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2006-02-22
Por Mark Sommer
No Pacífico Sul existe um arquipélago considerado por muitos uma espécie de paraíso terrestre: Vanuatu, famoso por seu clima ensolarado e sua próspera indústria financeira. Mas agora Vanuatu tem um motivo menos agradável de fama: pode se transformar na primeira vítima do cada vez mais rápido aumento do nível dos mares decorrente do aquecimento global. Uma ilha do arquipélago já foi abandonada por seus habitantes, pois as marés inundaram casas e jardins. Com a maior parte de sua massa de terra firme a menos de um metro acima do nível do mar, no decorrer deste século grande parte de Vanuatu pode ficar inabitável.

“Eles queimam combustível e nós morremos”, disse Jotham Napat, diretor do Serviço Meteorológico de Vanuatu, para refletir a dramática situação causada pelas indústrias das nações mais ricas, que castiga em primeiro lugar as pessoas alheias a essas atividades. A preocupante situação de Vanuatu não é conseqüência de um capricho da natureza. A alteração climática está duplicando o ritmo histórico da elevação do nível dos mares, ameaçando as numerosas cidades que estão localizadas no litoral.

Entretanto, os impactos serão sofridos primeiramente em zonas costeiras baixas como os deltas de Bangladesh, na Ásia, e os pântanos do sul do Estado norte-americano de Luisiana. E como se pôde ver claramente, tanto em New Orleans quanto por ocasião do tsunami no Sudeste Asiático, a esmagadora maioria das vítimas será de pobres, que não podem se dar ao luxo de construir muros para deter as águas, nem recuperar seus meios de vida ou se mudar para terras mais altas. Em todo o planeta, o nível dos mares está subindo à razão de dois a quatro milímetros por ano, e a metade desse aumento é provocada pela atividade industrial, enquanto a outra metade tem origem nas variações naturais.

Por menores que pareçam esses aumentos, os números são mais ameaçadores quando acrescentados a outras tendências que aceleram os efeitos. Na medida em que os furacões ocorrem com maior intensidade, as marés altas e as ondas causadas pelas tempestades levam terra adentro as águas marinhas, que arrasam casas, aplainam as dunas de areia e eliminam outros amortecedores naturais das cheias, bem com contaminam aqüíferos, cujo uso excessivo acelera a inundação das terras costeiras. Estima-se que o nível dos mares aumentará, em média, pelo menos meio metro no século XXI e um metro e meio até 2200. Mas estes números não dizem tudo. Em geral, para cada 30 centímetros de elevação do nível do mar, a água penetra mais de 300 metros terra adentro.

Os cientistas dizem que, por causa dessas tendências, chegou o momento de afastar a população da costa, quando isso ainda pode ser feito de maneira ordenada. Mas também reconhecem que tais medidas preventivas não são politicamente fáceis de serem adotadas. As tendências correm na direção oposta. Em todo o mundo, pessoas ricas estão construindo mansões na costa e as multinacionais erguem hotéis e condomínios de muitos andares, pagando pelo privilégio de ver como seus investimentos serão arrastados pela água. O tsunami do Sudeste Asiático, a inundação de Luisiana e o acelerado derretimento do gelo do Ártico estimulam os bem fundados temores sobre um Apocalipse marinho, uma inundação planetária como a da Arca de Noé.

Neste caso, a climatologia coincide com a profecia bíblica no sentido de insistir na mensagem de que devemos rever nosso caminho, do contrário estaremos diante de uma civilização coberta pelas águas como o mito da Atlântida, o legendário continente perdido. Até que ponto é inevitável o aumento do nível dos mares e, se assim for, o que devemos fazer para nos adaptarmos a isso? Colocamos em marcha uma série de acontecimentos problemáticos que nem mesmo começamos a compreender. “Pensem naqueles que estarão vivendo depois de vocês”, diz Napat. Que justificativa vamos dar aos nossos filhos se insistimos, por exemplo, em continuar usando grandes veículos de alto consumo de combustíveis fósseis poluentes, que contribuem para afogar seu futuro em um túmulo de água?

(Mark Sommer, analista norte-americano, diretor do Mainstream Media Project, Ecoagencia, 21/02/06) http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1415&Itemid=2

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