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2006-02-20
A influência do derretimento de gelo antártico no aumento global dos níveis do mar é motivo de preocupação entre os pesquisadores, disse Chris Rapley, diretor da Pesquisa Antártica do Reino Unido. "Algumas partes da camada de gelo da Antártida (...) começaram a derreter em um ritmo tão intenso que isso se torna uma contribuição significativa para o aumento do nível do mar", disse o analista.

Rapley fez sua apresentação na Sociedade Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) durante a reunião que este organismo realiza em St. Louis, nos Estados Unidos. Em um relatório preliminar, Rapley previu que o começo da desintegração da camada de gelo ocidental antártica poderia elevar o nível do mar em até 5 metros. O aquecimento global duplicou a quantidade de água que as geleiras da Groenlândia jogam no Atlântico, e o cálculo sobre sua contribuição do fenômeno ao nível do mar pode ser otimista demais, segundo um alerta feito por vários cientistas americanos na semana passada.

Boa parte da comunidade científica acha que a atividade humana - em particular a combustão de hidrocarbonetos nos veículos automotores, as indústria e a calefação - contamina a atmosfera com gases que, através do chamado "efeito estufa", causam um aumento global das temperaturas. Rapley disse que deve compreender-se com urgência o motivo das mudanças no derretimento de gelo na Antártida, tendo como objetivo a previsão de quanto gelo será jogado nos mares e quando isso ocorrerá. "Os atuais modelos feitos por computador não incluem o efeito da água em estado líquido sobre o deslizamento e os fluxos de gelo, de modo que só geram cálculos conservadores sobre o comportamento futuro", afirmou Rapley.

De acordo com o cientista britânico, há apenas cinco anos a Antártida era considerada como um gigante adormecido em termos de mudança climática. Para Rapley, "o gigante despertou e é melhor que se preste atenção nele". Os cientistas estão preocupados especialmente com o ritmo de derretimento dos gelos da Antártida ocidental, uma região em parte reivindicada por Reino Unido, Argentina e Chile.

Nos últimos anos, as geleiras do Mar de Amundsen, no manto de gelo da Antártida ocidental, e outras duas que estão localizadas na Antártida oriental, mostraram uma rápida diminuição de tamanho. O derretimento do gelo da Antártida ocidental levou cientistas britânicos a monitorar algumas áreas pouco visitadas do continente, utilizando vigilância geofísica aérea. Os cientistas usaram dois aviões Twin Otter para colher dados da Ilha Pino e da geleira Thwaites. Os resultados do estudo enriqueceram as informações sobre a topografia do leito rochoso e das camadas internas do manto de gelo da região.

Outro estudo apresentado em St. Louis por James Zachos, professor de ciências da Terra da Universidade da Califórnia, mostrou que a atividade humana está emitindo gases a um ritmo 30 vezes maior do que o período de maior aquecimento da história do planeta. "As emissões que causaram esse episódio de aquecimento global provavelmente duraram 10 mil anos", informou Zachos. Zachos é o principal pesquisador sobre o período de aquecimento global conhecido como "Máximo Termal Paleoceno-Eoceno".

Durante esse período, ocorrido há 55 milhões de anos, a temperatura registrou um aumento de nove graus centígrados como resultado da emissão de dois dos principais gases estufa: metano e dióxido de carbono. Em um estudo publicado em junho do ano passado, Zachos declarou que a emissão de carbono foi de cerca de 4,5 trilhões de toneladas em um intervalo de 10 mil anos. "Se a atual tendência for mantida, esta é a mesma quantidade de carbono que as indústrias e os automóveis emitirão durante os próximos 300 anos", concluiu Zachos.
(EFE, 19/02/06)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/02/19/ult1809u7485.jhtm

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