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etanol biocombustíveis
2006-02-13

De Bill Gates a George Bush, passando pelos fundadores do Google, algumas das personalidades e empresas mais influentes do globo estão voltando as atenções para um produto em que o Brasil é pioneiro: o biocombustível. Ontem (12/02) e hoje (13/02), Zero Hora avalia os motivos desse interesse e as perspectivas do Brasil e do Rio Grande do Sul num mundo cada vez mais preocupado em depender menos do petróleo.

A alta do barril do petróleo, de US$ 33,87 para US$ 61,85 em dois anos, é o principal argumento que convenceu algumas das mentes mais influentes do mundo a incluir palavras como etanol (o nosso álcool) e biodiesel nos seus discursos. Governantes como Bush, afinal, também parecem preocupados em tomar medidas que ajudem a reduzir a emissão de poluentes dos derivados de petróleo, depois do surgimento de indícios de que o aquecimento global está provocando mudanças sensíveis no clima, como os furacões que atingiram os Estados Unidos ano passado.

Além disso, o álcool e o biodiesel ganham espaço na agenda mundial à medida que pesquisadores se convencem do fim das reservas de petróleo nas próximas décadas. O diretor do Centro de Estudo do Petróleo (Cepetro) da Unicamp, Saul Suslick, afirma que a disponibilidade do produto deve durar somente mais 50 anos.

O conjunto de argumentos contra o petróleo levou Bush a lançar a meta de reduzir o "vício" dos Estados Unidos, como definiu, cortando as importações do Oriente Médio em mais de 75% até 2025. Menos de 20% do petróleo utilizado pelos EUA vem desta região. Pode parecer pouco, mas é um número relevante para uma nação que consome 1,2 trilhão de litros de petróleo por ano. No Brasil, o consumo é de 98,7 bilhões de litros.

A medida também revela a preocupação do governo americano em tirar o Oriente Médio do foco da atenção do mundo. Com menos dinheiro circulando nos países islâmicos proveniente dos abundantes poços de petróleo, Bush estaria apostando na redução da atividade terrorista na região - e da suposta necessidade de intervenções militares.

Gates e os fundadores do Google avaliam negócios

O presidente americano não está sozinho. Na quarta-feira, a União Européia apresentou medidas para impulsionar o uso do biocombustível e citou o Brasil como país que desenvolveu um setor forte na obtenção do etanol da cana-de-açúcar. O álcool brasileiro é o caso mais citado porque é o mais bem-sucedido exemplo de combustível alternativo no mundo.

- Num primeiro estágio, somente o álcool pode reduzir o consumo de gasolina - afirma Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE) e professor de planejamento energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Um dos motivos que também leva os americanos a jogar os holofotes sobre o etanol é a determinação da Casa Branca em dobrar o consumo de álcool até 2012, medida aprovada no Congresso do país.

Investidores como Bill Gates, fundador da Microsoft, estão vendo a possibilidade de ganhar dinheiro nesse cenário. Larry Page e Sergey Brin, os criadores do Google, estiveram no Brasil conhecendo as instalações da refinaria Cosan, em Barra Bonita (SP). Detalhes do encontro não foram revelados, mas é provável que a dupla esteja interessada em saber por que as ações da Pacific Ethanol, empresa americana que produz álcool a partir de milho, subiram de US$ 6 em fevereiro do ano passado para US$ 19 em janeiro último. O maior acionista da Pacific Ethanol é Gates.

Potencial brasileiro está no álcool

A eficiência do combustível feito a partir da cana-de-açúcar é um dos motivos que atrai a atenção do mundo pelo álcool brasileiro.

Cada unidade de energia gasta para processar um litro de álcool é multiplicada por oito com a queima do combustível. Ou seja, a transformação da cana em etanol resulta, na prática, em mais energia para a sociedade - e tem menor custo.

O litro do álcool de cana-de-açúcar custa US$ 0,25 para o produtor. Igual quantidade de álcool de milho, a matéria-prima mais popular nos EUA, vale US$ 0,34. Esta fórmula prova a eficiência da cana frente às demais matérias-primas do álcool.

A boa notícia para o Brasil é que a cana tem grande possibilidade de expansão. Hoje, a cultura ocupa 5 milhões de hectares. Segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, esta área pode ser multiplicada por 10 nos próximos anos, sem invasão de florestas ou substituição de outras plantações.

Mais uma vez, o Brasil está sozinho nesta condição: não há outro país com tantas terras disponíveis. Como a cana necessita de clima tropical e umidade, as nações desenvolvidas - a maioria situada em regiões temperadas - terão que buscar outras alternativas.

Mas é pouco provável que o álcool tome o lugar da gasolina por completo no longo prazo: não há tantas terras disponíveis no mundo. Por isso, analistas são unânimes ao dizer que os biocombustíveis são uma boa opção para incrementar a economia brasileira, mas nada além disso.

- O álcool não vai nos tornar a Arábia Saudita (principal fornecedor de petróleo) - compara Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura e professor de planejamento estratégico da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Um mundo com várias opções à disposição


Os EUA, por exemplo, usam mais de 500 bilhões de litros anuais de gasolina. Se o Brasil multiplicasse por 10 a produção de etanol, chegaria a 150 bilhões de litros por ano.

Schechtman avalia que nenhum combustível no futuro terá a mesma presença que o petróleo hoje. A tendência é cada país buscar uma solução e o mundo entrar numa era na qual as economias são empurradas a um grande número de fontes de energia, biocombustíveis entre elas.

- O Brasil não tem interesse em ser o único fornecedor de combustível no futuro - afirma Ricardo Dornelles, diretor do departamento de combustíveis renováveis do Ministério de Minas e Energia.

Para o governo, nenhuma nação irá optar pelos biocombustíveis se a produção estiver concentrada num único país. É por isso que o Palácio do Planalto vem recebendo delegações da Coréia do Sul, da China e de outros países e trocando informações sobre produção de álcool e biodiesel. A idéia é que os biocombustíveis se tornem um produto comum no comércio internacional. Só assim o Brasil poderia se aproveitar da nova onda energética.

A maldição do petróleo

Guerras, pobreza e ditadura fazem parte da história de grande parte dos maiores produtores de petróleo. Com a escassez do produto nas próximas décadas, é provável que boa parte destes conflitos e problemas sociais se acentuem.

O principal ingrediente que deverá esquentar os ânimos em países do Oriente Médio, por exemplo, será o dinheiro do próprio petróleo. A tendência é que os governos destas nações encham os cofres públicos e que, em conseqüência, aumente a disputa pelo poder.

- Quanto mais o petróleo ficar escasso, mais tende a recrudescer o conflito - diz o coordenador do departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Leandro de Lemos.

Para o mestre em relações internacionais Ielbo de Souza, da Unisinos, esses governos devem investir os lucros na remodelação de suas economias. O problema será encontrar uma nova matriz de produção em pouco tempo.
(ZH, 12/02/06)


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