Exportadores de cereais não querem recolher taxa tecnológica da Monsanto
2006-02-14
A
Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que representa gigantes
do setor como Cargill, Archer Daniels Midlandl e Marubeni, está buscando maneiras
de evitar que suas associadas sejam responsáveis por recolher a taxa tecnológica
pelo uso não-autorizado da tecnologia de plantas transgênicas da americana
Monsanto. Os exportadores dizem que a atribuição deveria ser da própria multinacional.
Pelo sistema atual, indústrias, exportadores e cerealistas prestam serviço à
Monsanto testando as cargas da soja que compram para transgenia e, caso o
agricultor não possa comprovar que plantou com sementes licenciadas, a indústria
deve recolher uma taxa tecnológica equivalente a US$ 3,60 a tonelada, descontada
do agricultor. Parte da taxa fica com a indústria a título de remuneração pelo
serviço de coleta, e o restante é repassado à Monsanto.
"Este não é um serviço que deveria ser prestado pelas indústrias, mas por
funcionários da própria Monsanto", diz Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec. A
entidade teve reunião na semana passada com representantes do governo para
discutir o assunto.
Por trás da ação da entidade, está o interesse de associadas, sobretudo
multina-cionais, que foram pressionadas a aceitar o acordo com a Monsanto sob
orientação de suas matrizes no exterior. "Há quase um ano, participei de uma
reunião em que um executivo de uma multinacional da soja esbravejou contra a
proposta da Monsanto. Mas quando a ordem do exterior veio, a empresa dele foi uma
das primeiras a assinar o acordo", diz uma fonte da indústria.
Mendes diz que o interesse da Anec é defender os produtores, uma vez que a taxa
tecnológica da Monsanto é descontada do preço da soja paga ao agricultor. Os
motivos, no entanto, podem ter implicações comerciais para o setor.
Isso porque as grandes multinacionais da soja aderiram ao acordo com a Monsanto,
mas as pequenas e médias esmagadoras nacionais resistem a assinar o contrato. "Se
uma empresa não assina, ela se torna mais competitiva porque não irá descontar a
taxa tecnológica, e naturalmente o agricultor vai preferir vender a ela do que a
mim", diz fonte de multinacional. "Se todas as empresas aderissem ao contrato,
não haveria problema, mas como muitas pequenas e médias não aderiram, isso cria
uma concorrência inesperada", afirma. "Especialmente em ano desfavorável para a
soja, como este, qualquer ganho é bem-vindo".
A Monsanto informa que, "o número de adesões confirmadas já permite (...) o
funcionamento adequado e pleno do sistema. Quanto às pendências que existem com
número reduzido de cerealistas, a Monsanto esclarece que continua fazendo
contatos para o acerto dos detalhes finais".
(GM, 14/02/06)