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2006-02-10
Ambientalistas acreditam que os investimentos em energia limpa anunciados por Bush em sua declaração anual ao Congresso não são suficientes para melhora a situação energética do país nem para ajudar na redução do aquecimento global no planeta. Em seu discurso sobre o Estado da União, em 31 de janeiro, Bush anunciou o que chamou de "Iniciativa de Energia Avançada", que representará um aumento de 22% em pesquisa sobre alternativas limpas no Departamento de Energia.

"Investiremos mais em usinas a carvão de emissões zero, em tecnologias solares e eólicas revolucionárias, e em energia nuclear limpa e segura", assegurou o presidente. Neste sentido, Bush afirmou que os americanos também devem mudar o combustível que alimenta os automóveis e por isso se aumentará a pesquisa para melhorar as baterias dos veículos híbridos e elétricos, assim como os automóveis que utilizem hidrogênio.

Bush mencionou o etanol e assegurou que seu Governo destinará mais fundos para a pesquisa em métodos de produção deste combustível, com o objetivo de "torná-lo prático e competitivo no prazo de seis anos". Isso permitirá, assegurou, a conquista de outro objetivo: "substituir até 2025 mais de 75% de nossas importações de petróleo do Oriente Médio".

Em editorial publicado no jornal "The New York Times" no dia seguinte ao discurso, o porta-voz da organização Defesa Ambiental, Steve Cochran, afirma que as “declarações foram tristemente insuficientes”.

O texto diz que o futuro econômico do país e a segurança nacional irão depender da capacidade dos americanos em controlar seu enorme apetite por combustíveis fósseis. “Isso não é uma questão para ser colocada em uma lista qualquer com outras iniciativas durante discursos que acontecem uma vez ao ano para o Congresso. É a chave para tudo”, argumenta.

O compromisso foi aplaudido por ambientalistas e especialistas, que, entretanto não deixaram de questionar as afirmações do presidente. Os defensores das fontes limpas de energia concordaram com o panorama traçado por Bush sobre a “dependência dos Estados Unidos pelo petróleo”, mas disseram que a solução proposta – 22% de aumento nos fundos para a pesquisa – é muito pequena.

Eles também se desiludiram pelo fato de o mandatário nem mesmo mencionar o aquecimento global, atribuído pela maioria dos cientistas às emissões de gases causadores do efeito estufa provocada pela queima de petróleo, carvão e outros combustíveis fósseis.

Os Estados Unidos, um dos países industrializados que não ratificaram o Protocolo de Kyoto para reduzir a liberação desses gases na atmosfera, concentram 25% das emissões mundiais. “Se ignora completamente o aquecimento, o maior desafio de todos, seus planos nunca serão adequados”, disse Cochran, que acusou Bush de “pensar pequeno”.

O colunista econômico do jornal "The Washington Post", Steven Pearlstein, adotou um ponto de vista particularmente cínico das propostas de Bush. “Alguém acredita realmente que um presidente e um vice-presidente que ficam ricos por sua associação com a indústria do petróleo e do gás, que nunca deixaram de promover a cadeia industrial e que presidiram a maior transferência de riqueza dos consumidores para a indústria na história da humanidade, nos levará para além de uma “economia baseada no petróleo” para uma baseada em “lascas de madeira, caule ou pastagem de gravetos?”, escreveu Pearlstein, referindo-se à descrição que Bush fez das fontes de etanol celulósico.

Já Steve Cochran termina seu artigo no "The New York Times" admitindo que ninguém pode acusar o pedido de pesquisa de Bush ou deixar de aplaudir seu pedido de substituição de mais de 74% da importação de petróleo da nação nas próximas duas décadas. “Mas enquanto o objetivo foi grande, as formas para atingi-lo foram minúsculas”, avalia.

Em relação ao petróleo, o próprio Departamento de Energia dos EUA prevê que, com o rápido desenvolvimento da Índia e da China, o consumo global irá aumentar de 80 milhões de barris por dia para 119 milhões até 2025. A ausência de esforços em diminuir o consumo americano levará ao aumento nos preços do petróleo, inflação e perda das vantagens de mercado dos Estados Unidos, destaca o artigo.

“Deveria ser um choque humilhante para os líderes americanos que o Brasil tenha conseguido se tornar auto-suficiente em energia em um momento onde os Estados Unidos está concentrado em construir caminhonetes maiores”, comenta Cochran.

A iniciativa do Brasil em desenvolvimento de energias alternativas foi fortemente comentada no mundo depois do discurso de Bush, que elogiou a tecnologia de motores bicombustíveis usada pelas montadoras instaladas aqui. O investimento brasileiro no etanol iniciou na década de 70, com o ProÁlcool, programa bem-sucedido de substituição de derivados de petróleo. Depois de 30 anos, o bicombustível voltou com força total – os motores flex fuel vieram para dar novo fôlego ao consumo interno de álcool. (CarbonoBrasil, 08/02/06)

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