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2006-03-10
Ao longo da fronteira que durante a Guerra Fria separou as duas Alemanhas, formou-se uma espécie de cinturão verde que abriga milhares de espécies em vias de extinção. Agora, 16 anos depois da queda do Muro de Berlim, a exploração agrícola ameaça a existência desse conjunto de biomas. Entre 1945 e 1989, época da confrontação dos Estados Unidos, e seus aliados da Europa ocidental, com o bloco soviético, os três mil quilômetros do Muro, entre as antigas República Democrática Alemã e República Federal Alemã, foram conhecidos como a “zona da morte”, pelos dispositivos militares instalados de cada lado dessa barreira.

Esta fronteira se converteu também em um corredor verde pleno de vida, com 50 a 200 metros de largura, que ia do Mar do Norte até a Floresta de Turingia, no limite com a República Checa, hábitat para milhares de espécies, que podiam se mover sem as travas da ação humana. “O corredor verde constitui o biótopo contínuo mais longo da Europa, de quase 1,4 mil quilômetros, onde espécies em vias de extinção podem se mover e se expandir”, explicou Liana Geidezis, diretora do projeto Grünes Band (Corredor Verde) no grupo ecologista alemão Bund.

Segundo dados do Escritório Federal para a Proteção da Natureza, existem no corredor 181 zonas protegidas, nas quais vivem mais de mil espécies animais e botânicas consideradas em perigo de extinção. Entre elas está o martim pescador (Alcedo atthis), pequeno pássaro de penugem verde, azul, castanha e vermelha, que necessita de correntes de água impecavelmente limpas para sobreviver. Também a cegonha negra (Ciconia nigra), que busca florestas protegidas para se reproduzir, bem como determinadas orquídeas exóticas e centenas de arbustos em vias de extinção.

“Nos últimos 16 anos, a agricultura dos dois lados da antiga fronteira se integrou, destruindo paulatinamente o corredor verde”, disse Geidezis. “Se o crescimento das explorações agrícolas nos dois lados continuar, o corredor desaparecerá”, ressaltou. A Bund confirma esta perspectiva desanimadora em um estudo recente apresentado às autoridades ambientais. Nele, ecologistas comparam dados atuais do biótopo ao longo da antiga fronteira alemã com amostras de 2001. Além do crescimento das explorações agrícolas, outras atividades humanas, incluindo as esportivas, como motocross, contribuem para a destruição sistemática do corredor.

O governo alemão também contribuiu com a destruição do corredor. Entre 1997 e 2003, o Ministério das Finanças vendeu parcelas do mesmo para exploradores agrícolas privados, e somente sob pressão de grupos ecologistas concordou, em 2003, com a idéia de criar um biótopo protegido. Entretanto, problemas burocráticos próprios de uma entidade federal impedem até hoje sua criação oficial. Para acelerar o processo, a Bund propôs criar títulos de propriedade sobre parcelas do biótopo a serem adquiridas por particulares interessados em protegê-lo, que tem o preço-base de 65 euros (US$ 80). Com o corredor em mãos de particulares, sua proteção seria mais fácil, afirmou Geidezis.

A Bund também encontrou boas novas. Em algumas regiões, como ao redor da cidade de Salzwedel, cerca de 200 quilômetros a oeste de Berlim, a agricultura intensiva nos dois lados do corredor verde diminuiu, permitindo o reflorestamento e o assentamento de novas espécies. Para Geidezis, estas notícias estão ligadas ao trabalho conjunto de ambientalistas e agricultores. “Onde houve cooperação detectamos melhor dinâmica de proteção”, afirmou.
(IPS / Terramerica, 06/03/06)

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