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2006-03-15
Ontem (14/03), Dia Mundial de Ação Contra as Represas e pelos Rios, a Água e a Vida - ou apenas Dia Mundial contra Barragens, como é mais conhecido - movimentos sociais e entidades ambientalistas de Rondônia fazem protestos contra o projeto de construção de duas usinas hidrelétricas no Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio). O bispo de Porto Velho, Dom Moacir Grechi, realiza uma celebração religiosa para marcar a data e em seguida os manifestantes farão um passeio de barco pelo Madeira.

"Eu não tenho nada contra o progresso. Pelo contrário, eu gostaria de ver todo o amazonense, todo rondonense com condições de vida digna", declarou o bispo. "Mas eu sou obrigado a tomar posição quando o progresso é duvidoso, quando a gente leva em conta todas as outras hidrelétricas do Brasil. Pelas informações que nós temos, muita coisa do ponto de vista social e ambiental deixa a desejar".

O local da celebração é o mesmo onde há três semanas foi lançada a campanha "Viva o Rio Madeira Vivo": a Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré - Porto Velho, patrimônio histórico que será parcialmente alagado pelas barragens. As informações e ações da campanha podem ser acompanhadas pela interne, no endereço www.riomadeiravivo.org.

A campanha é uma iniciativa do Fórum de Debates sobre Energia de Rondônia, do qual fazem parte o Grupo de Pesquisa em Energia Renovável e Sustentável da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a ong ambientalista Canindé, a rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), a Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR), a ong Rio Terra e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Além da perda do patrimônio histórico, outros problemas que o empreendimento trará ao estado, apontados pelos membros do Fórum, são: o reassentamento de 2 mil ribeirinhos, que terão as casas alagadas, enfrentarão dificuldades para conseguir indenização (porque não possuem documento da terra) e perderão sua fonte de renda (a pesca); o inchamento populacional de Porto Velho; o assoreamento do rio Madeira, nos trechos anteriores às barragens; as alterações ambientais nocivas aos animais e plantas protegidos pelas estações ecológicas de Moji Canava e Serra Dois Irmãos, que ficam na área de influência das usinas.

A capacidade de geração das novas hidrelétricas será de 6,45 mil megawwatts, mais da metade da energia produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu (a maior do Brasil, com potencial de gerar 11,20 mil megawatts) e 20 vezes o atual consumo total de energia em Rondônia. A construção das duas barragens faz parte da viabilização da hidrovia do rio Madeira, que vai permitir o transporte da soja do Centro-Oeste pelo Oceano Pacífico, passando pela Bolívia e pelo Peru.

As obras devem demorar de oito a dez anos – e só serão iniciadas após a obtenção da licença ambiental prévia, seguida da concorrência pública para sua execução (por meio dos chamados leilões de energia). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está analisando o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) elaborado pelas Furnas Centrais Elétricas e pela construtora Odebrecht.
(Agência Brasil, 14/03/06)

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