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2006-02-20
Mais do que promover a recomposição florestal e restaurar a área do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Campos Novos, no Meio-oeste catarinense, o trabalho de recuperação ambiental que vem sendo desenvolvido pela empresa Camargo Corrêa deverá se tornar referência mundial na restauração de corredores ecológicos para união de fragmentos remanescentes da mata atlântica. O projeto está sendo desenvolvido de forma pioneira e vai oferecer a garantia genética necessária para possibilitar a recomposição florestal do Brasil. A araucária, uma espécie ameaçada de extinção, é uma das principais beneficiadas.

A partir da realização do projeto, é possível que todas as ferramentas necessárias para a restauração florestal nativa se tornem acessíveis, disponibilizadas por mudas estudadas geneticamente. Monitorado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o trabalho desenvolvido há um ano já apresenta resultados práticos - de recomposição florestal nos arredores da usina - que podem ser considerados excelentes. A intenção é atingir a totalidade da área, que soma 56 hectares. Mais do que isso, apresenta técnicas eficientes e que podem ser aplicadas em outras partes do mundo com o mesmo objetivo.

A degradação da mata atlântica, provocada principalmente pela exploração de seus recursos, forçou o surgimento de áreas de conservação isoladas, sem conexão genética, prejudicando a perpetuação de muitas espécies. Esses núcleos não têm condições de se expandir, o que provoca a interrupção do fluxo gênico das espécies da fauna e flora nativas. Na prática, o que o trabalho desenvolvido na usina está fazendo é aproximar estes núcleos com a criação de ilhas que reproduzem condições iguais ou melhores àquelas encontradas originalmente na mata. Unindo-os, as condições necessárias para manutenção das espécies e suas variantes estão garantidas.

Utilizando novos conceitos e padrões de restauração que se beneficiam do uso de tecnologia de ponta, como exames de DNA das sementes, o projeto se efetiva com base na irradiação da biodiversidade, por meio dos núcleos especialmente montados dentro da área assistida. Nesta técnica, torna-se desnecessário o plantio total das áreas com espécies arbóreas, comumente idealizado nos processos de recuperação ambiental. "O que estamos fazendo aqui visa a facilitar a restauração natural do ecossistema", explica o ambientalista Eduardo Peixoto, diretor da Organização e Planejamento em Biodiversidade (Orbi), empresa responsável pela execução do trabalho.

Mudas mantêm caráter original
As mudas disponibilizadas nas ilhas de alta diversidade são produzidas no viveiro genético construído dentro da área a ser recuperada. Produz plantas com caracterização genética que assegura originalidade com as florestas brasileiras. Além disso, o projeto usa transposição de galhos dentro das ilhas. "Este método permite a germinação de espécies vegetais e serve de abrigo para a fauna. Os pássaros, por exemplo, ajudam na recuperação quando defecam de cima dos galhos. As sementes, na terra, germinam naturalmente". O processo de plantio inicia-se com a coleta de sementes na natureza, ao longo do ano, como forma de garantir o maior número possível de matrizes. Depois, elas são levadas para o viveiro, onde são semeadas para originarem as mudas.

"Todo processo é gradual e longo. A própria natureza se encarregará da sua continuidade e do incremento da biodiversidade local", define Peixoto, que classifica a pesquisa na produção de mudas de araucária como extremamente importante para a recomposição do ecossistema original. "Iniciamos um trabalho de sucessão buscando alternativas que se aproximassem dos processos naturais, imitando a própria natureza e dando a ela as condições necessárias para que consiga se recuperar e formar os corredores ecológicos que irão se conectar aos espaços remanescentes da mata atlântica", finaliza. Além de apresentar resultados melhores, o processo utilizado pela Camargo Corrêa também é economicamente mais viável.

Atenção especial para a araucária produzida em viveiro
No processo de proliferação das mudas, a araucária está recebendo atenção especial. Análises feitas em laboratório utilizando amostras das mudas produzidas possibilitam verificar se a coleta de sementes é eficiente e se os futuros cruzamentos entre as plantas do viveiro vão manter suas características. O agrônomo Alexandre Mariot, doutorando em recursos genéticos e membro do núcleo de pesquisas em florestas tropicais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que os resultados são animadores. "Os valores que encontramos são os melhores em Santa Catarina", garante.

Na prática, quer dizer que o viveiro está produzindo mudas de araucária de excelente padrão. O trabalho iniciou-se com a coleta aleatória de 54 mudas do viveiro. Elas foram encaminhadas para o laboratório de fisiologia do desenvolvimento e genética vegetal da UFSC, onde ocorreu a caracterização genética. Parte das mudas será direcionada para restauração da área impactada como forma de ajudar na recomposição florestal do Estado. Para iniciar cadeias de recomposição na região de Campos Novos, as mudas serão doadas pela construtora para as prefeituras e repassadas a unidades de preservação e estudantes. No caso específico da araucária, a pesquisa surge como uma nova luz sobre a espécie. O projeto vai ser apresentado na sede do BID, em Washington, no mês que vem, e servirá de modelo para a adoção de programas semelhantes em várias partes do mundo. "Estamos um passo à frente, e a metodologia tem chamado atenção", finaliza Mariot.

O projeto de recuperação utilizando núcleos e mudas com garantias genéticas deverá se tornar padrão dentro da Camargo Corrêa, que tem obras em todo o País e na América Latina. Segundo o engenheiro de meio ambiente, Mário Tanaka, estudos de viabilidade já estão sendo feitos internamente, visando à ampliação do projeto para outras unidades em que a empresa atua.
(A Notícia, 20/02/06)

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