As multis saem do armário
2006-02-22
Por Francisco Simeão *
as multinacionais dos pneus no Brasil estão saindo do armário.
Finalmente assumem que nunca tiveram qualquer preocupação com o meio
ambiente. Só querem mesmo é defender o mercado que cartelizaram até a
década passada.
Chris Corcoran, o presidente da maior delas, a Goodyear, põe nova
pressão no Presidente Lula, que já enfrenta o fogo amigo de sua
Ministra do Meio Ambiente a pretexto do contencioso na OMC (Organização
Mundial do Comércio). Ele ameaça (15/02/06) que, a continuar a
importação dos usados, a matéria-prima dos reformadores, poderá cessar
seus investimentos no Brasil, assim como fariam as outras multis -
Pirelli, Bridgestone e Michelin.
Culpam as empresas fabricantes de pneus remoldados de terem "roubado"
grande parte de seu mercado, como se o mercado brasileiro fosse sua
propriedade.
Em razão de argumentos inconsistentes e sem qualquer prova, foram
derrotadas no Senado Federal em 15.12.05, por 18 votos a um.
Constataram então que no Congresso Nacional não têm mais qualquer
possibilidade de êxito em sua pretensão. Por esta razão, agora blefam e
choramingam junto ao Executivo Federal para que lhes outorgue por
Medida Provisória uma reserva de mercado, para que possam, sem
concorrência, voltar a ter os polpudos lucros de outrora.
Antes da entrevista coletiva dele, as multinacionais argumentavam, em
coro com a equipe de Marina Silva, que o problema é ambiental, causado
pelas importações daquilo que chamam de "lixo-pneu". Deslavadamente,
não chamam assim os milhões de pneus que elas próprias geraram aqui
durante 80 anos e agora se recusam a cumprir sua obrigação ambiental,
alegando que no Brasil não existe tanto pneu assim para coletar e
destruir.
Tudo sob a complacência do Ibama de Dona Marina. Enfim, o meio
ambiente só seria ameaçado pelos outros, desprezíveis pequenos
industriais brasileiros, em que pese ser a Gringolândia responsável
por 90% do "lixo-pneu" do Brasil.
O que de fato as está desestabilizando é que no mercado de trocas de
pneus de automóvel e de caminhonete a BS Colway já vende mais de 40%
da quantidade que vende a Goodyear; cerca de 43% do que vende a
Pirelli; e 50% da quantidade que vende a Bridgestone / Firestone. De
fato, isso é agredir o – confortável – meio ambiente delas.
Posando de preocupado com o contencioso na OMC, onde o Brasil tem que
se defender de reclamação de sete países europeus porque admite
importações só de países do Mercosul, Mr. Chris diz: “Nós é que
ficamos com o passivo ambiental”. Nós, quem, cara-pálida? Os
brasileiros que as multinacionais enganam alegando que não poluíram
tanto assim o Brasil, a ponto de não terem pneu inservível para dar
como contrapartida ambiental aos que importam, inclusive da Europa?
E o que o ilustre Mister Gringo poderia dizer da francesa Michelin,
sua aliada na Anip, em relação ao pneu que foi apresentado em
audiência pública no Congresso Nacional? Esse pneu foi fabricado na
França pela Laurent/Michelin com carcaça de pneu usado importado da
Alemanha.
Na Europa, o pneu Laurent é anunciado como "pneu novo de outro jeito",
que custa 50% menos e dura o mesmo que os pneus novos das melhores
marcas. Isso não parece familiar no Brasil? Por que, lá, eles podem; e,
aqui, nós não podemos?
O "brasileiro" da Goodyear faz ameaça nada sutil: as matrizes das
multinacionais estão atentas à decisão que o governo brasileiro vai
tomar. Exemplifica com um investimento que poderia ter vindo para cá,
mas foi para a Colômbia. E, com ar de lamento, diz aos jornalistas que
não ousam confrontá-lo: – Nós poderíamos ter assumido essa produção”.
Nós quem, cara-pálida?
* Francisco Simeão é presidente da BS Colway Pneus e da Abip
(Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados)
(GM, 22/02/06)