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2006-03-09
A megadiversidade brasileira também se manifesta com destaque nos vertebrados. Mas esses, apesar de formar o grupo zoológico mais bem conhecido no país, ainda oferecem muitas lacunas de conhecimento.

“Entre os mamíferos, aves e parte dos répteis, quase todas as espécies brasileiras estão descritas”, conta Paulo Prado, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ainda assim, o pesquisador ressalta que há muito a ser feito.

Segundo Prado, existem grandes dúvidas de conhecimento básico. “São informações essenciais para o manejo e para a conservação dessas espécies. Ainda é preciso conhecer, em alguns casos, dados sobre a distribuição geográfica original e atual, sobre a ecologia e sobre o comportamento”, explica.

A partir da sistematização de todo o conhecimento básico, será mais fácil implantar políticas de conservação, diz o pesquisador, que colaborou com o documento Avaliação do estado do conhecimento da diversidade biológica do Brasil entre os vertebrados, feito a pedido do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O relatório também é assinado por José Sabino, da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp). Em março, entre os dias 20 e 31, novos documentos sobre o assunto serão apresentados pelo MMA na 8ª Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 8), em Curitiba.

“Os vertebrados devem ser considerados grupos prioritários para a conservação. Eles são maiores e mais complexos que os demais animais, mas também são mais vulneráveis à alteração dos hábitats e à poluição, por exemplo”, explica Prado.

Outro problema é a pressão antrópica direta. Grande parte dos vertebrados é alvo de atividades variadas de extrativismo, como caça, pesca e captura. “Por isso, além de medidas gerais de conservação, como a criação de reservas, devem existir ações específicas para reduzir pressões sobre as populações de vários vertebrados. Do contrário, teremos reservas vazias”, afirma o pesquisador.

Vertebrados desconhecidos
Entre os vertebrados, assim como plantas e demais animais, há muitos grupos ainda desconhecidos, que precisam ser mais bem investigados do ponto de vista científico. “Entre os peixes, pelo menos metade das espécies ainda está para ser descrita”, explica Paulo Prado. Há lacunas taxonômicas também nos anfíbios e em alguns grupos de serpentes e lagartos.

“É preciso acelerar os trabalhos de descoberta e de descrição de novas espécies. Isso implica estimular inventários por todo o país, fomentar museus e coleções científicas e, principalmente, criar programas de incentivo à formação e contratação de taxonomistas, com o que foi iniciado pela Capes”, diz o pesquisador da Unicamp. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) lançou em 2005 um programa para estimular a formação de mestres e doutores em filogenia.

Se todas as medidas propostas no relatório forem seguidas, os números poderão mudar mais rapidamente nos próximos anos. Por enquanto, eles são ainda considerados modestos pelos próprios autores do relatório para o MMA. Em termos de espécies descritas, o quadro é o seguinte: peixes com 4.450, anfíbios com 600, répteis com 468, aves com 1.668 e mamíferos com 525.

“Em síntese, com maior ou menor intensidade, todos os biomas brasileiros apresentam notáveis lacunas de conhecimento de vertebrados”, dizem os pesquisadores. Áreas como a Caatinga, apesar de um esforço recente realizado por pesquisadores de várias instituições brasileiras, ainda são bastante desconhecidas.
Por Eduardo Geraque, Agência FAPESP

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