Recuperação da camada de ozônio pode ser truque solar
2006-02-15
Depois da proibição mundial, em 1987, de produtos químicos que destroem a camada de ozônio da atmosfera da Terra, cientistas esperaram ansiosamente pela recuperação das concentrações do gás. Ainda que a recuperação aparentemente tenha começado, um novo estudo sugere que a melhoria pode ser ilusória, representando uma resposta à uma variação de 11 anos na intensidade solar, chamada de ciclo solar.
A Terra recebe constantemente radiação ultravioleta do sol, mas a maioria desses raios nocivos são absorvidos pelo ozônio da estratosfera, um gás composto por três átomos de oxigênio. Quando cientistas provaram que produtos químicos fabricados pelo homem, chamado de clorofluorcarbonos (CFC) destruíam o ozônio, 189 países proibiram a emissão de CFC, de acordo com o Protocolo de Montreal.
A queda global de ozônio na estratosfera pareceu diminuir no final dos anos 90 e no começo de 2000, levando alguns pesquisadores a sugerir que a recuperação do ozônio havia começado. Outros cientistas refutaram essas afirmações apontando que, mudanças climáticas, o ciclo solar e gases emitidos por erupções vulcânicas também causam uma flutuação na concentração de ozônio que, temporariamente, aparentam uma recuperação.
Para testar o efeito dessas condições meteorológicas, uma equipe de cientistas do Instituto de Física Atmosférica em Wessling, na Alemanha, desenvolveu um modelo computadorizado que incorpora todos os fatores que influenciam a produção do gás. O modelo indica que o aparente aumento de ozônio durante os anos 90, provavelmente, resultou um aumento na intensidade solar e não da proibição do CFC.
A radiação solar extra aumenta a produção de ozônio ao dividir os átomos de oxigênio, que colidem com outros átomos do gás formando moléculas de ozônio. O ozônio se quebra rapidamente, causando, novamente a queda de concentração quando os raios solares diminuem. A equipe divulgou os resultados na publicação "Geophysical Research Letters", no dia 8 de fevereiro.
O modelo mostra ainda que a concentração global de ozônio não se recuperará permanentemente até que o sol alcance sua intensidade mínima em 2008. O sol então começará um novo ciclo até a intensidade máxima enquanto o CFC continuar a cair, explica o co-autor do estudo, Martin Dameris.
"Este é realmente um dos primeiros estudos que tenta quantificar o papel do ciclo solar e como ele pode complicar a detecção da recuperação do ozônio", afirma o meteorologista da NASA, Drew Shindell, citado pelo serviço de notícias online da revista "Science", o ScienceNow. Segundo ele, essa detecção representa um passo importante no julgamento dos efeitos do Protocolo de Montreal.
(Estadão Online, 14/02/06)
Link:http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=23157