Empresa e governo comprovam interesse por município gaúcho
2006-02-24
O interesse da Aracruz em instalar sua nova planta industrial em Guaíba foi demonstrado por declarações de representantes do Governo e dirigentes da empresa no dia 12 de janeiro, quando foi inaugurada a modernização da atual unidade, que aumentou sua produção de 400 mil para 430 mil toneladas de celulose ao ano.
O investimento do dia, de R$ 150 milhões, deixou de ser assunto perto do 1,2 bilhão de dólares necessários para concretizar uma fábrica para 1 milhão de toneladas de celulose ao ano. Por isso, a localização do novo empreendimento dominou as atenções do evento.
O presidente da companhia, Carlos Aguiar, disse que ainda não há uma definição, mas destacou que o Rio Grande do Sul tem boas chances, lembrando que a empresa já está no Estado há mais de dois anos.
O governador Germano Rigotto aproveitou a deixa e citou o slogan “Nosso futuro tem raízes” para demonstrar a convicção de que a companhia virá. "O Rio Grande do Sul está na frente porque a empresa já está aqui. E tenho certeza, que nessas raízes é que se constrói o futuro da Aracruz", declarou, agradecendo de forma antecipada, os possíveis futuros investimentos.
Com isso Rigotto contabilizaria a terceira planta de celulose (as outras são da Votorantim Celulose e Papel e Stora Enso) atraída para o Estado, 1,2 bilhão de dólares investidos, 3 mil empregos gerados na construção e 1,3 mil empregos permanentes. "E a Aracruz já investiu R$ 1,1 bilhão para vir para o Rio Grande do Sul", disse o governador, referindo-se ao valor da compra da Riocell.
O secretário de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Luís Roberto Ponte, lembrou que a Aracruz já é dona do terreno contíguo à sua unidade, ou seja, a nova planta pode ficar bem ao lado da atual. O secretário do Meio Ambiente, Mauro Sparta fez coro às boas-vindas, justificando que "é um empreendimento bem regrado que vai trazer muito desenvolvimento, emprego e renda para o Estado".
O diretor de Operações da empresa, Walter Lídio Nunes, salientou as vantagens de realizar o futuro investimento em Guaíba com tanta segurança que é possível apostar que o município será sede da nova planta.
Segundo ele, os pré-requisitos para o empreendimento são a viabilidade econômica (em estudo, mas com uma série de vantagens citadas pelo próprio Nunes), questões ambientais (na planta nova, a tecnologia seria mais moderna, menos poluente), e aceitação social, ou seja, desejo da sociedade que a Aracruz se instale lá.
O prefeito em exercício de Guaíba, Henrique Tavares, agradeceu à empresa por mais esse investimento, louvou seu trabalho e disse que a Aracruz é um marco na história da cidade. Em outubro de 2005, deputados estaduais fizeram um abaixo-assinado para que a Aracruz instale sua nova fábrica no Rio Grande do Sul. E a resistência de ONGs ambientalistas diminuiu.
Enfim, o quadro é favorável para que a companhia escolha Guaíba. A decisão deve ser tomada em março, quando serão apresentados estudos ao conselho de acionistas da empresa.
Nova planta otimiza a atual
"Com uma nova fábrica ao lado da existente, é possível modernizar mais ainda a antiga, com economia. Então, essa planta se torna mais competitiva, racionalizada, e ainda faz uma diluição dos custos fixos". A afirmação do diretor de Operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, ilustra algumas das vantagens que a empresa terá instalando seu novo empreendimento em Guaíba.
Ele exemplifica: "A planta atual gera 50 MW. Com a nova fábrica, vou precisar mais 80MW, 90MW. Só que será comprado um turbo gerador que vai absorver a produção dos turbos velhos, que serão desativados. É um custo marginal, se comparado à aquisição de novos equipamentos de 50 MW".
Ou seja, o novo projeto vai permitir que se corrijam eventuais deficiências. "Por mais que se melhore, não abrange tudo. E uma segunda linha pode modernizar ainda alguns aspectos, colocando o conjunto dessas fábricas num padrão mundial de competitividade".
Nunes explica: "É preciso dar escala para essa unidade de Guaíba. Ela é muito competitiva pelo esforço de gestão. Mas os Estados Unidos já estão desativando 7,5 milhões de toneladas de produção de fábricas com capacidade para 200 mil, 300 mil toneladas. Não estou dizendo que ela vai fechar, mas isso pode acontecer se perder a competitividade. Os números é que definem, ninguém vai trabalhar no prejuízo".
Últimos detalhes em estudo
Viabilidade econômica, ambiental e aceitação social. Esses são os três pré-requisitos elencados pelo diretor de Operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, para a escolha do local do novo investimento da empresa. Segundo ele, faltam alguns detalhes para concluir os estudos da parte econômica.
"São pontos que incluem questões como infra-estrutura, acessos, uma série de pequenos detalhes que já estamos conversando com o Governo". A companhia pretende trabalhar com mais de um modal – hidroviário, rodoviário e até ferroviário – para trazer a madeira para a fábrica.
"Os locais onde haverá o plantio florestal não podem ser muito afastados", diz Nunes. A produção de eucalipto será expandida dos atuais 24 para 54 municípios da região. A empresa tem hoje 42 mil hectares plantados. Pretende implantar mais 90 mil ou 100 mil hectares. Com isso vai manter pelo menos 40 mil a 50 mil hectares de área preservada, já que a política da empresa é de um hectare preservado para cada dois plantados. "Não era bem o que estava acontecendo no Rio Grande do Sul, mas é onde a gente vai chegar, esse é o nosso padrão", afirma o diretor de Operações da Aracruz.
O tempo necessário para o corte do eucalipto é de sete anos. Como a companhia está no Estado desde 2003, pode-se calcular que o momento para a nova fábrica entrar em operação seria 2010. Mas existe outro aspecto, a chamada "janela de mercado".
Como haverá outras duas plantas no Estado, os preços tendem a ficar deprimidos, o que deve levar a empresa a esperar que essa produção seja absorvida pelo mercado, para só entrar em funcionamento quando houver demanda e, por conseqüência, os preços estiverem subindo.
A Aracruz só irá colocar a fábrica em operação no momento em que o valor da celulose estiver num ciclo de alta. Isso deve acontecer entre 2010 e 2012. "Temos flexibilidade para fazer o corte das plantações um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde", explica Nunes.
Por Guilherme Kolling