A soja no futuro do biodiesel gaúcho
2006-02-13
A inserção do Rio Grande do Sul no novo mundo do combustível auto-sustentável
passa por uma das culturas mais tradicionais da região, a soja. Essa deve ser a
principal contribuição gaúcha para a produção de biodiesel, cuja matéria-prima são
óleos vegetais. Apesar do interesse de agricultores, a cana-de-açúcar, usada para
produzir outro biocombustível - o álcool -, deve continuar sendo uma lavoura
secundária no Estado.
Mesmo com as propagadas vantagens e os incentivos que o governo federal vem
oferecendo a quem produzir biodiesel a partir de mamona, é a soja que deve
sustentar a produção do combustível nos próximos anos. A adição de 2% de
biodiesel ao diesel comum passa a ser obrigatória em 2008.
A produção de biodiesel ficou em torno de 70 milhões de litros em 2005, de acordo
com estimativa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP). A demanda do produto no mercado interno crescerá para 800 milhões de
litros nos próximos dois anos. A ANP projeta que, até 2008, serão sintetizados
1,2 bilhão de litros de biodiesel no Brasil, abrindo a possibilidade de
exportação de 400 milhões de litros.
Estado conta com estrutura disponível para extrair óleo
Lavoura consolidada no Brasil, a soja tem altos níveis de tecnologia e
produtividade e está disponível para suprir a indústria. Nesse cenário, o Rio
Grande do Sul assume papel importante. Como terceiro maior produtor do grão no
país, o Estado pode ser fornecedor da indústria do biocombustível, com a vantagem
de ter estrutura disponível para extrair e vender o óleo.
- Entre 18% e 20% da capacidade instalada de esmagamento está ociosa - ressalta
David Chazan, coordenador executivo do Programa Gaúcho de Biodiesel, da
Secretaria de Ciência e Tecnologia.
Enquanto são plantados cerca de 4 milhões de hectares de soja, a área com mamona
não passa de 1,5 mil hectares no Rio Grande do Sul, informa o agrônomo da
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag), Valdecir Zonin.
Por isso, a produção de óleo de soja deve ser direcionada para o combustível. Se
faltar óleo de cozinha no mercado, os derivados de canola e de girassol supririam
a necessidade de consumo até que as lavouras das outras oleaginosas ganhassem em
tecnologia e escala.
Além da mamona, o girassol e a canola são ótimas matérias-primas para o biodiesel.
Rendem cerca de 50% de óleo, enquanto a soja rende 20%. Contudo, para se
aproveitar todo o potencial das plantas, é preciso variedades adaptadas ao clima
e ao solo gaúchos. Também é necessária a definição do calendário com as melhores
datas de plantio para a cultura (zoneamento agrícola) - pré-requisito para que o
produto tenha crédito bancário.
Coordenador do programa de bioenergia da Emater, o agrônomo Alencar Paulo Rugeri
observa que a mamona tem ainda a vantagem de ser resistente à falta de água, o
que anima quem teve prejuízo nas últimas 10 safras por causa da seca.
O interesse das empresas
> A Vinema, de Camaquã, planta e beneficia mamona desde 1997, mas produz apenas o
óleo.
> A BS Bio deve instalar-se em Passo Fundo este ano para produzir biodiesel. A
empresa, de investidores gaúchos, vai comprar o óleo e produzir biodiesel e
glicerina (um subproduto do processo de fabricação) a partir de 2007.
> Outras duas empresas aguardam que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) analise suas cartas-consulta. Uma de Veranópolis e outra de
Cachoeira do Sul.
Com a adição de 2% ao diesel, a demanda de biodiesel no país será de 800 milhões
de litros por ano.
Álcool busca produtividade
A estiagem está fazendo produtores do norte do Estado buscarem alternativas à
produção tradicional de verão (milho, feijão e soja), apostando na cana-de-açúcar.
O coordenador do programa de bioenergia da Emater e agrônomo Alencar Paulo Rugeri
relata que há muitos produtores interessados no cultivo.
- A cana-de-açúcar e a mandioca têm ciclos longos e sofrem menos com a seca -
explica.
As duas plantas servem para produzir álcool. O Estado importa 99,9% do álcool que
consome, lembra David Chazan, coordenador executivo do Programa Gaúcho de
Biodiesel, da Secretaria de Ciência e Tecnologia.
- Temos plantação de cana, mas não temos produtividade, pois é usada apenas para
fazer cachaça ou alimentar animais. A produção de açúcar e álcool requer alta
produtividade - observa.
Conforme Chazan, Embrapa e Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro)
buscam as melhores cultivares. Há, segundo ele, interesse do Estado, pois todo o
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido na compra do
álcool importado vai para o Estado produtor.
Segundo a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, a empresa Globorr, de São
Paulo, está negociando a instalação de uma usina produtora de álcool, açúcar e
energia elétrica em São Luiz Gonzaga, nas Missões. O investimento para produzir
100 milhões de litros de álcool por ano está orçado em R$ 140 milhões.
(ZH, 13/02/06)