Presidente da Aracruz afirma que jamais esperaria tal violência
2006-03-10
Em um hotel em São Paulo, o presidente da Aracruz, Carlos Aguiar, foi acordado
com um telefonema às 7 h de quarta-feira (08/03). Do outro lado da linha, o diretor
operacional, Walter Lidio Nunes, fez o primeiro relato da invasão do laboratório
de pesquisa da empresa em Barra do Ribeiro.
– Fiquei quase paralisado – contou Aguiar ontem à noite (09/03) a Zero Hora.
Nos minutos seguintes, Aguiar acionou o corpo técnico para contar as perdas. Os
prejuízos calculáveis foram estimados entre US$ 400 mil e US$ 500 mil. Entre os
difíceis de calcular estão os 20 anos de pesquisas. Nesta rubrica pode ser
incluído também o adiamento do anúncio da nova fábrica da empresa, previsto
inicialmente para ocorrer até o final deste mês.
Zero Hora – Como o senhor ficou sabendo do ato em Barra do Ribeiro?
Carlos Aguiar – Às 7h, eu estava em São Paulo, no hotel, e foi uma surpresa
total. Disseram que tinham feito uma invasão no viveiro e destruído muros. Fui
para o meu escritório procurar saber mais. Aí tomei conhecimento do tamanho do
estrago. Foram 20 anos de ciência jogados no lixo.
ZH – O que o senhor sentiu ao ficar sabendo da invasão?
Aguiar – Olha, eu fiquei quase que paralisado. Quando estava no telefone, minha
primeira reação foi ligar para minha mulher e minhas filhas. Estava assustado,
porque jamais esperava essa violência. Foi um susto. Eu não esperava de forma
nenhuma, não tinha nenhum precedente, não tinha nenhuma crise nenhuma.
ZH – Qual foi o prejuízo?
Aguiar – De perdas materiais uns US$ 400 mil, US$ 500 mil . Não é nada diante do
material genético. Qualquer material genético que você melhore precisa fazer
crescer a plantinha, tem que levar para o campo, tem que se adaptar e depois de
quatro anos é que a gente vê se ela realmente deu naquilo que se imaginava. Só
depois se planta.
ZH– O senhor ficou surpreso por ter acontecido aqui?
Aguiar – A imagem que eu tenho do Rio Grande do Sul é de um povo bastante
civilizado, desenvolvido, comparado com outras regiões do país. O que não nos
desanima são as reações que eu vi até o momento, da sociedade, dos governantes,
da polícia e de todos os partidos, de direita e de esquerda. Aquilo (o ataque)
não é natural, não é o normal desta sociedade.
ZH – Como o senhor define o que aconteceu no viveiro?
Aguiar – Este não é um movimento exatamente contra a Aracruz. A gente observa que
setores competitivos que o Brasil tem, como minérios e florestamento, têm sido
alvo de crimes, de movimentos ambientalistas. São alvos de invasões diversas,
seja do MST, seja de índios, seja de diferentes posições. Quarta-feira,
tinha gente de fora do Estado, de fora do país. Tinha gente falando espanhol. A
silvicultura no Brasil é muito competitiva no mundo inteiro, com muitas vantagens
comparadas com os nossos parceiros do Norte. Ou seja, se eu abato o líder, o
resto vem junto. E a Aracruz e o Rio Grande do Sul entraram muito em evidência
neste setor.
ZH – O senhor acredita que o movimento poderia estar sendo financiado por
concorrentes?
Aguiar – Não posso provar, mas eu acho que tem de tudo. Há ideologias e há
interesses de concorrentes também. Se eu ajudar uma ONG aqui no Brasil, e isso
atrasar o processo, eu, que não sou competitivo, em vez de morrer daqui a 10 anos,
eu morro daqui a 30 anos.
ZH – O que muda na relação da Aracruz com o Estado?
Aguiar – Sempre digo que não queremos empurrar a porta. Até o momento eu me
sinto convidado, mesmo com este episódio, que não é do povo gaúcho. Se fosse, não
teria havido uma reação tão forte de todos os níveis políticos.
ZH – Vocês vão anunciar até o final do mês a nova fábrica aqui, conforme
programado?
Aguiar – Esta era a nossa intenção, mas não temos condições. Ainda este mês temos
negociações.
ZH – Mas o senhor havia falado que até o final de março se faria esse anúncio.
Aguiar – Isso foi porque gente sabia que o governador poderia ser candidato e a
gente estava tentando acelerar, mas você não pode depender de um calendário tão
apertado. Ainda não estamos prontos para este anúncio.
(ZH, 10/03/06)