Dois mil militantes ligados à Via Campesina e ao MST, a maioria mulheres, invadiram ontem o Horto Florestal Barba Negra, pertencente à Aracruz Celulose, destruíram estufas, inutilizaram pelo menos 1 milhão de mudas de eucaliptos e depredaram um laboratório de melhoramento genético. A ação ocorreu ontem em Barra da Ribeiro, a 60 quilômetros de Porto Alegre.
Os invasores chegaram às 5h30min, renderam e trancaram os dois vigilantes num dos 37 ônibus e rasgaram plásticos e telas das estufas com facas amarradas na ponta de taquaras. Mesmo afirmando que a manifestação era pacífica, os invasores empunharam também foices, facões e porretes e cobriram os rostos com lenços.
Falando como porta-voz da Via Campesina, Luci Piovesan alegou que a invasão representou a indignação das mulheres do campo pelos incentivos concedidos à agricultura empresarial e à expansão da indústria da celulose.
"Há trabalhos de 20 anos de melhoramento genético que foram perdidos", lamentou o gerente regional florestal da Aracruz, Renato Rostirolla. Segundo ele, a invasão poderá prejudicar o RS na disputa para sediar uma nova unidade da empresa, que terá investimento de US$ 1,2 bilhão.
O governador em exercício Antonio Hohlfeldt qualificou o ato de "provocação e bandidagem". Ele manifestou sua desconfiança de que alguma instância da área federal de segurança tenha sonegado informações ao governo do Estado ou mesmo aos seus próprios órgãos. Lembrou que caberia à Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitorar a movimentação da BR 116, por onde os ônibus transportando os manifestantes transitaram, mas a PRF informou que os 37 ônibus trafegaram por estradas secundárias.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, considerou violenta a ação em Barra do Ribeiro, acrescentando que deve ser tratada "no âmbito do poder Judiciário".
Depois da depredação do Horto Florestal, os manifestantes participaram de uma marcha na Capital. No final da caminhada, na entrada da PUCRS, onde se realiza uma conferência da ONU sobre reforma agrária, romperam uma barreira da Brigada Militar, com muita troca de empurrões.
Em Coqueiros do Sul, onde 2 mil invasores do MST estão desde o dia 28 de fevereiro na Fazenda Coqueiros, a Brigada Militar bloqueou o deslocamento de cerca de 300 sem-terra que iam da área onde montaram acampamento para a sede da fazenda, a 1,5 mil metros de distância. Os policiais militares tiveram que usar bombas de fumaça e balas de borracha para conter os invasores.
(CP, 09/03/06)
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