únicos que podem
ser adquiridos por leilões públicos. De acordo Rodrigues, o volume
disponibilizado em 2008 será a soma dos 49 milhões de litros/ano oferecidos
pelas cinco unidades já existentes, dos 61 milhões de litros a serem produzidos
pelas empresas em fase de regularização e pelos 24 projetos em construção ou em
projeto.
Esses novos projetos serão responsáveis pela maior parte da oferta prevista, ou
1,008 bilhão de litros ao ano. Para garantir a compra do produto, a Petrobras
irá lançar leilões, ainda em março, para a compra de 110 milhões de litros a
serem entregues de julho de 2006 e junho de 2007. Em abril, a empresa irá fazer
uma nova rodada de compra, para adquirir, segundo Rodrigues, 400 milhões de
litros a serem entregues ao longo do próximo ano.
"Com isso, o governo espera que sejam incorporadas 250 mil famílias de pequenos
agricultores até 2008 na produção de oleaginosas para a produção do biodiesel",
afirmou o coordenador. Ainda segundo Rodrigues, até o final de 2006, o número
de postos de combustíveis que comercializam a mistura B2 deve saltar de 80 para
mais de 1 mil, com a entrada da Petrobras na distribuição do combustível
adquirido nos leilões.
A política tributária do governo para o biodiesel e o mercado para o
combustível dividiram opiniões de grandes empresas do setor durante o evento na
Feicana/Feibio. Lincoln Camargo, executivo da Westfalia Separator do Brasil
comemora a dificuldade de a empresa, uma das produtoras de usinas de biodiesel,
de atender a demanda. "Nós temos mais de dez projetos encomendados até meados
de 2007 e estamos com dificuldade de atender essa demanda, principalmente após
os leilões da Petrobrás", disse Camargo.
Já o gerente de Novos Processos e Biocombustíveis, Tecnologia e Inovação da
Bunge, Frederido Kladt, é categórico ao afirmar que a companhia, maior
processadora de soja do Brasil, não tem interesse em produzir biodiesel no País.
Ele cita a diferenciação na tributação para o combustível e a priorização da
agricultura familiar como os motivos para a decisão tomada pela diretoria da
empresa nos Estados Unidos. "A alta direção da empresa determina que não se
entra em setores nos quais há incentivo do governo que distorçam o mercado",
afirmou Kladt. "Também não temos interesse em comprar matéria-prima de pequenos
agricultores para não pulverizarmos nosso negócio", completou o executivo.
(Estadão, 15/03/06)