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2006-03-06
Os caroços de azeitona, resíduos produzidos em grande quantidade na Espanha, a maior produtora mundial de azeite de oliva, são utilizados em Madri como combustível para calefação como um recurso renovável e de baixo custo, que entretanto os ecologistas temem. Por trás da porta de um sótão do edificio situado no número 12 do Paseo de la Habana, no centro de Madri, um leve cheiro acre de azeitona impregna a atmosfera. Um sistema de calefação de alumínio aspira sem descanso toneladas de caroços de azeitonas, armazenados em um silo, para um forno onde são transformados em brasas que geram energia suficiente para aquecer 16 apartamentos e escritórios.

"A qualidade da calefação é elevada e dura mais do que o gás natural ou o carvão, suja menos que o carvão, os custos são mais baratos e é um produto nacional que acaba com a nossa dependência das flutuações do petróleo", assegura o presidente da associação de condôminos, Jorge Tudel.

Eles preferiram este sistema quando tiveram de pôr em funcionamento o antigo sistema de calefação a carvão. A empresa contactada, a Calordom, que trabalhava reciclando caroços de azeitonas, de avelãs ou sementes de uva, dependendo da temporada, ofereceu seus serviços aos proprietários, que rapidamente se convenceram.

A possibilidade de receber uma subvenção do município de Madri, que há dois anos estimula a instalação deste tipo de energia renovável, também pesou na decisão. A contribuição pública representou 20% do total de investimentos de € 100 mil. Em 2005, o primeiro ano de funcionamento, os custos da calefação foram de € 17 mil para todo o edifício, em comparação com € 23 mil quando a calefação era a carvão, ou seja, 30% a menos.

O imóvel é um dos 300 edifícios da capital espanhola que passaram a queimar caroços de azeitona, segundo Cabello, o gerente da Calordom que tinha um funcionário quando começou a operar, em 2001, e agora tem 15. "Esta energia é 100% limpa; um quilo de caroços queimados, que na realidade é madeira prensada de maneira natural, emite a mesma quantidade de gás carbônico que emitiria se os caroços fossem deixados apodrecer", diz Cabello.

"A utilização de madeira prensada artificialmente existe na Áustria há 15 anos, assim como na França e na Alemanha. Na Espanha, a mentalidade ecológica ainda está pouco desenvolvida", segundo ele. Cabello lembra que "há olivais desde os Pirineus até a baía de Cádiz" na Espanha. Mas a energia das azeitonas continua sendo "insignificante" na Espanha, em comparação com a gerada pelo gás natural, o petróleo e o carvão.

E precisa continuar assim, advertem os ecologistas, que prevêem todos os riscos de uma falsa boa idéia se seu uso se generalizar. Neste caso, os cultivos energéticos seriam "intensivos, o que suporia a utilização elevada de adubos derivados do petróleo, a utilizaçao de máquinas que precisariam de mais petróleo e, neste caso, o saldo energético já não seria positivo", explica Sara Pizzinato, do Greenpeace.

Um uso excessivo da biomassa queimada em quantidade e não reincorporada ao ciclo do carbono pode também ter efeitos inversos aos buscados para o meio ambiente: empobrecimento dos solos, desertificação e mudança climática, advertem os ecologistas.
(AFP, 06/03/06)

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