Para GTA, hidrovia no Madeira ainda é objetivo de projeto hidrelétrico
2006-02-22
A construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio
Madeira, continua sendo apontada como preocupação por organizações
não-governamentais de Rondônia, integrantes da Rede Grupo de Trabalho
Amazônico (Rede GTA). As entidades dizem que o principal objetivo do
projeto é a criação de uma hidrovia no Rio Madeira.
A opinião das ONGs não muda mesmo depois que, em entrevista à
Radiobrás, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
Maurício Tolmasquim, descartou para o momento a construção de eclusas
no projeto do complexo hidrelétrico. As eclusas são canais feitos para
desviar o leito do rio e permitir o tráfego (subida e descida) de
embarcações.
"Esse anúncio é uma estratégia para deixar o projeto mais paleatável,
mas a hidrovia certamente continua como pano de fundo", avalia o
presidente da ONG ambientalista Rio Terra, Alexis Bastos.
O professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir) Artur Moret
ironiza: "É como uma roupagem nova para vender um peixe antigo. Os
impactos ambientais da barragem continuarão a ser enormes. As eclusas
são apenas parte do problema."
Quando o governo federal anunciou que construiria as duas
hidrelétricas, em junho do ano passado, estava prevista a estruturação
de uma hidrovia ao longo do Rio Madeira, com 4,2 mil quilômetros de
extensão. Ela representaria uma via alternativa para exportação da
produção agrícola do Centro-Oeste pelo Oceano Pacífico, atravessando a
Bolívia e o Peru.
Entre os principais impactos socioambientais do empreendimento citados
pelas ONGs está o reassentamento de 2 mil ribeirinhos, que teriam suas
casas alagadas, enfrentariam dificuldades em conseguir indenização
(porque não possuem documento da terra) e perderiam a fonte de renda
(pesca).
As entidades também acreditam em inchamento populacional de Porto Velho
e assoreamento do rio Madeira nos trechos anteriores às barragens,
além de alterações ambientais nocivas aos animais e plantas protegidos
pelas estações ecológicas de Moji Canava e Serra Dois Irmãos
(localizadas na área de influência das usinas).
A capacidade de geração das novas hidrelétricas será de 6,45 mil
megawwatts, mais da metade da energia produzida pela usina
hidrelétrica de Itaipu (a maior do Brasil, com potencial de gerar
11,20 mil megawatts) e 20 vezes o atual consumo total de energia em
Rondônia.
A construção das hidrelétricas deve demorar de oito a dez anos. As
obras só devem ser iniciadas após a obtenção da licença ambiental
prévia, seguida da concorrência pública entre construtoras, por meio
dos chamados leilões de energia.
(Agência Brasil, 21/02/06)
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