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2006-02-13
As exigências feitas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para conceder a licença ambiental do projeto termelétrico da (Central Termoeletétrica Sul) CTSul elevou o custo do empreendimento em mais US$ 100 milhões. Com isso, a usina a carvão que será implementada em Cachoeira do Sul, deve receber investimentos estimados em cerca de US$ 860 milhões, informa o presidente da CTSul, Douglas Carstens. A empresa, que não conseguiu participar em dezembro do leilão de energia que efetivou a compra da geração de Jacuí 1 e Candiota 3, tentará vencer o leilão que deve ser realizado pelo governo federal até o final do primeiro semestre de 2006.

Jornal do Comércio (JC) - Quais foram os reflexos para a CTSul da recente conquista da Licença Prévia para implantação da termelétrica de Cachoeira do Sul?

Douglas Carstens - Em um empreendimento desse tamanho, o assunto garantia é estratégico e há a necessidade de ser tratado constantemente. A licença ambiental é um documento importante que permite o início de várias ações e atualizações quanto às garantias de equipamentos. As exigências ambientais elevaram em US$ 100 milhões o investimento na obra.

JC - Quais são as diferenças entre o leilão realizado em dezembro e o que irá acontecer neste ano?

Carstens - No leilão do ano passado, inúmeras empresas careciam de licença ambiental. Alguns desses projetos já devem conseguir essa licença até o próximo leilão. Deverá ocorrer uma concorrência maior no leilão deste ano. Foi muito triste não participar do último leilão já que estávamos inscritos. O momento era propício. Nos faltou a licença prévia, mas a falta da licença não foi culpa da Fepam ou nossa culpa. É um processo bastante trabalhoso, as exigências são várias. Essa termelétrica é o primeiro empreendimento a carvão deste nível no Brasil. O projeto é comparável às melhores usinas da Alemanha, do Japão, dos Estados Unidos. É um projeto moderno. Nós deveremos ter um consumo de 180 mil toneladas a 300 mil toneladas de carvão ao mês para uma geração de 650 MW (cerca de 18% da demanda média de energia do Rio Grande do Sul).

JC - Que dificuldades as termelétricas deverão enfrentar no leilão?

Carstens - São três módulos de disputa. No primeiro módulo, evidentemente, as usinas hidráulicas são as que têm mais chances por ainda terem um custo menor, tanto na sua concepção, quanto na operação. As hidráulicas que não vencem no primeiro módulo, disputam o segundo pois têm melhores preços que as térmicas. Sobra o terceiro módulo para as térmicas disputarem. Se houver uma quantidade muito grande de hidrelétricas bem sucedidas, não sobrará espaço para as térmicas.

JC - Jacuí 1 e Candiota 3, por serem projetos mais antigos e enquadrados em outra legislação, apostavam em subsídios para diminuir o custo da energia. Qual será o diferencial da CTSul?

Carstens - A época de subsídios no Brasil já passou. A volta do subsídio não é um bom caminho, nós encaramos o nosso carvão como combustível. Agora há a oportunidade de deslanchar os projetos sem o apoio de subsídios. Quando decidimos pelo combustível, optamos por possuir as reservas de carvão e não adquirir o insumo de terceiros. Isso era uma questão estratégica. Esse é um dos fatores que permite sermos bastante competitivos. Temos condições de ter um preço competitivo devido ao custo do combustível. Temos três grandes complexos de carvão mineral, ao lado da usina, que dão sustentação ao projeto. Estrategicamente, nós gostaríamos de ter adquirido mais carvão do que o que conseguimos, mas é o suficiente para alimentar a usina por mais de um século. As reservas são estimadas em 434 milhões de toneladas. A CTSul também tem um juro de financiamento baixo, de 5% ao ano, e três anos de carência. Estamos entrando em uma nova fase, de trazer grandes empresas para fazer parte do projeto da CTSul. Em alguns dias estaremos na Alemanha, negociando com dois grupos a participação no empreendimento.

JC - Caso a CTSul não consiga vender sua energia no leilão deste ano, até quando a empresa pode persistir com o empreendimento?

Carstens - Essa é uma questão que nos preocupa muito. Um projeto desse porte é muito caro, tem um custo muito alto mensalmente. Nós tínhamos a perspectiva de iniciar a obra em 2004 e já estamos em 2006. Caso não seja possível comercializar a energia, pretendemos ir ao mercado de carvão, vendendo parte do que já possuímos. A CTSul já investiu US$ 51 milhões no seu projeto.

JC - Quais são as características do acordo com o parceiro chinês, a China National Machinery and Equipment Import and Export Corporation (CMEC)?

Carstens - Desde 1996 estamos negociando com a CMEC. No ano de 2003, assinamos o primeiro contrato de financiamento. Em 2004, na presença do presidente da República, nós reassinamos esse contrato. Era um contrato de financiamento de US$ 757 milhões na primeira fase (atualmente ele está em cerca de US$ 860 milhões), e na segunda etapa ele passa para US$ 1,14 bilhão. Nós acreditamos que o Brasil vai crescer e a energia é peça fundamental nessa questão. Temos a possibilidade de ampliar a geração da usina. Nós temos tecnologia de ponta, financiamento, combustível, todos os predicados para aumentar a capacidade de geração do projeto.

JC - As restrições de ambientalistas quanto às termelétricas a carvão preocupa?

Carstens - Nosso projeto é moderno e nós escutamos os ambientalistas locais. Convocamos os ambientalistas para continuarem fazendo parte do processo. Demos exemplo ao órgão ambiental de seriedade. Sabemos da nossa responsabilidade ambiental e não economizamos nessa área. Nunca deixamos de respeitar a palavra do ambientalista sério, não o de momento.
(JC, 13/02/06)

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