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2006-02-24
Além da monocultura de plantações florestais exóticas na Metade Sul, a grande preocupação do movimento ambientalista gaúcho com os novos investimentos da cadeia do papel no Estado é o uso do cloro no branqueamento da celulose.

O diretor de Operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, revelou que a nova fábrica da empresa deve adotar o sistema chamado ECF Light. "O mundo já passou pela grande discussão do cloro, mas no Rio Grande do Sul isso não foi bem esclarecido", afirma o executivo da Aracruz. A fábrica de Guaíba trabalha, hoje, no sistema ECF, livre de cloro elementar. Ecologistas do Estado defendem uma produção totalmente livre de cloro, chamada TCF.

"Quando o mundo detectou o problema das dioxinas e furanos dos efluentes, utilizava-se basicamente o cloro elementar. Aí, partiram para o sistema TCF – nós até tivemos que produzir dessa forma para atender a alguns mercados", lembra Nunes. "Só que a pesquisa internacional evoluiu, há muitos estudos, e constatou-se que o melhor processo é o ECF, que usa o dióxido de cloro. Porque o TCF não tem uma série de elementos, mas o efluente é altamente tóxico", afirma Nunes.

Segundo o executivo da Aracruz, o processo tecnológico mais qualificado é o ECF light, que deve ser usado na nova planta da empresa. "É uma combinação de ozônio ou peróxido de hidrogênio e dióxido de cloro. Esse é o melhor processo hoje. Não sou eu que estou dizendo, é a Europa, que tem padrões ambientais rígidos para fábricas de celulose. Países como a Alemanha, que eram totalmente favoráveis ao TCF, aprovaram uma fábrica há dois anos com ECF light".

Aracruz troca informações com ONGs ambientalistas
Se não há concordância em todos os pontos de vista entre a Aracruz e ambientalistas, observa-se que as duas partes estão dialogando, como foi visto em seminários e mais recentemente, numa reunião, no Hotel Embaixador, em Porto Alegre, ocorrida em 6 de janeiro.

O encontro foi tranqüilo. Diretores da empresa e representantes de cinco ONGs – Núcleo Amigos da Terra, Fundação Gaia, União pela Vida, Terra e Direitos e Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGa) – elogiaram a boa conversa e a troca de informações sobre os negócios da empresa.

Isso não significou que polêmicas como o branqueamento do papel fossem ignoradas. Clovis Zimmer, gerente de Qualidade e Meio Ambiente, esclareceu que o vilão cloro ainda é utilizado, mas em processos menos agressivos. "Seria até melhor que o papel clorado deixasse de ser usado, pois o branqueamento é mais caro. Mas atendemos ao pedido do fabricante, que precisa abastecer um mercado que ainda exige o papel branco".

Outro assunto foi a relação entre a Aracruz e produtores rurais – 70% do plantio é feito pela empresa, enquanto os 30% restantes provém de programas de fomento, parcerias e arrendamento. As ONGs reivindicam que a orientação sobre os melhores lugares para plantios (geralmente áreas de degradadas), distribuição de mudas nativas e conscientização ambiental deixem de ser apenas recomendações e passem a ser exigências contratuais.

O diretor de Operações, Walter Lídio Nunes, defendeu a idéia da educação e afirmou que o melhor ainda é deixar essas recomendações fora do papel. "Não podemos obrigar ninguém", justificou. A resposta não pareceu satisfatória aos ecologistas, que apresentaram uma lista de reivindicações aos executivos da Aracruz.

Entre elas está o acesso aos estudos ambientais, inclusive aos que comprovam a inviabilidade de nativas na confecção de boas fibras de celulose, e a continuidade dos debates, com enfoque nos temas polêmicos, como o processo de branqueamento. O gerente de Relações com a Comunidade da Aracruz, Francisco Borges Bueno, vai marcar uma visita dos ambientalistas à empresa até março.

Se a nova fábrica da empresa vier para o Rio Grande do Sul, a preferência dos ambientalistas também é que se instale em Guaíba. Káthia Vasconcellos, do Núcleo Amigos da Terra, diz que seria menos prejudicial que aconteça do que em outras áreas do Estado, como o Pampa. Lara Lutzenberger, da Fundação Gaia, concorda com a reutilização do espaço da companhia em Guaíba.
Por Patrícia Benvenutti e Guilherme Kolling

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