Via Campesina se articula e monta acampamento em Curitiba para manifestações durante as Conferências da ONU
2006-03-13
Curitiba será centro das atenções a partir desta segunda-feira, 13. Os primeiros dias das reuniões da ONU prometem ser o período das discussões mais acaloradas. Entre os dias 13 a 17, será realizada a MOP3 - Terceira Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança. O Paraná, estado que já se declarou livre dos transgênicos, será palco da mais importante discussão mundial sobre o tema.
Na ocasião, deverá ser tomada a mais polêmica decisão, que já acumula diferenças das reuniões passadas. Em Kuala Lampur, na Malásia, quando da realização da 2ª edição da convenção, o Brasil assumiu uma postura firme em relação à rotulagem dos organismos vivos geneticamente modificados – OVM -, entrando em choque com a maioria dos países signatários. Desde 2003, o Protocolo de Cartagena estabele a forma de notificação eximindo quaisquer especificações. Discute-se, agora, a inclusão e obrigatoriedade de dados mais precisos atestando a existência ou não de tais organismos.
A mudança implicaria gastos, muito altos na visão de empresários, mas nem tanto, na avaliação da comunidade ambiental. Essa é apenas uma das questões que promete aquecer a já acalorada discussão. A propriedade da semente, e o direito das comunidades tradicionais também pode estar em xeque, segundo vislumbram ambientalistas.
Agricultores de movimentos tradicionais como Pastoral da Terra e MST, integrantes do movimento nacional e internacional da Via Campesina se articulam para defender suas idéias durante as convenções. Apesar das decisões serem tomadas em instâncias oficiais, sem participação direta da sociedade civil, o movimento espera chamar a atenção de todos os países envolvidos nas discussões, com uma vigorosa mobilização.
Um grande acampamento será montado no Parque Newton Freire Maia (antigo Parque Castelo Branco), em Quatro Barras, a 20 km da capital, onde são esperados cerca de 6 mil camponeses. O Movimento dos atingidos por Barragens – MAB -, que também integra a Via Campesina, dividirá o espaço do local do acampamento. Segundo o coordenador da comissão da Pastoral da Terra no Paraná, Dionísio Vandresen, deve-se chamar atenção também para o modelo energético brasileiro e as perdas causadas a milhares de pessoas que tiveram que abandonar suas terras.
Serão realizados debates no acampamento, assim como caminhadas de protesto. O segmento feminino do movimento, que já tinha algumas atividades programadas na cidade nesse período, também deve se manifestar. A evolução da monocultura e do agronegócio serão temas dos debates, segundo Dinísio. “Esta linha está no extermínio do meio ambiente e da semente, que é patrimônio da humanidade”.
A invasão e depredação da Aracruz Celulose, na madrugada do dia 08 passado, não deve ter repercussão nas manifestações no Paraná. O episódio não vai se repetir, segundo Dionísio. “O pessoal vem para chamar a atenção dos países para as necessidades das comunidades como um todo”, disse a AmbienteBrasil, reforçando o objetivo da manifestação.
(AmbienteBrasil, 10/03/06)