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2006-03-03
É preciso diversificar os investimentos em ciência e tecnologia na Amazônia, hoje concentrados na área de meio ambiente e recursos naturais. A tese foi defendida ontem (2/3) pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, que participa, em Manaus, de um encontro com 50 pesquisadores da região amazônica.

"A pauta ambiental é importante, mas é limitada, não pode ser a única – até porque ela não prospera se as outras não forem contempladas", argumentou Candotti. "Deve-se investir também em engenharia, em saúde, em ciências sociais, nas áreas básicas de química e de física".

O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas, Odenildo Sena, disse que a área de ciências agrárias foi a mais beneficiada com recursos da instituição, seguida da área biológica. "A mais prejudicada foi a área de humanas. E a gente precisa reverter esse quadro, porque temos um laboratório a céu aberto no Alto Solimões e Alto Rio Negro, sem lingüistas para trabalhar com toda essa diversidade cultural", afirmou.

Sena citou a elaboração da gramática Sateré-Maué como exemplo de pesquisa importante que a instituição financiou nesses quase três anos de existência. "Na medida em que você sistematiza uma língua, fortalece seu uso e preserva a cultura daquele povo, fortalecendo o poder do não-branco", disse ele.

Governo pretende aumentar investimentos em pesquisa e tecnologia na Amazônia
O governo federal planeja investir, neste ano, na Amazônia cerca de R$ 120 milhões em pesquisas científicas e tecnológicas. "Em 2004, esse investimento foi da ordem de R$ 50 milhões. Eles mais que dobraram, o que mostra que a intenção de apoiar a ciência e tecnologia na região está se confirmando", afirmou ontem (2) o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, em entrevista à Radiobrás.

"Vamos ver agora se os recursos serão liberados e se serão novamente multiplicados por dois, nos próximos anos", acrescentou Candotti, que está coordenando no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, um encontro de cerca de 50 reitores, pró-reitores e coordenadores de projetos de pesquisa de toda a região. Uma reunião semelhante foi realizada em fevereiro, em Belém.

Até amanhã (4), os cientistas levantarão projetos de pesquisa importantes que estão enfrentando dificuldades para conseguir financiamento. O objetivo é elaborar um dossiê que será entregue, até abril, ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.

"A Amazônia é um enorme laboratório natural e um patrimônio para a ciência. Ela deve virar capital ativo, e não ser apenas objeto de admiração e de cuidados", defendeu Candotti. Segundo ele, para isso, é preciso definir as prioridades de investimento e planejar bem a aplicação dos recursos. "O Brasil investiu bilhões na missão que enviará um astronauta brasileiro ao espaço. Dinheiro existe, mas a gente precisa saber buscá-lo".

Um dos projetos que devem ser incluídos no dossiê que será encaminhado ao Ministério da Ciência e Tecnologia é o da estruturação do Centro de Biotecnologia da Amazônia. "O governo federal já investiu R$ 4,3 milhões em 12 laboratórios que estão em fase de implantação. Dos 100 pesquisadores de alto nível previstos, já temos 78 na instituição", informou a secretária de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Marilene Correa. "Há projetos para mais 12 laboratórios e necessidade de mais 200 cientistas qualificados, acrescentou.

Amazônia precisa de pelo menos mais 9 mil doutores
A Amazônia tem apenas mil pesquisadores com nível de doutorado, quando o ideal seria que esse número fosse de pelo menos 10 mil doutores. A afirmação foi feita hoje (2) pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti. Ele está em Manaus coordenando uma reunião entre 50 pesquisadores de toda a região, com o objetivo de elaborar um dossiê com projetos de pesquisa relevantes que necessitem de financiamento.

"Não é fácil encontrar os 9 mil doutores que faltam. É preciso uma política de formação para que isso se resolva em cinco ou seis anos", afirmou o físico Ennio Candotti. Ele informou que o país todo tem cerca de 40 mil doutores, metade dos quais vive e trabalha na Região Sudeste.

"É preciso formar as pessoas aqui mesmo, porque, quando os jovens saem para estudar, eles dificilmente voltam", disse Candotti. "É necessário também equipar os institutos de pesquisa da Amazônia. No Centro-Sul do país, isso aconteceu há 20 anos, e foi fruto de uma decisão política", ressaltou o físico.

A Universidade Federal de Rondônia (Unir) é um exemplo de instituição que está qualificando seu quadro de docentes: em 1995, ela tinha 7 professores doutores e 130 professores mestres. Hoje, são 150 doutores e 200 mestres. "Esse aumento é resultado de um esforço próprio da instituição, de seus pesquisadores, do apoio da bancada de Rondônia no Congresso e do governo estadual. O governo federal não tem um projeto para o estado", ressaltou o reitor da Unir, Ene Glória da Silveira.

A diretora em exercício do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Elsa Hardy, defendeu a viabilização do "Acelera Amazônia", programa de formação de mestres e doutores elaborado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC). "Todos os pró-reitores da região Norte estão envolvidos nesse projeto, a gente participou de uma reunião pouco antes do Natal", informou Elsa.

"Serão necessários R$ 10 milhões, durante dez anos, para implantar o programa, mas o recurso ainda não está garantido", estimou a diretora do Inpa.
(Radiobras, 03/03/06)

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