Em fevereiro vários dos mais consagrados especialistas em energia nuclear se reuniram em Lisboa. Nos trabalhos participaram o empresário português Patrick Monteiro de Barros, que insiste na construção de uma central em Portugal. O executivo de José Sócrates havia afirmado em Junho, pela voz de Manuel Pinho, ministro da Economia, que este era um assunto encerrado e que até final da legislatura (2009), o Governo recusaria dar luz verde ao avanço de qualquer construção deste género.

Monteiro de Barros insistia: "Se queremos ser um país evoluido precisamos de produzir electricidade. O nuclear produz mais limpo, mais seguro e mais barato". A posição é entendida por muitos como pressão para que o Governo aceda às pretensões do empresário. O gabinete de Manuel Pinho, mantém tudo o que já foi dito, sem uma alteração.

Para equilibrar a balança de pressões várias centenas de pessoas deverão concentrar-se em Ferrel (Peniche) no dia 19 de Março num protesto contra a energia nuclear, estimam os organizadores, que preparam ainda a constituição de uma plataforma de oposição a este tipo de energia. Susana Fonseca, da associação ambientalista Quercus, disse que a concentração de âmbito nacional serve para comemorar os "30 anos de luta contra a opção pelo nuclear". "Sentimos que actualmente há necessidade de reagir. A oposição que houve há 30 anos ainda se mantém e não há novos argumentos válidos que sustentem a opção pela energia nuclear", comentou.

Em 1976, a população de Ferrel saiu à rua em protesto pelo início dos trabalhos preparatórios da primeira central nuclear portuguesa, que acabou por não ser instalada. Em Junho do ano passado, o empresário Patrick Monteiro de Barros apresentou um projecto de construção de uma central nuclear em Portugal e espera uma resposta do Governo.

A ideia da concentração em Ferrel partiu de um grupo de cidadãos que decidiram contactar várias organizações para apoiar a iniciativa. Também o presidente da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Peniche pertencem à comissão organizadora da concentração.

Foi entretanto criada uma página na Internet (www.ferrel30anos.org) com o histórico sobre os protestos de Ferrel há 30 anos e com argumentos sobre a energia nuclear. O primeiro-ministro, José Sócrates, afastou já a possibilidade de Portugal iniciar a prazo a construção de centrais nucleares, afirmando no debate mensal de Fevereiro no Parlamento que esse tema não faz parte da agenda do Governo.
(Portugal Diario, 07/03/06)
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=654710&div_id=291