Estado rompe relações com a Via Campesina e intima líderes
2006-03-10
O governo do Estado suspenderá toda e qualquer relação institucional com a Via Campesina e com as instituições a ela vinculadas. O anúncio foi feito ontem pelo governador em exercício Antonio Hohlfeldt, após assinar ordem de serviço que será publicada no Diário Oficial do Estado de hoje.
"Se mantivéssemos o diálogo, seríamos coniventes com os atos de vandalismo que integrantes do movimento praticaram no Horto Florestal Barba Negra, em Barra do Ribeiro." Ainda hoje, Hohlfeldt deverá avaliar com o chefe da Casa Civil, Pedro Bisch Neto, e com o titular do Gabinete de Reforma Agrária e Cooperativismo, Vulmar Leite, as repercussões decorrentes da ruptura do relacionamento com a Via Campesina.
Hohlfeldt frisou que a medida tem caráter temporário e atinge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Mulheres Camponesas, o Movimento dos Pequenos Agricultores, o Movimento dos Atingidos por Barragens, a Pastoral da Juventude Rural e a Comissão Pastoral da Terra. Não está descartada a possibilidade de que a decisão tenha conseqüências e desdobramentos envolvendo repasses de recursos e convênios em andamento.
"Nenhum outro governo dialogou como o nosso com a Via Campesina e a resposta foi uma atitude hedionda contra uma unidade da Aracruz Celulose", enfatizou.
O chefe de Polícia, delegado Acelino Marchisio, foi orientado a responsabilizar todas as pessoas que, após a invasão do horto florestal, se declararam integrantes da coordenação da Via Campesina e dos movimentos que a integram. Para agilizar os procedimentos, todos serão intimados a se apresentar à Polícia Civil por intermédio de editais que devem ser publicados nos jornais do RS. "Se não comparecerem, serão indiciados à revelia", advertiu.
O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Airton Santos da Costa, também recebeu orientações especiais. "A Via Campesina não terá espaço para praticar seus atos hediondos no RS, pois será acompanhada de cima pela BM", disse Hohlfeldt, ressaltando que o acompanhamento ocorrerá inclusive em rodovias federais. Ontem mesmo, nas BRs 290 e 386, foi deflagrada fiscalização de ônibus que levavam militantes de movimentos sociais e de sindicatos.
Na Capital, PMs foram postados junto a empresas e instituições que teriam recebido ameaças. A Procuradoria-Geral de Justiça acompanhará as investigações da Polícia Civil . O órgão também abriu procedimento investigativo para apurar as circunstâncias da invasão ocorrida quarta-feira.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, reiterou ontem que atos como os praticados em Barra do Ribeiro devem ter suas conseqüências tratadas com rigor no âmbito do Judiciário. "É inaceitável substituir o argumento pela destruição violenta e a troca de idéias pela intolerância", assinalou. Apesar dos incidentes registrados no horto florestal, está mantido o lançamento, hoje, em Barra do Ribeiro, do Programa de Qualificação de Mão-de-Obra Florestal, desenvolvido pela Aracruz Celulose e pelo Senar.
(CP, 10/03/06)