Florestas são tema de debate em Santa Maria
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2006-03-09
Madeira! O grito dos lenhadores sempre foi um alerta do perigo de uma árvore que
cai. Hoje, no Rio Grande do Sul, discute-se apaixonadamente os perigos que o
plantio industrial de florestas pode causar. Os gritos a favor e contra a
iniciativa que mudará o panorama do pampa começam a ganhar força.
Ontem (08/03), em Barra do Ribeiro, militantes da Via Campesina (organização
mundial de movimentos sociais), invadiram uma área da Aracruz Celulose para
protestar contra o plantio de florestas na Metade Sul, considerada pela
organização como a "invasão do eucalipto". Pelo menos 8 milhões de mudas foram
destruídas. A direção da empresa lamentou a invasão e disse que apenas 2% do
Estado têm plantação de eucalipto.
Hoje, o palco da discussão das florestas estará montado em Santa Maria. O reitor
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Clóvis Lima, receberá, às 9h, o
diretor florestal da divisão da América Latina da Stora Enso, João Fernandes, e
técnicos da multinacional sueco-filandesa. Eles apresentarão o projeto da empresa
para florestas e uma fábrica de celulose no Estado.
Duas outras empresas já anunciaram investimentos em florestas para produzir
celulose (matéria-prima do papel) e compraram terras na Metade Sul. As
conseqüências sociais, econômicas e ambientais das florestas dividem
especialistas.
- O impacto das florestas é grande. A única forma de evitar é fazer um zoneamento,
selecionando as áreas apropriadas - diz o engenheiro florestal José Sales
Mariano da Rocha, coordenador geral do Centro Internacional de Projetos
Ambientais da UFSM.
Há cinco anos, Rocha fez uma pesquisa semelhante na Argentina, onde a lei exige o
estudo do impacto ambiental. A lei brasileira é mais flexível, por isso a
necessidade do estudo também aqui.
- O primeiro passo é o zoneamento, que não demora e a universidade pode fazer. Se
não for feito, vão jogar o problema para o futuro - alerta Rocha.
Ecologia e economia juntas
Para o professor do Departamento de Ciências Florestais da UFSM, Mauro Valdir
Schumacher, que há 15 anos estuda o impacto de florestas, a ecologia não põe de
lado a economia:
- Não adianta preservar as gramíneas do pampa e o gaúcho morrer de fome. Temos
de fazer um florestamento planejado. O zoneamento deve incluir também a
agricultura.
O professor diz que não se imagina um empreendimento hoje que não leve em conta
as variáveis ambientais.
- É o que a Votorantim já faz e o que a Stora Enso com certeza fará. Mas não
vivemos sem papel - polemiza Schumacher.
(Diário de Santa Maria, 09/03/06)