Antártida perde camada de gelo e desertos africanos crescem
2006-03-03
A Antártida perdeu uma parte considerável de sua camada de gelo e as secas aumentaram na África devido ao aquecimento global, segundo dois estudos divulgados na quinta-feira (02/03) pela revista "Science". Ambos os relatórios foram publicados depois de a revista revelar que, pelo mesmo motivo, a quantidade de gelo jogado pelas geleiras da Groenlândia sobre o oceano Atlântico duplicou nos últimos anos.
Pesquisadores da Universidade do Colorado utilizaram os dados dos satélites da Nasa Grace-1 e Grace-2 para determinar o volume de perda sofrida pela camada de gelo da Antártida, que contém 90% da água doce do planeta. Os satélites, enviados ao espaço em 2002 em uma órbita cerca de 500km acima da superfície terrestre, medem as variações mais sutis da massa e gravidade terrestres.
Separados por uma distância permanente de 220km, os satélites medem mudanças regionais no campo gravitacional, incluindo os causados pelo deslocamento de camadas de gelo, dos mares e da água contida em plataformas terrestres ou subaquáticas. A perda sofrida pela Antártida equivale a 150km³ a cada ano, indicou o estudo que, como referência, informou que a cidade de Los Angeles utiliza anualmente o equivalente a 4,1 km³ (4,1 trilhões de litros) de água. "Este é o primeiro estudo que indica que (...) a camada de gelo da Antártida está diminuindo vertiginosamente", afirmou Isabella Velicogna, do Instituto de Pesquisas em Ciências Ambientais da Universidade do Colorado e diretora do estudo.
A camada de gelo cobre ao redor de 98% da Antártida com uma profundidade de dois quilômetros. Uma avaliação realizada pelo Comitê Intergovernamental sobre Mudança Climática determinou em 2001 que essa camada aumentaria sua massa no século 21 devido a um aumento das chuvas como resultado do aquecimento global.
No entanto, segundo Velicogna, o novo estudo, realizado entre abril de 2002 e agosto de 2005, concluiu que a massa de gelo está perdendo volume e que grande parte desse fenômeno ocorreu na camada da Antártida ocidental. "O equilíbrio geral do gelo antártico depende das mudanças regionais no interior e nas zonas costeiras (do continente). As remodelações citadas são provavelmente um bom indicador das condições climáticas em transformação nessa região", disse Velicogna.
Paralelamente, a desertificação aumentou na África, e até o final deste século o continente pode enfrentar uma escassez aguda de água devido ao aquecimento global, segundo previsão dos cientistas da Universidade de Cidade do Cabo (África do Sul). Na África, onde as secas ocorrem regularmente e as pessoas dependem de fontes locais de água, as mudanças provocadas pelo clima "têm implicações potencialmente devastadoras", disseram os cientistas Maarten de Wit e Jacek Stankiewic no estudo divulgado pela "Science".
Em uma análise de rios e lagos do continente antártico e projeções climáticas previstas para o século atual, os cientistas indicam que a menor precipitação pluvial afetará 25% do continente até 2100. Alguns lugares que poderiam sofrer os maiores efeitos da mudança climática são zonas densamente povoadas do sul da África, África ocidental e algumas regiões do Alto Nilo, segundo os cientistas.
Há duas semanas, a mesma revista publicou outro estudo que revelou que o aquecimento global duplicou a quantidade de gelo que os glaciares da Groenlândia despejam sobre o Atlântico. Essa pesquisa coincidiu com outro estudo que, a partir da análise das condições climáticas de milhões de anos na Terra, conclui que nosso planeta está em um processo acelerado de aquecimento.
(EFE, 02/03/06)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14312.shtml