O Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, na fronteira boliviano-peruana, está a ponto de transbordar por causa das intensas chuvas que castigaram a região neste fim de semana e continuam nesta segunda-feira na maior parte da Bolívia e na zona andina do Peru. Os temporais dos últimos dias provocaram a cheia do lago de 8.000 km2 e isolaram "dezenas de comunidades" indígenas nas províncas aimaras de Ingavi e Gualberto Villarroel, parte da jurisdição territorial do departamento de La Paz. Nas últimas três semanas, as águas subiram pouco mais de um metro e vários povoados ribeirinhos perderam suas casas e plantios, de acordo com um relatório da capitania do Porto de Copacabana, um santuário católico situado a 200 km de La Paz, na fronteira com o Peru.
Segundo estimativas extra-oficiais, 200.000 pessoas, principalmente a população indígena e camponesa, vivem nas margens do lago, na parte boliviana. Só entre sábado e domingo, as águas subiram 40 cm na região, um concorrido ponto turístico, explicou um dirigente local, Víctor Wara Wara.
Enquanto isso, no Peru, a Defesa Civil alertou para a possibilidade de que se alcance um nível crítico. As águas castigam com ferocidade principalmente o ocidente andino, onde está encravado o Titicaca, a 100 km de La Paz, e o norte e nordeste amazônicos, onde ficam os departamentos de Beni e Pando. s intensas precipitações castigaram os bairros residenciais de La Paz. Um alto funcionário da prefeitura de La Paz, Rolando Camacho, morreu na madrugada de domingo para segunda-feira, enquanto comandava grupos de trabalhadores no bairro de Irpavi, em La Paz. Camacho, que supervisionava as obras junto com o prefeito de La Paz, Juan del Granado, foi alcançado por uma onda que emergiu de repente e foi atingido, aparentemente, por uma pedra, que o matou na hora. O prefeito de La Paz saiu ileso, apesar de que as águas o levaram na plataforma de uma ponte que também ficou avariada, informou a administração municipal. Ele pediu ajuda à comunidade internacional, enquanto os serviços de meteorologia informaram que as chuvas não cessarão na maior parte do país. "Precisamos agora de 700.000 dólares e sete milhões de bolivianos (900.000 dólares) para os trabalhos de emergência. Vamos ver se podemos consegui-lo rapidamente", pediu o prefeito.
No populoso bairro de San Antonio, um muro de pedra desmoronou sobre um homem de 28 anos, que morreu na hora. O número de mortos provocados pela chuva aumentou para 15 na última semana e para 65 desde o início do ano. Desde então, as chuvas causaram a erosão de estradas e o desmoronamento de montanhas. O caudaloso Rio Choqueyapu, um dos mais fortes entre os 50 que cruzam a cidade-sede do Executivo boliviano, arrasou na noite passada a região de Carreras, a 30 minutos do centro de La Paz.
(AFP, 13/02/06)
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