Águas subterrâneas estão em boas condições no RS, segundo CPRM
2006-02-09
Após concluir o mapa hidrogeológico em trabalho conjunto com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema/RS), envolvendo ainda diversos órgãos estaduais e instituições privadas, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), através de sua superintendência no Rio Grande do Sul, está atuando em outro projeto, que visa dar continuidade ao cadastramento de mais 3,9 mil poços. Conforme o superintendente da CPRM no Estado, José Alcides Fonseca Ferreira, este trabalho está sendo realizado em convênio com o Ministério da Integração Nacional, que entra com os recursos de custeio, e a CPRM, com a execução do trabalho.
“Estamos revitalizando 30 poços e construindo outros em pequenas comunidades rurais”, informa Ferreira. Ele adianta que algumas dessas atividades serão concluídas até 28 de fevereiro. O objetivo é melhorar as condições de abastecimento em locais onde falta água ou onde este recurso não tem boa qualidade para consumo humano. O alvo desses trabalhos são municípios do Noroeste e Sudoeste do Rio Grande do Sul, incluindo alguns de Santa Catarina.
O superintendente da CPRM assinala que o Rio Grande do Sul, em que pesem problemas cíclicos de estiagem, está em situação privilegiada em relação a outros Estados brasileiros. “Há 11 mil poços cadastrados no Estado, dos 100 mil já cadastrados no país”, afirma. A CPRM iniciou o processo de cadastramento no semi-árido do Nordeste e, fora dessa região, o Estado gaúcho é o que apresenta o maior índice de cadastramento nacional de poços. “O Paraná tem cadastramento pelo órgão estadual de lá. São Paulo está fazendo o seu, e o Rio Grande do Sul é o que está mais avançado no processo”, atesta Ferreira. Conforme ele, a CPRM está atuando também na abertura de 50 poços artesianos, em São Paulo e no Paraná, a fim de melhorar as condições de vida em assentamentos rurais naqueles Estados.
Qualidade e vazão
Ferreira destaca que as condições das águas subterrâneas no Rio Grande do Sul são adequadas em boa parte dos locais verificados – 7.692 poços. Contudo, há regiões em que a água não é apropriada ao consumo, por excesso de sólidos dissolvidos na água (salinização). “Porto Alegre não está sobre um aqüífero muito bom. São rochas graníticas de embasamento. Há lentes de areia na planície do Guaíba”, explica. Essas características geológicas confirmam a dependência da região da Capital e entorno com relação à água do Guaíba. “Neste caso, a água subterrânea pode ajudar, mas não ser a principal fonte”, observa.
O hidrogeólogo José Luiz Flores Machado, doutor em Geologia do Aqüífero Guarani e também da equipe da CPRM/RS confirma que “na maioria dos poços analisados, a água era boa e às vezes excelente. Nos casos em que a água captada apresentava problemas de potabilidade, geralmente isso ocorria porque o poço não foi construído por uma empresa idônea, desrespeitando as normas técnicas”. Machado afirma que “em alguns locais, como no litoral, ocorrem poços com águas salobras. Em outros locais mais restritos, existe ferro ou flúor em excesso”, nota. Contudo, segundo ele, “sempre que se tiver que escolher entre a água subterrânea ou a água superficial para o abastecimento público, a água subterrânea deve ter prioridade por ser de melhor qualidade”. Mas há que se observar a necessidade de obter permissão para a perfuração de poços, pois esta é uma prerrogativa do Departamento de Recursos Hídricos da Sema/RS.
Quanto ao Sistema Aqüífero Guarani, Machado acredita que “ele não é tão importante no Rio Grande do Sul como é em outros Estados”. O especialista explica que “existem regiões em que ele (Aqüífero Guarani) apresenta poços com excelente vazão e qualidade química, porém em quase 50% do Estado ele já está em grandes profundidades, e as águas nem sempre são potáveis, não se prestando para o abastecimento público”.
A região com maior vazão de água de poços é a da Fronteira Oeste do Estado, em municípios como Santana do Livramento, onde a qualidade da água é também considerada muito boa quanto à sua composição. Contudo, predominam no Estado formações de basalto, em 60% do território. Nessas áreas, a vazão é, em média, de 5 a 7 metros cúbicos por hora, o que é considerado um volume “bom”, de acordo com Ferreira, “embora já se tenham encontrado poços com vazão de 40 metros cúbicos por hora”.
Prevenção
A contaminação do solo, especialmente em áreas densamente povoadas e onde haja intensa atividade industrial, impacta a qualidade da água extraída de fontes subterrâneas. No Estado de São Paulo, por exemplo, tal problema está bem disseminado, e as autoridades locais da área de controle da poluição (Cetesb) iniciaram há bastante tempo um programa de cadastramento das fontes de poluição que podem ameaçar a qualidade da água de poços artesianos, como é o caso de depósitos de hidrocarbonetos e postos de venda de combustíveis – sem falar em fontes industriais.
No Rio Grande do Sul, este cadastramento também existe e, de maneira geral, conforme Ferreira, não se constatam problemas de contaminação em áreas subterrâneas, mesmo em região densamente industrializadas, como é o caso do pólo metal-mecânico da Serra. O superintendente garante que a instalação de novos empreendimentos, como as usinas de Jacuí I e Candiota III, cuja oferta de energia já foi leiloada, não trará impactos sobre os poços artesianos. Porém, no que diz respeito à qualidade das águas do rio Jacuí, “embora não seja um problema geral, já se constata poluição em alguns pontos, de modo que o gerenciamento das mesmas deve ser feito imediatamente para evitar que a situação, que agora não é grave, possa se tornar grave”. Ele observa ainda a necessidade de melhorar a conservação dos poços artesianos, a fim de evitar a contaminação dos aqüíferos. “Um poço bem conservado conta com placa de concreto na superfície, ou então é cimentado, evitando que se joguem resíduos no seu interior”, destaca.
Uma das vantagens do Rio Grande do Sul em relação a outros Estados, quanto à qualidade das águas, é propiciada pelo bom nível de precipitação, que poucas vezes fica abaixo de 1300 milímetros por ano, afirma Ferreira. Com tal característica e com o gerenciamento adequado dos poços, retirando-se deles 50% a 60% de sua capacidade, no máximo, é possível fazer deles fontes sustentáveis de abastecimento. Cuidado na construção também é fator básico para a conservação da qualidade da água. “Se um poço for perfurado dentro dos rígidos critérios técnicos estabelecidos pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), através de uma empresa idônea com responsável técnico geólogo, quase certamente suas águas terão melhor qualidade que aquelas de rios (que por vezes são quase esgotos), que são tratadas pelas empresas de saneamento – que tantas reclamações geram, como cheiro, gosto de algas ou de barro, cor esbranquiçada etc”, sustenta Machado.
Por Cláudia Viegas