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2006-03-03
No Brasil, com exceção de alguns poucos grupos, a biodiversidade conhecida dos invertebrados marinhos é de apenas 10% em média. Ou seja, há muito ainda a se conhecer. Apesar de vários fatores ajudarem a explicar esse descompasso – um deles é o tamanho do litoral brasileiro –, fica claro que existem muitas espécies marinhas ainda não registradas.

“Estima-se que o número de espécies na costa brasileira deva dobrar ou triplicar se houver esforços de coleta direcionados aos ambientes menos estudados, como os de profundidade ou plâncton oceânico”, diz Antônio Carlos Marques, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

Para o pesquisador, autor de um relatório aprofundado sobre o conhecimento atual dos invertebrados marinhos do Brasil, é muito difícil falar em números de espécies ainda a ser descobertas. No estudo, em que foram ouvidos diversos especialistas da área de zoologia marinha de invertebrados, fica evidente que é o grau do conhecimento, em todos os setores, que precisa aumentar.

“Poucos foram os biótopos considerados como tendo atingido graus bom ou ótimo, tanto do ponto de vista da coleta quanto do conhecimento da fauna”, diz Marques, citando os resultados do relatório sobre a biodiversidade dos invertebrados marinhos, feito a pedido do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.

De modo geral, a fauna bentônica (que vive no substrato) da região entremarés e o infralitoral raso (zonas com pouca profundidade) foram considerados relativamente os mais conhecidos e coletados, contando com níveis “razoável”, “bom” ou, excepcionalmente, “ótimo”. Essa consideração é válida tanto para os substratos rochosos ou consolidados como para os não-consolidados, como areia ou lama. Marques destaca que o avanço no conhecimento básico dos invertebrados marinhos é fundamental não apenas para os cientistas. Tais dados podem ser essenciais também para diversos setores da sociedade brasileira.

“Um dos argumentos para justificar o incremento urgente de estudos sistemáticos é a produção de fármacos, que verificamos estar presente em cerca de 10% dos grupos analisados, incluindo Porifera, Cnidaria, Mollusca, Bryozoa, Echinodermata, Ascidiacea”, diz o pesquisador da USP. Entre as esponjas, por exemplo, já existem várias substâncias isoladas com potencial antitumoral e antiviral.

Educação ambiental
O aumento no conhecimento a respeito dos invertebrados marinhos será um dos assuntos em pauta em março, em Curitiba, durante a 8ª Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 8). O evento será realizado entre os dias 20 e 31.

Para que o conhecimento cresça e a biodiversidade possa ser usada de forma sustentável – esses são dois dos três objetivos principais da Convenção sobre Diversidade Biológica – não são necessários apenas investimentos na área científica. Segundo os especialistas, é preciso que se crie uma visão interdisciplinar ao se olhar para o mar.

Além disso, desde que bem planejadas, ações de educação ambiental e de turismo podem ajudar bastante na preservação de todo o ecossistema marinho brasileiro. “As formações coralinas e os demais ambientes litorâneos vêm sendo explorados pelo ecoturismo, mas ainda de forma pouco organizada e pontual”, lembra Antônio Carlos Marques.

Segundo o estudo feito pelo pesquisador, é preciso que a expansão dessas atividades seja feita de forma planejada e monitorada, para que os recursos explorados não sejam ameaçados ou se esgotem, acarretando prejuízos social, econômico e científico indesejáveis.
Por Eduardo Geraque
(Agência FAPESP)

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