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2006-03-10
A população de São Lourenço do Sul vive um momento crítico. Há cerca de 20 dias convive com o mau cheiro provocado pela decomposição de algas azuis (cianobactérias), que tomaram conta do arroio São Lourenço. Apesar do fenômeno não ter influenciado na balneabilidade das praias na avaliação da Fepam, o banho na Lagoa dos Patos, por precaução, foi suspenso pela maioria dos lourencianos.

Quem entrava na água, há poucos dias, saía completamente verde. O receio era que ocorresse um surto de dermatite, mas isso não aconteceu. O problema acabou afugentando os turistas, mas os moradores, que continuam a conviver com ele, queixam-se de náusea, cefaléia e aumento dos sintomas de rinite e sinusite.

A secretária municipal de Planejamento e Meio Ambiente, Andréa Citrini, informou que o prefeito José Nunes foi a Porto Alegre agilizar com a Fepam a limpeza do arroio, o que deve ser liberado nos próximos dias. Ela explica que existem dois problemas em São Lourenço. O primeiro, crônico, é a falta de saneamento.

O esgoto doméstico e outros resíduos são lançados no arroio. Destaca que o município de 121 anos nunca se preocupou com essa questão, investimento que será feito ainda no atual governo, de R$ 1 milhão, via Banrisul e convênio com a Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg).

O outro problema reside na estiagem e no aumento da poluição das águas, que vem desde o rio Guaíba. Mas o diferencial mesmo está na direção do vento, nordeste, que trouxe a mancha verde para a costa. “É considerado um fenômeno natural, embora para nós seja desagradável”, comentou Andréa.

O odor forte, que hoje se sente em alguns pontos das praias, sobretudo próximo aos juncos, há alguns dias estava em toda a cidade.

Fenômeno

O fenômeno é estudado na Lagoa dos Patos desde 1986. Forma-se na região de Tapes, em temperatura acima de 25 graus, pH superior a 7,5, radiação solar e na presença de componentes fosfatados e nitrogenados. De acordo com o responsável pelo Laboratório de Análise de Cianotoxinas em Água da Furg, João Saquis Yunes, as algas cianofíceas ou cianobactérias são microorganismos com características celulares procariontes (bactérias), porém com um sistema fotossintetizante semelhante ao das algas (vegetais eucariontes).

Daí a dupla denominação utilizada: algas cianofíceas (ou algas azuis) e cianobactérias. Esse grupo de microorganismos fotossintetizantes passou a chamar a atenção dos sistemas de abastecimento público de águas por se apresentarem em florações e causar mudança na coloração da água e muitas vezes também no gosto e odor.

Em São Lourenço do Sul, no entanto, isso não foi verificado. A Corsan monitora a água da barragem e a qualidade não sofreu abalo.

Preocupação com pacientes de hemodiálise

A médica responsável pelo setor de hemodiálise da Santa Casa de Misericórdia, Leda Borges, tem uma grande preocupação com a qualidade da água. O intuito, explica, é de salvaguardar a vida dos pacientes.

Em 1996, em Caruaru, Pernambuco, morreram 56 pessoas em tratamento e o temor era nesse sentido. “A Superintendência da Corsan garantiu que a barragem está livre de captação de alguma toxina produzida pelas algas, não havendo risco aos pacientes”, disse. Como moradora na praia, contudo, Leda reclama do mal-estar: “O cheiro entra nas casas e é insuportável”, destacou.
(Tânia Cabistany/Diário Popular, 10/03/06)

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