Fundado em 1948 e fechado há mais de uma década, o Clube José do Patrocínio de Osório renasceu das cinzas no último sábado de carnaval (25/2), quando um bloco de associados cantou na avenida Costa Gama um samba-enredo em homenagem à usina eólica em construção no litoral norte. Reunindo 40 instrumentos musicais e 170 foliões, o bloco Eternamente Patrô foi o último dos 13 blocos locais a participar do desfile presenciado por 8 a 10 mil pessoas, cerca de ¼ da população municipal. Quem aguentou até aquele momento, passados alguns minutos da meia-noite, garante que foi uma apoteose: o povo seguiu atrás do bloco cantando o enredo mais criativo, original e oportunista do carnaval de Osório.

Pobre mas alegre, o desfile do Patrô foi aberto por um carro (de transporte horizontal em armazém) com o símbolo do clube -- um leão que consumiu 300 quilos de cimento. A alegoria sobre a usina eólica foi montada por Jairo Terra, eletricista de 36 anos que usou exclusivamente sucata em sua obra: sobre uma torre de pano cinza, com altura de 1,70 m, ele engatou um ventilador de teto com três pás. No alto, piscando, uma luzinha amarela. Para o mecanismo funcionar, usou uma bateria de automóvel e um relé. Não fez melhor porque na correria final ninguém achou alguém da Ventos do Sul para obter patrocínio. “Melhor não ficar devendo favor pra eles”, concluiu um dos membros da comissão de restauração do Patrô de Osório.

O samba foi composto alguns dias antes do carnaval por Mano da Vila Isabel de Viamão durante um churrasco organizado pela comissão de restauração do clube dos negros da cidade. A expectativa era reunir para o desfile 20 músicos e 40 foliões. A adesão recorde foi tomada como um sinal de que a comunidade está disposta a recuperar o clube, hoje administrado pelo Poder Judiciário. No dia 5 de abril, a comissão de restauração vai ter uma audiência pública com a Promotoria, a quem vai pedir o clube de volta. Segundo o percussionista Mario Duleodato, que trabalha na Secretaria de Obras do município, a animação com a obra da usina eólica indica que a cidade vive uma onda de otimismo e o renascimento do clube dos negros de Osório liquida uma crise que vem desde o início dos anos 90, quando a Escola de Samba José do Patrocínio chegou ao auge, colocando na avenida 450 figurantes.

Valeu a pena esperar
Samba-enredo de Mano de Vila Isabel de Viamão para o Bloco José do Patrocínio de Osório

Vale a pena esperar
por esse amor
58 anos de história “demorou”

Valeu a pena esperar
por esse amor
porque na avenida
sou eternamente Patrô

Hoje o Leão vai rugir
Bons ventos sopram aqui
Olha que beleza
Eternamente Patrô
Trazendo arte e amor
Defendendo a natureza

Vamos mergulhar
nos rios, cascatas e lagoas
Vamos preservar
a flora, a fauna numa boa

Cidade dos ventos
hoje gera nova energia
o turismo aqui é o momento
Com o Patrocínio na avenida

Nossa Senhora
nos dê sua proteção
Sei que vai ser difícil lutar
contra a poluição

Eu quero voar
E do mirante ver o litoral
E dessa avenida então
fazer um belo carnaval

Por Geraldo Hasse, de Osório, para O Diário dos Ventos, série exclusiva do Ambiente Já e Jornal Já – www.jornalja.com.br.