(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
marketing verde
2006-02-22
Ao mesmo tempo que ainda existem muitos casos de empresas que apenas alardeiam os investimentos em responsabilidade social e ambiental, também têm crescido no mundo corporativo os projetos que de fato se comprometem com a redução dos impactos socioambientais e a conseqüente melhora da sua imagem junto aos clientes, fornecedores, consumidores e a comunidade.

As empresas que atuam com a exploração de recursos naturais, como as de papel e celulose, de mineração e do petróleo, normalmente são as mais visadas por conta dos possíveis riscos envolvidos nas suas atividades. Daí o fato de companhias desses setores estarem entre as que mais vêm investindo no apoio a projetos sustentáveis – no Brasil e no mundo. Em empresas como Companhia Vale do Rio Doce, Aracruz e Sadia, cada uma à sua maneira, o tema começa a deixar o papel de coadjuvante para o de protagonista. Já na área financeira, segundo dados da ONG BankTrank, ainda há muito o que avançar (veja quadro ).

A Vale anuncia que a responsabilidade social será tratada como tema prioritário em 2006, inserido na estratégia de negócios. O investimento na área chegará a US$ 100 milhões. A mineradora já atua em várias frentes e recentemente levou sua experiência para o exterior. Na concorrência de uma mina de carvão em Moçambique, como havia financiamento do IFC (braço do Banco Mundial que trabalha com créditos financeiros para empresas), a mineradora teve de oferecer contrapartidas socioambientais para explorar a lavra. Levou a melhor na disputa porque apresentou uma proposta que ia além das exigências mínimas.

Os investimentos em Moçambique incluem projetos nas áreas de educação, saúde, agricultura e infra-estrutura, numa região onde moram cerca de 110 mil pessoas. “Para facilitar o trabalho, buscamos o alinhamento entre os órgãos públicos e as entidades com atuação local”, conta Madelon Piana, gerente-geral de novos negócios da CVRD. Em todos os programas, a proposta é que as comunidades consigam se auto-sustentar com o passar do tempo. Para isso, a empresa investe na formação de profissionais. “Estamos construindo um orfanato e reabilitando outros dois. Mas não podemos parar aí. Também capacitamos os gestores para que eles articulem outras parcerias”, diz a gerente.

Apesar da importância do investimento em Moçambique, os principais projetos da mineradora estão no Brasil. As soluções podem ir desde o desenvolvimento de um supressor de pó, que diminui a emissão de partículas decorrentes das operações de manuseio de pelotas de minério de ferro, até a recuperação florestal das áreas degradadas.

Foi o que aconteceu na mina de ferro de Piçarrão (MG), hoje com uma aparência bem diferente da de 1985, quando foi desativada. “Essa preocupação foi incorporada nos vários níveis da empresa, do diretor ao operador de máquina, como um processo contínuo. Não adianta a empresa apresentar ótimos resultados financeiros se deixa um tremendo passivo ambiental para depois”, argumenta Maurício Reis, diretor do departamento de gestão ambiental e territorial da Vale.

Paulo Choji Kitamura, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, concorda que as empresas têm utilizado o meio ambiente como estratégia de marketing e um diferencial de mercado. Para o especialista, no entanto, o investimento privado na recuperação de áreas degradadas não é garantia de que a natureza voltará a ser como antes. “Toda atividade de uso da terra implica retirar a biodiversidade. No caso das mineradoras, a recuperação até acontece, mas é lenta”, lembra.

Em Paragominas, a 280 quilômetros de Belém, cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, a CVRD decidiu investir em projetos auto-sustentáveis antes mesmo de começar a explorar a lavra de bauxita (ainda à espera da licença de operação). O programa de envolvimento com a comunidade foi implantado pela consultoria ambiental Territoria, da especialista Nereide Barioni Mazzucchelli. O trabalho inclui a recente criação da Associação para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável de Paragominas, da qual fazem parte a associação comercial patronal e de trabalhadores, o sindicato dos madeireiros, associações de bairros e comitê de jovens.

Assim como em Moçambique, a proposta não é que a Vale participe apenas com o patrocínio de projetos, mas que capacite a comunidade para que ela se organize, encontre suas vocações e se sustente. “A Vale é indutora do processo e integrante da associação, apenas isso. Quem vai se colocar como interlocutor nas decisões da comunidade são os seus integrantes. A associação quer, dentro de três anos, ser uma referência regional como discurso coletivo para o desenvolvimento”, explica Nereide.

A Sadia optou por um modelo diferente para atuar nas comunidades onde tem operações. Seus biodigestores (equipamentos que fazem a coleta de resíduos e assim evitam a emissão de gases), recentemente aprovados no programa da Organização das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas (enquadrado ao Protocolo de Kyoto), deverão resolver dois problemas. O primeiro é a redução da emissão de gás metano, produzido a partir das fezes dos suínos e prejudicial à camada de ozônio. Num primeiro momento, o gás obtido com os equipamentos será queimado. Com isso, a empresa passa a ter créditos de carbono para vender.

