Famílias recebem prazo para deixar área verde em Farroupilha
2006-03-10
A Justiça farroupilhense determinou prazo até terça-feira (14/03) para que 11
famílias desocupem uma área verde do bairro América. A decisão foi tomada na
quarta-feira (08/03) pelo juiz da 2ª Vara Cível, Sílvio Viezer, a pedido da
prefeitura, a dona do terreno.
Os invasores, que desde outubro do ano passado começaram a erguer barracos de
lona no local, reagiram com insatisfação à medida. Uma das moradoras, a
costureira Michele Chaves de Freitas, 24 anos, promete resistir à ordem,
justificando não ter para onde ir.
- Se eles nos tirarem daqui, vou morar na frente da prefeitura - ameaça.
Michele construiu o barraco com lona, papelão e sobras de madeira há três meses,
depois de sete anos vivendo em moradias de aluguel ou de parentes. Alegando falta
de dinheiro - a renda familiar chega a R$ 950 mensais -, ela e o marido
resolveram levar os dois filhos para a casa improvisada, sem água e com uma
ligação clandestina de luz.
A exemplo dos vizinhos, Michele não reivindica que a prefeitura lhe dê uma casa
ou um terreno. Pede uma política habitacional que permita à família e aos
companheiros pagar a construção em prestações mensais, conforme a renda familiar.
- Não queremos nada de graça - afirma.
Um metalúrgico de 27 anos, que pediu anonimato por temer represálias, repete a
frase de Michele. Com salário de R$ 650, ele pede uma chance para construir uma
casa.
- Se a gente não pode ficar aqui por ser uma área irregular, então, que se
regularize - sugere.
O metalúrgico alega que passou a ocupar a área por orientação da prefeitura,
depois de viver por quatro meses em um albergue farroupilhense. O secretário
municipal de Habitação, Luiz Aguiar, o Iano, nega a recomendação.
Secretário defende medida
O secretário municipal de Habitação, Luiz Aguiar, o Iano, alega que a prefeitura
não pode lotear o terreno no bairro América por duas razões principais. Além de
ser área verde, o imóvel se localiza sob uma rede de fios de alta tensão.
Iano destaca que a administração municipal se esforça para reduzir o déficit
habitacional. Lista o incentivo às cooperativas e a construção de 80 casas
populares como dois exemplos de investimentos no setor. O secretário reconhece
que as famílias invasoras têm direito à casa própria, mas aponta dificuldades
para atender às reivindicações.
- Precisamos dar prioridade às pessoas com muito mais necessidades de quem está
ali. Há invasores com renda de até R$ 1,1 mil - afirma.
(Pioneiro,
09/03/06)