Cientistas alertam que óleo vegetal puro não é biodiesel
2006-03-10
A utilização de óleo vegetal - seja de soja, girassol ou qualquer outro -
diretamente em motores do ciclo diesel causa problemas que a maioria das pessoas
desconhece. Isso porque biodiesel e óleo vegetal são dois produtos totalmente
diferentes. O biodiesel é um óleo vegetal modificado por meio de uma reação
química com álcool. Já óleo bruto sem tratamento adequado, ao ser usado, não é
totalmente queimado e gera resíduos nos bicos injetores e em outras partes do
veículo. O motor funciona, mas pode apresentar problemas ao longo do período de
uso, e seu desempenho pode ficar prejudicado.
“Recebemos consultas de todo o Brasil sobre o uso de óleos vegetais em motores, e
não sobre biodiesel”, afirma o gerente da Divisão de Biocombustíveis do Tecpar,
Bill Jorge Costa. De acordo com o químico, muitos agricultores estão utilizando
óleo vegetal em máquinas agrícolas e veículos utilitários, seja puro ou misturado
com diesel comum, em alguns casos com a adição de álcool ou querosene. “É uma
prática comum em vários estados por ser mais econômica, pois se torna mais barato
para o produtor o óleo obtido em sua propriedade do que a compra de diesel nos
postos. Entretanto, a exigência de uma manutenção freqüente torna a prática mais
onerosa”, completa Costa.
Para confirmar, o engenheiro cita um experimento tratando exatamente da aplicação
de óleo vegetal em tratores realizado na Alemanha, entre 2000 e 2005. Técnicos da
Universidade de Rostok monitoraram 107 tratores fabricados em série e convertidos
para uso de óleo de canola e realizaram testes com eles. Mesmo convertidos, 41%
dos tratores (44 tratores) apresentaram avarias graves, com altos custos de
manutenção. Atualmente, 29 tratores desse grupo continuam sendo movidos a óleo de
canola após a conclusão do projeto e 15 unidades foram reconvertidas para uso de
diesel convencional. Os demais 63 apresentaram pequenos problemas. A conclusão a
que os pesquisadores chegaram foi de que, nesse experimento, não foi possível
obter um funcionamento dos motores sem avarias, independente de marcas e modelos.
Entre os principais problemas enfrentados, estavam perdas de rendimento, válvulas
de escape emperradas, sistema de injeção defeituoso, entupimento de filtros,
problemas de partida a frio e danos na câmara de combustão. O projeto demonstrou
ainda que diversos parâmetros devem ser considerados na questão do uso de óleo
vegetal, como a qualidade do óleo usado, que deve ser normatizada e assegurada.
Aspectos relacionados à qualidade do óleo lubrificante e os intervalos de troca
também são importantes.
Por isso, os técnicos da Divisão de Biocombustíveis/Centro Brasileiro de
Referência em Biocombustíveis recomendam cautela no uso de óleo vegetal até que
se tenham dados experimentais suficientes para informar, entre outras coisas,
qual deve ser a qualidade do óleo a ser usado como combustível, em que proporção
ele pode ser usado em mistura com diesel e quais adaptações são necessárias nos
motores. Tudo de acordo com a realidade nacional, ou seja, com base nas
características dos diferentes tipos de óleos vegetais, modelos de tratores,
sistemas de injeção etc. “Consideramos o uso de óleo vegetal como combustível uma
prática de grande potencial em nosso país e somos favoráveis a ela, entretanto
repetimos que é necessária cautela para substituir diesel, parcial ou totalmente,
sem riscos técnicos e financeiros, principalmente para o pequeno agricultor”,
conclui o pesquisador.
Centro de Biocombustíveis
A Divisão de Biocombustíveis do Tecpar presta serviços voltados ao controle da
qualidade de biocombustíveis, combustíveis e lubrificantes derivados do petróleo,
de acordo com as normas da Agência Nacional do Petróleo - ANP. O instituto é sede
também do Centro Brasileiro de Referência em Biocombustíveis (Cerbio) implantado
por meio de um convênio de cooperação entre a Secretaria de Estado da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior do Paraná e o Ministério da Ciência e Tecnologia. O
Cerbio promove a pesquisa, o desenvolvimento da produção e uso de biocombustíveis,
e avalia a sua viabilidade e competitividade técnica, econômica, social e
ambiental.
Buscando constantemente aprimorar seus conhecimentos, a equipe da unidade, com
experiência e a tradição de mais de 20 anos de trabalhos realizados na área de
biocombustíveis, pesquisa, desenvolve, analisa e testa combustíveis alternativos
e de fontes renováveis, como os derivados de ésteres de óleos vegetais
(biodiesel), e monitora o uso do MAD8, uma combinação de diesel, álcool e
derivado do éster de óleo de soja, na frota cativa de transporte coletivo de
Curitiba. Além disso, encontram-se em desenvolvimento experimentos de uso e
produção de hidrogênio a partir da biomassa de resíduos vegetais, etanol e água.
O Cerbio foi escolhido pelo governo federal para ser um dos executores do Programa
Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, que reúne cerca de 30 instituições,
entre institutos de pesquisa, universidades, empresas privadas e organizações
setoriais vinculadas à indústria automotiva.
(Governo do Paraná, 09/03/06)
http://www.agenciadenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=18922