Outro problema que passa a ter uma solução refere-se à renda dos fornecedores de animais. Nesta primeira fase, o Programa Suinocultura Sustentável Sadia (Programa 3S) fará a captação de gases de efeito estufa em três granjas. Uma linha de crédito do BNDES, de R$ 60 milhões, obtida pela empresa, vai financiar a construção de 1.000 biodigestores nos próximos 12 meses. Ao todo, a Sadia espera comercializar 10 milhões de toneladas de carbono por ano. De início, o dinheiro obtido com a venda dos créditos de carbono será usado para pagar os biodigestores. Os recursos conseguidos a partir daí serão revertidos 100% em renda para os donos das granjas. “Poderemos vender os créditos para poluidores do mundo todo. E com o tempo as granjas maiores também poderão comercializar a energia obtida a partir dos biodigestores”, prevê Luiz Murat, diretor de finanças e de relações com investidores.

Na Aracruz, fabricante de papel e celulose, os trabalhos ambientais começaram a ser feitos há uma década. Há cerca de dois anos a empresa deu uma guinada ao começar a preparar um novo modelo de relatório de sustentabilidade. A primeira edição, relativa às atividades de 2004, passou a tratar os problemas do setor de forma mais transparente. É o caso da relação difícil que a companhia tem com comunidades indígenas do interior do Espírito Santo (mesma situação vivida pela Vale do Rio Doce no interior do Pará) por conta de interesses agrários. “Essa transparência foi a forma que encontramos para aumentar a credibilidade das nossas ações. Antes publicávamos só as coisas boas, mas falar sobre as coisas difíceis é uma forma de apresentar o nosso ponto de vista”, afirma Carlos Alberto Roxo, diretor de meio ambiente e relações corporativas.

Quem recentemente se aproximou dos temas socioambientais foram as instituições financeiras. No País, cinco bancos aderiram aos Princípios do Equador, criados em 2003 pelo IFC: Banco do Brasil, BNDES, Bradesco, Itaú e Unibanco. Para isso, se comprometeram a seguir critérios mínimos ambientais e sociais – dentro dos próprios bancos e como parte das exigências dos possíveis tomadores de recursos – para a concessão de créditos a partir de US$ 50 milhões.

Em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, as ONGs WWF e BankTrack, uma das mais respeitadas na área, divulgaram a análise das atividades socioambientais de 39 bancos no mundo, com base em 13 temas, como direitos humanos e do trabalho e indústria extrativista. Nenhum deles conseguiu nota maior do que D. A classificação ia de A até E, obtida a partir da média dos pontos somados em todos os critérios. Entre as instituições brasileiras, a melhor avaliação foi a do Banco do Brasil, que recebeu um D- e 0,54 ponto. O pior desempenho foi o do BNDES, que zerou em todos os itens. Entre as instituições internacionais, as melhores pontuações foram do ABN Amro e do Grupo HSBC.

“O tema é novo e os bancos estão começando a se preparar para essas exigências. Ainda é delicado, por exemplo, colocar essas questões contratualmente. Também não se sabe como os bancos podem fazer para cumpri-las”, avalia Flávio Almeida, coordenador da Câmara de Finanças Sustentáveis do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). Para o especialista, a tendência é que os temas socioambientais cada vez mais sejam incorporados pelo setor financeiro. Isso porque o risco ambiental de um empreendimento financiado pelo banco pode implicar problemas futuros. “Se acontece um desastre e a empresa quebra, a instituição pode não receber pelo dinheiro emprestado, por isso as salvaguardas socioambientais são cada vez mais importantes”, opina.

Para o BNDES, o resultado da pesquisa da BankTrack não corresponde à realidade da instituição. Eduardo Bandeira de Mello, chefe do departamento de meio ambiente, garante que o banco cumpre quase integralmente o que prevê o texto dos Princípios do Equador: “Temos esse tipo de preocupação há mais de dez anos. Nas operações diretas do banco, o interessado tem de preencher uma carta-consulta na qual detalha a natureza da atividade e se é próxima a áreas de preservação ambiental”. A partir dessa descrição, o banco propõe recomendações. A instituição pode sugerir e até financiar essas ações.

Izabela Lemos, diretora de responsabilidade social do Banco do Brasil, acredita que a avaliação na pesquisa da BankTrack tenha sido baixa porque não foi feita uma diferenciação entre compromissos assumidos e ações concretas. O banco diz levar em consideração, por exemplo, se a empresa está na lista do Ministério do Trabalho relativa ao trabalho escravo, se o projeto financiado interfere em populações indígenas e o tipo de mão-de-obra empregado. “Se algum critério estiver longe do ideal, o financiamento pode ter um risco de crédito maior (juros mais elevados) ou o financiamento pode simplesmente não ser aprovado”, explica a executiva.

O BB também tem procurado levar a preocupação socioambiental aos pequenos e médios empresários. Ao todo, há 1.500 agências habilitadas em todo o País a ensinar esse público a promover o desenvolvimento regional sustentável, por meio de mudanças na cadeia de negócio. “Com a ajuda para enxergar o potencial dessas comunidades pode-se chegar à conclusão de que é preciso mudar a vocação de um município ou de uma determinada cadeia produtiva”, afirma Izabela. No momento, há 1.400 diagnósticos de planos de negócio em fase de elaboração, como a produção de leite e a confecção de bordados.
(Carta Capital, 22/02/06)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -