Consórcio acerta indenizações para iniciar Estreito
2006-02-24
A certeza de que a obra de construção da Hidrelétrica Estreito, no Rio
Tocantins, entre os estados do Maranhão e do Tocantins, obtenha a
Licença de Instalação (LI) até março já leva os investidores a entrar
nas discussões finais sobre a definição de responsabilidades com
prefeituras e comunidades da área de abrangência do projeto. Se a LI
for mesmo liberada até março e, tudo indica que vai ser, a construção
da hidrelétrica pode iniciar em maio ou junho, de acordo com o
Consórcio Estreito Energia (Ceste), formado pelas empresas Alcoa
Alumínio, Companhia Vale do Rio Doce, Camargo Corrêa e a Suez Energy.
A BHP Billiton deixou o consórcio este mês, vendendo suas ações para a
Suez, que se tornou o maior acionista com 40,07%, e para a Alcoa, que
passou a deter 25,49% das ações. A Vale permanece com 30% e a Camargo
Corrêa com 4,44%. A hidrelétrica, com investimentos no valor de R$ 3
bilhões, está projetada para uma potência de 1.087 MW. A primeira
turbina está prevista para entrar em operar em setembro de 2009.
O novo cronograma de construção - o início das obras já foi adiado
duas vezes - foi definido com base em comunicado do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
no final do ano passado, informando aos investidores a decisão em
conceder a LI para a construção da hidrelétrica no mês de março. "O
início da obra está previsto para maio, ou mais tardar, em junho", diz
o diretor presidente do Ceste, Victor Paranhos. Se a LI não for
concedida até a data esperada, as obras vão ser adiadas por mais um
ano, em virtude do período de chuvas.
O empreendimento recebeu a Licença Prévia do Ibama, que atesta a
viabilidade ambiental, em abril do ano passado. Cinco meses depois, o
investidor entregou ao órgão licenciador o Projeto Básico Ambiental
(PBA), contendo 35 programas e sete sub-programas sócio-ambientais a
serem implementados pelo empreendedor durante a construção. Desde
então, a LI é aguardada para que seja dado início às obras.
O projeto da Hidrelétrica Estreito tem sofrido forte pressão de
organizações não-governamentais ligadas ao meio ambiente. Por outro
lado, o Ibama fez uma série de exigências para que os investidores
implementem medidas, visando minimizar os impactos, pois serão
necessários remanejamento de moradores de áreas urbana, rural e de
ilha e alagamento de paisagens naturais.
As obras da usina, de acordo com o projeto, vão ser concentradas nos
municípios de Estreito (MA), Aguiarnópolis (TO) e Palmeiras do
Tocantins (TO). A obra vai atingir ainda os municípios de Carolina, no
Maranhão; Babaçulândia, Barra do Ouro, Darcinópolis, Filadélfia,
Palmeirante, Goiatins, Itapiratins, e Tupiratins, no Estado do
Tocantins.
O reservatório da hidrelétrica terá 555 quilômetros quadrados de
superfície, sendo 400 quilômetros quadrados de terras inundadas e de
5.400 x 106 metros cúbicos de volume de água. A energia a ser gerada
por Estreito será incorporada aos sistemas Norte/Nordeste e
Norte/Sul/Sudeste por intermédio da rede básica do sistema integrado.
Paralelo ao processo de licenciamento ambiental, o consórcio está
realizando reuniões com as comunidades a serem afetadas pelo projeto
para definir as responsabilidades a serem assumidas tanto pelo
empreendedor quanto pelos e moradores e autoridades, entre as quais, a
contratação de mão-de-obra local e apoio à qualificação e capacitação
das comunidades da área de abrangência do projeto.
A previsão é que a hidrelétrica gere cerca de 5,5 mil empregos diretos,
além de 16,5 mil indiretos durante a fase de implantação. A construção
da hidrelétrica de Estreito é aguardada com grandes expectativas de
geração de emprego e renda nos municípios da área de abrangência do
projeto, apesar dos protestos dos ambientalistas que apontam as perdas
do patrimônio natural e de impactos sociais. Cerca de 1,2 mil famílias
dos 12 municípios deverão ser remanejadas de suas casas ou receber
indenizações.
Um outro fato que tem preocupado as autoridades locais diz respeito à
destinação dos recursos para a compensação ambiental, no valor de R$
9,635 milhões, o equivalente 0,5% do valor total do empreendimento,
conforme determina a legislação ambiental.
O Ibama pretende destinar estes recursos também para unidades de
conservação ambiental localizadas em Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso,
estados que não são atingidos pelo projeto.
Para evitar a fuga dos recursos, o promotor de Justiça Carolina (MA),
Jadilson Cirqueira de Sousa, enviou ofício ao órgão solicitando que os
recursos para compensação ambiental sejam aplicados somente em áreas
de proteção ambiental localizadas Maranhão e no Tocantins, únicos
estados atingidos pelo empreendimento. O Ibama alega que considera o
bioma cerrado, e por esta razão, vai designar recursos a reservas dos
outros estados. O promotor Jadilson de Sousa discorda. Ele vai acionar
o Ministério Público Federal contra esta decisão, caso haja repartição
de recursos com outros estados.
(GM, 24/02/06)