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2006-03-08
O gás natural será a segunda principal fonte energética do Brasil a partir de 2010, deixando para trás o álcool e a eletricidade, prevê o diretor do Conselho Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. "Tanto o gás natural quanto o álcool ocuparão posição de destaque na matriz energética brasileira nos próximos anos, com ligeira vantagem para o primeiro", diz Pires. Por sua análise, o avanço dos dois combustíveis ocorrerá em detrimento sobretudo do petróleo, que desde 1973 ocupa o topo do ranking das principais fontes de energia do País.

Segundo estimativa do CBIE, a participação do gás natural na matriz saltará de 8,9% em 2004 (último dado disponível) para 14,7% em 2010. Com isso, o combustível, que detinha a quinta posição em 2004, assumirá a vice-liderança, à frente do álcool, eletricidade, lenha e carvão vegetal.

Pires atribui o avanço do gás natural à exploração de novas reservas e ao fato de ser mais eficiente e menos poluente que os demais combustíveis fósseis.

Mauricio Tolmasquim, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), não arrisca previsões sobre a participação futura das fontes, mas diz não ter dúvidas de que o gás será "uma das vedetes" da matriz energética. "O importante é dizer que os dois combustíveis (gás e álcool) pouco concorrem entre si, o que colabora para o crescimento de ambos e para a maior diversificação da matriz energética." Ontem (07/03), o governo enviou ao Congresso o projeto da Lei do Gás, que prevê novas regras para o setor.

Em quatro anos, o gás natural será a segunda principal fonte energética do Brasil - atrás apenas do petróleo e seus derivados -, ultrapassando até mesmo o álcool, outro combustível em ascensão e com futuro promissor no País. A previsão é do diretor do Conselho Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adriano Pires, que também projeta um importante ganho de participação do combustível derivado da cana até 2010, porém, não o suficiente para mantê-lo à frente do gás.

"Tanto o gás natural quanto o álcool ocuparão posição de destaque na matriz energética nos próximos anos, com ligeira vantagem para o primeiro", diz Pires, acrescentando que o avanço dos dois combustíveis no País ocorrerá em detrimento sobretudo do petróleo e seus derivados, setor que este ano comemora o alcance da auto-suficiência, ajudada, em parte, pelo aumento da demanda por fontes alternativas.

Segundo estimativa do diretor do CBIE, a participação do gás natural na matriz energética brasileira saltará de 8,9%, em 2004 (último dado disponível), para 14,7%, em 2010. Com isso, o combustível, que detinha a quinta posição no ranking energético de 2004, assumirá a vice-liderança, desbancando não só os derivados da cana, mas também as fontes hidráulica e eletricidade e lenha e carvão vegetal - setores que, assim como o petróleo, irão perder terreno ao longo dos próximos anos, na avaliação de Pires. "Desde 2000, o mercado doméstico de gás cresce a uma taxa média superior a 15% e essa tendência deve ser mantida nos próximos anos", afirma Pires, que atribui a expectativa de crescimento do energético principalmente à exploração de novas reservas existentes no País e ao fato de ele ser mais eficiente e menos poluente que os demais combustíveis fósseis.

Álcool na terceira posição
Com comportamento semelhante ao do gás natural, os derivados da cana irão manter a trajetória de crescimento consecutivo de participação na matriz energética iniciada a partir de 2001, ano que marcou a recuperação definitiva do setor após forte crise registrada no fim da década de 90, quando as vendas de automóveis a álcool caíram para níveis próximos de zero. Conforme projeção de Pires, o segmento de produtores da cana responderá, em 2010, por 14,3% de toda a oferta de energia direcionada ao mercado interno, participação levemente inferior à taxa esperada para o gás (14,7%) e 0,8 ponto percentual acima do percentual registrado em 2004, de 13,5%.

No entanto, pelas previsões do CBIE, os derivados de cana irão se manter na terceira colocação do ranking geral, apesar do ganho de participação. A diferença é que, em 2004, o setor ficou atrás de hidráulica e eletricidade (14,4%) e, em 2010, irá perder a posição para o gás. Ainda pelas projeções de Pires, lenha e carvão vegetal e hidráulica e eletricidade perderão, no período, 0,6 ponto e 3,4 pontos percentuais, respectivamente, ficando com 12,6% e 11% do mercado geral.

O gás natural também terá papel de destaque no segmento de geração de eletricidade, de acordo com o diretor do CBIE. Entre 2004 e 2010, ele prevê para o combustível um ganho expressivo de oito pontos percentuais na matriz de geração de energia elétrica - a sua participação nessa área de atuação aumentará de 5% para 13,1%, avanço bem superior ao previsto para o bagaço da cana, que saltará de 1,8% em 2004 para 2% em 2010. Para Pires, a crescente demanda por energia elétrica e a manutenção dos baixos investimentos em geração hidráulica - tendência verificada a partir da década de 90 - são alguns dos fatores que explicam a maior utilização do parque de térmicas a gás natural no atendimento do mercado de eletricidade.

