Eucalipto pode substituir madeiras tradicionais na indústria moveleira
2006-03-06
O eucalipto pode ser uma alternativa para a indústria moveleira. Além de
apresentar alto rendimento possui aspectos favoráveis para a construção
de móveis. "O maior obstáculo é a crença de que sua madeira seja de
baixa qualidade, já que mais de 90% do que está disponível no mercado
foi manejado objetivando a produção de celulose e papel", conta a
pesquisadora Camila Doubek.
A pesquisadora, que há seis meses estuda as propriedades físicas,
mecânicas, usinabilidade (desempenho da madeira ao ser serrada, lixada,
aplainada, etc.) e acabamento do eucalipto, informa que a idade ideal da
madeira para a fabricação de mobiliário é de 18 anos.
"Para a celulose, são aproximadamente sete anos", explica, lembrando
que, neste caso, a madeira não possui as características necessárias
para a fabricação de móveis. "É muito porosa. Devido a presença de alta
percentagem de madeira juvenil, apresenta diâmetro reduzido, muitos nós
e racha facilmente", descreve. Já para a indústria de celulose, essas
características não são importantes, uma vez que a madeira será reduzida
a fibras.
Camila conta que espécies nativas da Amazônia, que há muito tempo são
usadas na fabricação de mobiliário, como a cerejeira e o pau-marfim,
estão em extinção e são protegidas pelo IBAMA. "Já em relação ao
eucalipto, temos a maior área plantada do mundo". E além de ser
reflorestável, "o que gera um apelo ecológico", está pronto para ir à
serraria em até 15 anos, enquanto as árvores nativas requerem
aproximadamente 50 anos. Outras vantagens são a diversidade de cores,
desenhos e a padronização de alguns aspectos de qualidade da madeira.
Tendência inevitável
Outro ponto fundamental a se pensar são os altos custos de transporte da
área de produção até as fábricas, e como o pólo moveleiro do Brasil é no
Sudeste, é melhor aproveitar cultivos da região. A concentração de
plantios florestais de eucalipto nos Estados de Minas Gerais e Espírito
Santo já tem resultado no surgimento de pólos moveleiros baseados
unicamente neste gênero. "Em Minas surgiu recentemente um pólo no Vale
do Jequitinhonha, com apoio do SEBRAE, que tem desenvolvido produtos. Em
Linhares (ES) foi estruturado outro pólo para produção de móveis de
madeira de eucalipto", diz a orientadora da pesquisa, professora Adriana
Nolasco.
No entanto, o preço da madeira de eucalipto adequado à fabricação
moveleira ainda é muito alto. De acordo com Camila, não porque seu
cultivo requeira mão-de-obra especializada, mas porque sua técnica de
manejo ainda não é muito difundida.
Essa ainda é a primeira parte da pesquisa, que está sendo realizada no
Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, e que será concluída no
final de 2007. O objetivo é detalhar 3 espécies da planta (E. grandis,
E. urophylla, E. dunii) quanto às suas propriedades físicas, mecânicas,
usinabilidade e aceitação de acabamento. Além de analisar qual é a mais
adequada para móveis, o projeto prevê o estudo de outras 23 espécies. (USP, 5/3)