Empresas discutem rumos de negócios verdes na COP 8
2006-03-10
Empresários de todo o Brasil irão desembarcar em Curitiba para acompanhar a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), que acontece entre os dias 20 e 31 de março. Além de acompanharem as discussões oficiais, os empresários participarão de um seminário paralelo ao evento da ONU, que discutirá o engajamento do setor privado na conservação e uso sustentável da biodiversidade. A iniciativa, que será realizada nos dias 23 e 24, promete reunir a elite do PIB nacional e é promovida pela Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP).
A abertura do seminário será feita pelos presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Rodrigo Loures, da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto, e da Environmental Finance Group IFC Project Officer Biodiversity, Catherine Cassagne. Também integra a mesa o presidente do Conselho Curador da FBDS, Israel Klabin.
O foco do seminário está na apresentação das Melhores Práticas utilizadas por empresas de grande, médio e pequeno porte, instaladas na América Latina, que basearam no uso sustentável da Biodiversidade seus produtos, mostrando a conquista de importante posição no mercado, principalmente porque essas empresas já foram avalizadas por organizações internacionais de renome como a Biotrade e New Venture Capital - WRI. Entre os cases que serão apresentados está o da Linax, empresa do ramo de óleos essenciais que domina a produção do linalol de manjericão para a substituição do óleo essencial do pau rosa, espécie amazônica em risco de extinção e fornecedor tradicional do insumo.
Os empresários querem, ainda, discutir os desafios para financiar e promover negócios neste setor. Uma mesa-redonda irá apresentar os mecanismos financeiros oferecidos hoje por bancos que operam no Brasil e em outros países, agências multilaterais e bancos de desenvolvimento, ou de fundos de investimentos, quer sejam do governo ou privados. BNDES, Banco Real ABNAmro, ItauBBA e HSBC estão entre as instituições que irão apresentar suas propostas de apoio aos negócios verdes.
De acordo com os organizadores do seminário, estes mecanismos de financiamento ainda são muito tradicionais e alegam que "as finanças, os negócios privados e a biodiversidade ainda conversam de maneira truncada". Os empresários acreditam que, diferentemente do mercado de carbono em relação ao controle de emissão dos gases de efeito estufa, previsto na Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima, que ganhou popularidade e negociações complexas, a CBD ainda carece de mecanismos de mercado originais ou específicos e de engajamento efetivo do setor privado para atingir suas metas. O seminário inclui ainda uma visita de campo às florestas certificadas da Klabin S.A, nos dias 25 e 26 de março.
Nota GTA: O programa inclui um caso suspeito de biopirataria nacional logo no primeiro dia. Os laboratórios Aché e universidades desenvolveram material extraído da erva baleeira, descoberta a partir do conhecimento tradicional de comunidades caiçaras. Uma edição da revista Pesquisa Fapesp mostrou que um dos diretores da empresa usava nas contusões esportivas uma "garrafada" produzida pelos moradores nativos do litoral norte paulista. Enquanto isso, as comunidades caiçaras lutam por sua sobrevivência em lugares como Parati, São Sebastião, Peruíbe, Iguape ou Guaraqueçaba. Parece justa a sua garantia de vida diante de um benefício de sua cultura para a saúde humana. É um tema complexo e sem solução pronta, mas explica a confusão criada desde uma medida provisória em 2000, que até hoje não avançou para uma lei (marco regulatório) no Brasil. Dentro dos eventos oficiais da COP 8, lobistas também estarão pressionando contra a inclusão dos derivados sintéticos de material genético da biodiversidade em um futuro regime internacional de acesso e repartição. O seminário conta com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Banco Mundial (IFC), Confederação Nacional da Indústria, Conservation International e grandes bancos e fundos de investimento de risco. Mais informações em www.fbds.org.br
(GTA - Grupo de Trabalho Amazônico, 09/03/06)