Carvão deve aumentar participação na matriz energética do RS
2006-03-07
A participação do carvão na matriz energética do Rio Grande do Sul deve aumentar de 13% – índice de 2004 – para 23% até 2010. A previsão é da Secretaria de Energia, Minas e Comunicação do Estado. Com maior expectativa de crescimento, mesmo em relação às fontes alternativas de energia – eólica e biodiesel, que devem elevar de 3% para 12% sua composição no mix energético estadual –, o carvão está recebendo atenção especial com a expectativa de concessão das licenças de operação para as termelétricas de Jacuí I e Candiota III.
Segundo a engenheira Christianne Coelho, que atuou no processo original de licenciamento de Jacuí I há mais de 20 anos e acompanhou as primeiras tratativas desde os estudos de viabilidade tecnológica e ambiental desta usina térmica, se for aplicada a tecnologia prevista, do tipo clean coal (carvão limpo), o impacto ambiental será perfeitamente controlável. “O problema é que o carvão gaúcho tem mais de 80% de cinzas em sua composição”, assinala.
Apesar das características químicas não muito promissoras desta fonte energética, o carvão é o alvo preferido das mais recentes apostas em usinas de geração de energia no Estado, basicamente por duas razões: o Rio Grande do Sul comporta 89% das reservas nacionais do minério, o que corresponde a cerca de 28,8 bilhões de toneladas. Santa Catarina conta com 10,5% (3,36 bilhões de toneladas) e o Paraná, com 0,5% (160 milhões de toneladas). Do total das reservas gaúchas, 42,6% encontram-se em Candiota, 29,2% na região do Baixo Jacuí e 28,2% no Litoral. A segunda razão da preferência pelas termelétricas a carvão é climática: o Estado vem atravessando períodos de estiagem rigorosos e cíclicos, o que compromete a geração hidrelétrica, que atualmente compõe 63% do seu mix energético, percentual deverá ser reduzido para 55%. De acordo com o governo, há muita instabilidade nos reservatórios de hidrelétricas da Região Sul, face à redução dos mananciais, especialmente no período de verão.
Atualmente, a capacidade de geração termelétrica no Rio Grande do Sul é de aproximadamente 540 megawatts (MW), sendo 72 MW fornecidos por Charqueadas, 126 MW pela usina de Presidente Médici A, 320 MW por Presidente Médici B e 20 MW por São Jerônimo. Com as novas termelétricas a serem implantadas, haverá um adicional de 1.850MW. Para compor este total, serão produzidos 500 MW por Seival; 350 MW por Jacuí I; outros 350 MW por Candiota III e 650 MW pela usina CTSul, em Cachoeira do Sul.
O governo do Estado acredita que, com este acréscimo, mais o incremento da geração eólica e por biomassa, o Rio Grande do Sul poderá reduzir gradativamente sua dependência energética. Em 2004, o Estado importou do sistema nacional (Eletrobras) cerca de 40% do que consumiu. Este percentual aumentou para 41,2% no ano passado, graças à estiagem verificada nos primeiros meses. Para 2006, a expectativa é que a dependência energética caia para 29.4%, diminuindo ainda mais no ano que vem (17,4%) e em 2008 (6,6%), graças à expectativa de reversão da situação climática vivida em 2005 e aos novos empreendimentos que devem entrar em operação desse período em diante. A auto-suficiência energética gaúcha é meta prevista para o final desta década.
Impactos
Degradação da paisagem; poluição de mananciais por traços de metais; emissões aéreas de compostos de enxofre, nitrogênio e dióxido de carbono; grande volume de geração de cinzas; alteração da qualidade dos solos; emissão de ruídos e poeira. Estes são alguns dos impactos ambientais listados pelo diretor técnico da Fepam, Mauro de Moura, como sendo usuais às atividades de mineração de carvão, necessárias ao abastecimento de termelétricas. De acordo com ele, existem 24 unidades mineradoras de carvão em atividade no Rio Grande do Sul, as quais, juntas, ocupam em torno de 40 mil hectares. Pertencem às empresas Companhia Rio Grandense de Mineração (CRM), Copelmi, Sociedade de Mineração do Cerro Ltda., Carbonífera Criciúma S.A. e Carbonífera Metropolitana S.A.
Levantamentos da Fepam apresentados no Fórum Internacional do Carvão Mineral, realizado no final de novembro do ano passado, em Porto Alegre, dão conta de que a unidade Presidente Médici (Candiota B) é a que mais emite compostos de enxofre (SOx) e nitrogênio (NOx) por quantidade de energia gerada, relativamente à outras térmicas que operam no Estado. O diretor técnico da fundação assinala que as tecnologias de controle ambiental existentes hoje para as térmicas a carvão são a redução catalítica seletiva, a precipitação eletrostática e a dessulfurização. Conforme ele, é possível reduzir significativamente as emissões de Sox, NOx e material particulado com as chamadas tecnologias clean coal.
Maior disponibilidade
Em que pesem os receios sobre impactos ambientais pelo uso do carvão mineral, há uma tendência mundial ao aumento de uso desta fonte. Uma das razões, de acordo com o diretor de Produção de Energia da Tractebel, José Carlos Cauduro Minuzzo, é a maior disponibilidade de reservas de carvão comparativamente com outros combustíveis fósseis. A disponibilidade, afirma, é a relação entre reservas e produção. Ela é atualmente de 40 anos para o petróleo, de 70 anos para o gás natural e de 190 anos para o carvão.
O Brasil consome 17 bilhões de toneladas de carvão mineral, mas a exploração é bem menor, da ordem de 5 milhões de toneladas. Para atender à demanda interna, o Brasil importa 12 milhões de toneladas do minério. Grande parte – de 70 a 79% – é consumida pela indústria siderúrgica, em operações em altos fornos. O Brasil utiliza muito pouco o carvão para gerar eletricidade: apenas 12,5% do consumo do mineral vão para esta finalidade no país, contra 69% no resto do mundo.
Minuzzo assinala que o uso do carvão para geração de eletricidade, em nível mundial, deverá aumentar de 69% de participação total no composto energético para 79%, até 2030. Apesar disto, “as usinas hidrelétricas ainda são a opção mais barata de geração de energia no país, e continuarão sendo por um bom tempo”, afirma o diretor. Contudo, há uma tendência de reversão dessa realidade, de modo que as hidrelétricas tornar-se-ão uma alternativa gradativamente mais cara, num horizonte de algumas décadas. Minuzzo argumenta que as termelétricas não vão competir com as hidrelétricas, mas já competem com a geração de gás natural e com as fontes eólicas e de biomassa, bem como com pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Por Cláudia Viegas