Metade Sul vê a soma da pecuária com a floresta
2006-02-24
Uma pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
pode representar novas possibilidades para os produtores da Metade Sul.
O núcleo de Pecuária Sul, sediado em Bagé, está trabalhando nos
sistemas silvipastoris para identificar espécies forrageiras
adaptáveis a áreas sombreadas com acácia negra ou eucaliptos.
Segundo o pesquisador responsável, Alexandre Varella, a idéia é
integrar a cultura mais tradicional da região com os novos
investimentos em produção florestal.
- A vocação pecuária da Metade Sul não pode ser negada, nem
substituída pela atividade florestal. Propomos a integração, mostrando
para os produtores que as duas atividades podem ser complementares -
diz o engenheiro agrônomo.
A pesquisa, iniciada em julho do ano passado, está trabalhando com
cerca de 30 acessos de espécies nativas, plantadas em estufas na
própria sede da Embrapa. As plantas são submetidas a 50% e 80% de
sombra artificial, por meio do uso de cobertura por sombrites, e o
crescimento é comparado com as criadas sob luminosidade total. Também
está sendo analisada a produção de forragem, o valor nutritivo e a
suscetibilidade a pragas e doenças. A partir de 2007, Varella pretende
levar as espécies para ambientes que conjuguem a florestas com ovinos e
bovinos de corte e leite.
Até agora, os resultados da pesquisa estão satisfazendo as
expectativas. Varella explica que o consórcio das duas atividades não
afeta tanto o ecossistema como a monocultura.
- A cultural florestal vai agregar valor à produção rural. Mas
trabalhamos com um espaçamento maior entre as árvores, algo em torno
de cinco a seis metros. Com isso, se o produtor quiser desistir da
floresta, é só cortar as árvores que a atividade pastoril está
preservada - explica Varella.
O produtor Nicanor Muñoz Médici, 42 anos, proprietário da Fazenda
Acácias, atesta os bons resultados do consórcio. Pela necessidade de
ampliar os resultados da fazenda, os cerca de 200 bovinos da fazenda
de terminação passaram a conviver com uma densa floresta de 720
hectares de acácias negras. Já no terceiro ano da floresta, as mudas,
que têm espaçamento médio de três metros, estão variando de seis a
sete metros de altura. E Médici considera que a integração só aumenta
o perfil de exploração do solo.
- Em pouco tempo a integração já vai ser uma realidade. É a chegada do
desenvolvimento e uma boa alternativa para os produtores. As duas
atividades se somam, uma não elimina a outra - destaca o produtor.
Segundo o pesquisador, como a região da Campanha tem estiagens
freqüentes, o sombreamento proporcionado pelas florestas permite o
crescimento das forrageiras tanto no verão quente e seco, porque reduz
a perda de água do solo, como também no inverno rigoroso, pela
proteção contra as geadas. Além de ser uma segurança contra os
processos de erosão do solo. Outra vantagem do consórcio é que como as
florestas tem um retorno de médio a longo prazo, variando de sete a 15
anos, a pecuária sustenta o propriedade até que a floresta entre em
produção.
O presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais, Roque Justen,
ressalta que a entidade não só apóia os consórcios de produção
florestal com outras culturas, como incentiva as empresas a oferecerem
apoio técnico para os produtores interessados.
- O sistema florestal gaúcho tem mais de 70 anos. Só na produção de
acácia são mais de 50 mil famílias envolvidas. E há espaço na
indústria de celulose, moveleira, construção civil e até na própria
fazenda - acrescenta.
Para Justen, os projetos integrados podem ser aplicáveis em
propriedades rurais de todos os portes.
(ZH, 24/02/06)