Cai o número de acidentes ambientais da Petrobras
2006-02-10
Cetesb e Ministério Público constatam melhora, mas consideram que "há muito o que
fazer". "Desenvolvimento sustentável com responsabilidade ambiental: essa é a
nossa escolha". O slogan adotado pela Petrobras em suas recentes palestras não
faz apagar o seu histórico negativo em relação à questão ambiental, marcado por
inúmeros e estrondosos acidentes envolvendo o petróleo, tanto na área terrestre
quanto em alto mar. No entanto, os investimentos mais recentes realizados pela
estatal em novos pólos produtores revelam uma empresa mais preocupada e cuidadosa
com os impactos negativos que seus empreendimentos causam ao meio ambiente,
segundo afirma a promotora de justiça regional do meio ambiente no Litoral Norte,
Elaine Taborda de Avila.
"A Petrobras tem melhorado bastante suas ações para minimizar os efeitos
colaterais de sua atividade", diz Elaine, que visitou, no ano passado, a base de
gás de Urucu, na Amazônia - instalada no coração da Mata Atlântica -, e também
acompanha de perto os trabalhos da estatal feitos em Caraguatatuba, no Litoral
Norte, onde será erguida uma nova unidade de processamento do combustível,
retirado do Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, descoberto em 2003.
Porém, apesar dos avanços nas ações relacionadas ao meio ambiente, a promotora
considera que ainda "há muito para ser aprimorado". "Temos ainda, infelizmente,
casos extremamente sérios, como o acidente ocorrido em fevereiro de 2004, na
região da Praia de Guaecá", lembra a promotora, referindo-se ao rompimento do
oleoduto OSBAT, em São Sebastião, que atingiu, além da praia e o mar, a Mata
Atlântica e o rio Guaecá. "O grande problema é que, até hoje, é possível enxergar
na região da mata o óleo brotando do chão", diz Elaine, que critica a morosidade
da Petrobras para reparar em definitivo os danos ambientais provocados pelo
acidente.
Desde o final de 2005, entretanto, a Petrobras vem fazendo reformas nos oleodutos
antigos - instalados no fim dos anos 60 - situados na região de São Sebastião,
onde funciona um dos principais terminais de armazenamento do óleo do País,
responsável por mais de 50% do produto que entra, por via marítima, no Brasil. De
São Sebastião, o petróleo segue, por rede de dutos, às refinarias da região
Sudeste.
João Carlos Carvalho Milanelli, biólogo da Agência Ambiental de Ubatuba da
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), também constatou uma
melhora nas operações da Petrobras. "Os números de vazamentos de petróleo no País
vêm caindo nos últimos anos", afirma.
O recuo no número de acidentes ganha mais importância quando se sabe que a
indústria brasileira de petróleo vem crescendo consideravelmente nos últimos anos,
a partir das novas descobertas de campos petrolíferos e dos grandes investimentos
feitos na exploração da matéria-prima.
No entanto, assim com a promotora pública, o biólogo Milanelli diz que existe um
longo caminho a ser percorrido pela Petrobras no aspecto de segurança ambiental.
"Apesar da estatal ter demonstrado que está aprendendo com os erros cometidos,
ainda ocorre muitos acidentes sérios no País".
Segundo os dados colhidos pela Cetesb, entre 1978 e 2004, ocorreram 588 acidentes
em São Paulo envolvendo toda a atividade petrolífera. Somente na área de
transporte marítimo, foram contabilizados, no período, 314 acidentes, a maior
parte no Litoral Norte (50,6%). Já no que se refere ao transporte por dutos, a
Cetesb registrou 168 acidentes desde 1980, ocorridos sobretudo na região
metropolitana (71%).
Em relação aos novos projetos da Petrobras, a promotora diz que tem acompanhado
"passo a passo" os trabalhos da estatal em Caraguatatuba. Segundo ela, com a
instalação da base de gás na cidade - além de uma nova rede de dutos (terrestre e
marítimo) -, o impacto negativo à região será "inevitável". "Em uma obra como
essa (que receberá investimentos de US$ 1,5 bilhão), é impossível que não ocorra
algum problema, mas no nosso trabalho é tentar minimizar ao máximo o impacto ao
meio ambiente", diz.
Elaine afirma que, no momento, o Ibama aguarda o envio por parte da Petrobras do
estudo de impacto ambiental (EIA/RIMA) relativo ao empreendimento em Caraguá. "A
Petrobras ainda não entregou o seu relatório ambiental, mas já tivemos algumas
reuniões com técnicos, o que deu para ter uma idéia superficial do que será feito
por aqui". As obras da estatal na cidade do Litoral Norte estão previstas para
começar no próximo mês.
De acordo com a promotora, o que se sabe sobre o projeto é que um trecho do
Parque Estadual da Serra do Mar (quase 10 quilômetros) terá de ser completamente
desmatado para que seja enterrado o duto que levará o gás processado na fábrica
de Caraguatatuba até Taubaté, onde será distribuído para o Sudeste. "Mas a
empresa se comprometeu a fazer o replantio da vegetação em toda a faixa", diz
Elaine. Na parte de infra-estrutura, a Petrobras utilizará uma base horizontal
para o processamento de gás ("flare"), que lembra uma grande piscina e serve como
material alternativo às torres de fumaça utilizadas, por exemplo, nas fábricas de
Cubatão (SP).
(GM, 10/02/06)