Petróleo perde espaço
Já o petróleo e derivados, seguindo a tendência das últimas três décadas, continuarão cedendo espaço na matriz energética e irão chegar em 2010 com 35,5% de participação no ranking geral, um recuo de 3,6 pontos percentuais sobre 2004 (39,1%) e de 14,5% na comparação com 1978, quando o setor dominava mais da metade da oferta de energia no País.

Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, diz não ter dúvidas de que o gás natural será, no futuro próximo, "uma das vedetes" da matriz energética do País. No entanto, ele prefere não fazer previsões sobre a participação futura de cada uma das fontes energéticas. Mas arrisca um palpite. "Levando-se em conta o bom desempenho do setor nos últimos anos e sua posição atual no ranking energético, acho difícil o álcool ser superado pelo gás", avalia.

Para o presidente da EPE, independentemente da posição ocupada, o importante é ressaltar que os dois combustíveis pouco concorrem entre si, o que colabora para o crescimento de ambas as fontes e, ao mesmo tempo, para a maior diversificação da matriz energética brasileira e, consequentemente, uma menor dependência dos tradicionais combustíveis fósseis. "Enquanto o destino do álcool está concentrado no mercado automotivo e nas exportações, o gás natural tem como principal cliente o setor industrial, que, sozinho, responde por quase 60% do consumo total do combustível", compara.

Tolmasquim chama a atenção para o tamanho dos investimentos previstos pelos dois setores para os próximos anos, recursos que, para ele, serão suficientes para garantir, no futuro, o abastecimento do mercado. "Os desembolsos serão bastante significativos, o que afasta qualquer perigo de desabastecimento nesses dois setores", ressalta.

Para a cadeia de gás natural, a Petrobras e seus parceiros planejam aporte total de US$ 16 bilhões até 2010, incluindo a área internacional, sendo US$ 8,8 bilhões em exploração e produção, US$ 5,5 bilhões na instalação de gasodutos e o restante, US$ 1,7 bilhão, aplicado nas termoelétricas da estatal e também na distribuição. Porém, os valores citados acima não incluem os gastos de US$ 18 bilhões que serão direcionados para projetos em pólos produtores da bacia de Santos, a menina dos olhos da estatal, descoberta em 2003 e com reservas comprovadas de 419 bilhões de metros cúbicos.

Consumo vai crescer 140%
Com os novos projetos em andamento, a Petrobras estima que o consumo de gás no Brasil alcance os 100 milhões de metros cúbicos em 2010 - que seriam supridos com a produção atual, importações e a oferta gerada na bacia de Santos -, um crescimento de quase 140% sobre o volume alcançado em 2005, de 42 milhões de metros cúbicos. Já a partir do segundo semestre de 2008, a companhia espera acrescentar ao mercado 12 milhões de metros cúbicos de gás por dia produzido na bacia de Santos. Até o final de 2010, esse volume deverá elevar-se para 30 milhões de metros cúbicos/dia, contribuindo, de acordo com a Petrobras, para reduzir a dependência nacional do gás importado.

Para o setor sucroalcooleiro, de acordo com previsão da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, estão previstos investimentos de R$ 14,3 bilhões até a safra 2010/2011, montante que será aplicado na reativação e construção de 73 usinas no País. Caso as projeções se concretizem, o parque sucroalcooleiro do Brasil saltará das 343 usinas para 416 na temporada 2010/2011, enquanto a capacidade de moagem de cana terá acréscimo de 50%, dos atuais 379,7 milhões de toneladas anuais para 574 milhões. Nesse mesmo intervalo de tempo, estima-se que a demanda brasileira por etanol crescerá dos atuais 16 bilhões de litros/ano para 26 bilhões de litros, uma elevação de 2 bilhões de litros ao ano, em média. Além disso, outros R$ 7,2 bilhões serão destinados para a expansão da área cultivada de cana.

Um dos termômetros que demostram o maior interesse pelos mercados de gás e álcool está nos financiamentos aprovados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) para o desenvolvimento de novos projetos. Segundo Ricardo Cunha da Costa, gerente de energia do banco, o ano de 2005 marcou a retomada de investimentos do BNDES para o gás, após um período de estabilização na liberação de recursos observado pela instituição entre 2003 e "No ano passado, foram disponibilizados R$ 1,931 bilhão ao setor, valor bem superior aos R$ 159 milhões contabilizados em 2004", compara. Em 2003, o banco havia liberado R$ 120 milhões para projetos ligados ao combustível. A maior parte dos recursos destinados ao segmento em 2005 - cerca de R$ 1,4 bilhão - foi direcionada para a construção de gasodutos, diz o gerente do BNDES.

Para 2006, o banco já contabiliza projetos liberados da ordem de R$ 987 milhões, também a maior parte dos recursos (R$ 770 milhões) reservada para o incremento da malha de gasodutos. "Com as aprovações de novos projetos, os valores devem crescer ao longo do ano", afirma.

Pelas previsões de Tolmasquim, com as obras concluídas, a rede de gasodutos no Brasil vai quase dobrar de tamanho nos próximos dois anos, dos atuais 5,6 mil quilômetros para cerca de 10 mil até 2008.
(GM, 08/03/06)

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