Empresa de celulose nega que plantação de eucalipto seja "deserto verde"
2006-03-09
A empresa de celulose Aracruz afirma que aproximadamente um milhão de mudas prontas para o plantio, sementes para pesquisa e materiais genéticos foram destruídos durante a ocupação de 2 mil trabalhadoras rurais e agricultoras em uma unidade localizada em Barra do Ribeiro (RS), na madrugada de ontem (08).
O gerente regional florestal da empresa, Renato Rostirolla, rebateu a acusação de que a empresa constrói um "deserto verde" ao substituir a vegetação nativa e a agricultura por eucaliptos. O gerente florestal afirmou que a área ocupada por florestamento hoje na metade sul é em torno de 0.75 % da área total e 1.7% do estado do Rio Grande do Sul. " Se forem aprovados todos os investimentos previstos para as indústrias, Stora Enso, Votorantim e Aracruz, a área para o deserto verde iria aumentar para aproximadamente 2.5%, quase nada em relação a grande área existente nessa região."
Rostirolla disse ainda, que a empresa convive pacificamente sem competir com a pecuária e com a agricultura. "Tem espaço suficiente para todos. Como prova disso temos um contrato de parceria com os indígenas que põem o gado dentro de nossos plantios. Mas, como houve invasão e manutenção de vigias em cativeiro, teremos de agir para que casos como esses não se repitam."
O gerente diz ter ficado surpreso com a ocupação de uma área que é produtiva. "Os laboratórios foram completamente destruídos e cerca de 400 mil dólares foram perdidos em materiais genéticos. "Soubemos que as agricultoras queriam protestar contra o agronegócio e estão atacando empresas de grande porte, que não produzem alimentos na floresta", explica.
A Via Campesina, rede mundial de trabalhadores rurais, diz que a plantação de eucaliptos para a indústria de papel e celulose prejudica a biodiversidade. Mas, de acordo com Rostirolla, "faltam informações para essas trabalhadoras". Segundo ele, para cada dois hectares plantados, a Aracruz preserva 1 hectare. "Isso significa que do total da área que a empresa utiliza para o cultivo de eucaliptos, 33% é de área de preservação. É bem acima do exigido, que é 20% de preservação. Além disso, nós temos o Selo Verde e certificações que garantem aos nossos clientes que trabalhamos de maneira sustentável," ressalta.
Rossetto critica manifestação de mulheres na Aracruz e empresa diz que ação foi de vandalismo
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, divulgou nota há pouco condenando a ocupação de instalações da empresa Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (RS). A ação foi realizada na madrugada de hoje (8) por cerca de 2 mil mulheres ligadas a movimentos sociais da rede internacional Via Campesina.
"Ao condenar a atitude do movimento, Rossetto salientou que ações dessa natureza nada têm a ver com o programa de reforma agrária, e, portanto, este é um assunto que deve ser tratado pelo Poder Judiciário", diz a nota do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). "Para Rossetto, essa ação não reflete o ambiente de debate e troca de experiências que está ocorrendo desde o início da semana na 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural."
A Aracruz Celulose mantém em Barra do Ribeiro uma instalação destinada à pesquisa genética e produção de mudas de árvores utilizadas na indústria de celulose e papel, como eucaliptos e pinus. Segundo nota da empresa, também divulgada hoje, houve vandalismo e intimidação dos seguranças da instalação durante a ação. "Os seguranças do local foram rendidos e os manifestantes, ameaçando os empregados, destruíram parte do viveiro e o laboratório de pesquisa da empresa", diz a nota.
A empresa não divulga valores dos prejuízos, mas inclui entre os equipamentos e materiais destruídos cerca de 1 milhão de mudas, além de sementes, computadores e pesquisas que, segundo a empresa, eram resultado de 15 anos de trabalho.
"[A empresa] acredita que não se trata de um ataque específico à empresa, mas à atividade da silvicultura em todo o território do Estado e ao agronegócio brasileiro como um todo. A Aracruz já iniciou os trabalhos de recuperação do viveiro e está dialogando com órgãos competentes e governo para tomar as medidas necessárias, em defesa de seus direitos", segue o texto. "E lamenta os atos de vandalismo, de intimidação e de invasão de propriedade privada, que considera uma afronta aos princípios democráticos e ao estado de direito."
(Radiobras, 08/03/06)