PF inicia guerra para desocupar reserva no Pará
2006-02-13
A Polícia Federal (PF) destruiu sexta-feira (10), com 500 quilos de dinamite, a primeira de 34 pistas de pouso clandestinas na Estação Ecológica da Terra do Meio, sudeste do Pará, região onde foi assassinada, há um ano, a freira norte-americana Dorothy Stang. O ato, que teve a presença dos ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do Meio Ambiente, Marina Silva, além do diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, deu a largada ao processo de evacuação de uma área de 3,37 milhões de hectares, o equivalente aos territórios de Alagoas e do Distrito Federal juntos.
A estação é a maior reserva de proteção integral do mundo, em área contínua. Das 34 pistas ilegais, 23 ficam na estação e 11 no seu entorno. As estradas de escoamento da produção e de ligação entre as cidades que cortam a área serão também desativadas e os acessos por rio, vigiados em pontos estratégicos. No futuro, só poderão entrar na área expedições com fins científicos e servidores públicos de órgãos autorizados, como Ibama e Funai.
Os fazendeiros que comprovarem a legitimidade da propriedade serão indenizados, os grileiros, expulsos e os colonos reassentados em outros locais a fim de que a área se regenere e volte a ser floresta. Essa é a primeira vez no País que uma grande área devastada deixa de ser zona de fronteira agrícola e volta a ser mata, segundo observou Marina. "A presença do Estado será cada vez mais forte, pois se trata de uma missão civilizatória do mais alto interesse do País", disse.
Rica em recursos naturais, como mogno e outras madeiras nobres, a Terra do Meio virou alvo de cobiça e sofreu processo frenético de desmatamento nos últimos anos, até a morte de Dorothy, com seis tiros, em 12 de fevereiro de 2005, a mando de grileiros. Ela organizava a resistência de colonos contra investidas de grileiros. "A história de impunidade chega ao fim na região", disse Bastos, lembrando que o assassinato está esclarecido e os autores, presos.
O primeiro passo para conter a violência e a devastação foi o decreto baixado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva dias depois da morte da freira, criando a Estação Ecológica e o Parque Nacional da Serra do Pardo. O Exército fixou um expressivo contingente na área para dar suporte à intervenção do poder público em várias linhas. Só a Polícia Federal, em parceria com o Ibama e a Funai, realizou cinco grandes operações desde então.
Como resultado, o índice de desmatamento, que crescia à taxa de 500% ao ano, caiu em 80% no ano passado, a primeira queda em 30 anos. Em 2005, o Ibama aplicou R$ 144 milhões em multas ambientais, lavrou 110 autos de infração e embargou 100 mil hectares em fase de desmatamento. As operações, segundo Bastos, resultaram em mais de 240 prisões e no desmantelamento de várias quadrilhas.
(O Estado de S. Paulo, 11/02/06)