Ambientalistas alertam para os perigos do Urânio
2006-03-03
A associação Ambiente nas Zonas Uraníferas (AZU) alertou na quinta-feira (02/03) para a necessidade de não serem cometidos "os erros do passado" ao nível do ambiente e saúde pública caso sejam reabertas algumas minas de urânio desactivadas, noticiou a agência Lusa. Em comunicado, a AZU alude a notícias recentes sobre a possibilidade de as minas reabrirem, "sob o pretexto de que, agora, a exploração do urânio voltou a ser rentável, que triplicou de preço desde o ano 2000 e que isso é muito importante para o PIB (produto interno bruto) e para a economia nacional", e também sobre "a inevitabilidade de Portugal ter de recorrer à energia nuclear para a produção de electricidade".
Apesar de reconhecer as dificuldades que o país atravessa com o encerramento de indústrias tradicionais, no emprego e na obtenção de energia, a associação ambientalista questiona se deve aceitar-se "que se retomem actividades mineiras que no passado criaram riqueza, é certo, mas que deixaram um rasto de degradação ambiental de efeitos negativos enormes", como têm demonstrados diversos estudos. "Perante as dificuldades econômicas, a estagnação e até alguma desertificação humana no interior, é possível que apareçam novos investidores, atraídos por novas oportunidades de lucro fácil, aparentemente dispostos a dar às populações e ao país a riqueza e a prosperidade que lhes escapa", acrescenta.
No que respeita a estas questões, a AZU diz que "não tem, nem quer ter, uma posição contra, por sistema". No entanto, quer alertar as populações e as autoridades locais e nacionais para o fato de estarem a anunciar "o paraíso para as zonas onde antes deixaram o purgatório" e exige ser ouvida e participar nos órgãos públicos de consulta obrigatória para projectos deste tipo.
Defende também que devem ser, "pelo menos, minimizados os efeitos no ambiente, na saúde pública, na qualidade das águas de décadas de exploração mineira em 65 minas dos distritos de Viseu, Guarda, Coimbra". "Se ainda não foi feita a recuperação ambiental a que normas europeias e internacionais obrigam, se as populações ainda não foram compensadas pelos efeitos negativos sofridos, como se pode aceitar que se reabram minas com base em simples promessas de que não irão ser cometidos os erros do passado referidos pelos autores dessas notícias?", questiona.
Ainda que, no passado, o funcionamento das minas tenha gerado emprego e atividade econômica, a AZU põe em causa se terá valido a pena, "pesando os custos subsequentes em termos de saúde pública, de poluição de aquíferos e de degradação de vastas zonas destes distritos". As preocupações ambientais referentes à exploração mineira são um dos assuntos em debate no próximo sábado, em Santa Comba Dão, numa conferência sobre a qualidade da água, organizada pela Plataforma para o Desenvolvimento e o Ambiente, de que a AZU faz parte.
(Portugal Diário, 02/03/06)
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=652920&div_id=291