O difícil resgate dos parques nacionais na Colômbia
2006-02-09
A operação de erradicação manual da folha de coca, iniciada pelo governo colombiano, no dia 19 de janeiro, tenta resgatar o Parque Nacional La Macarena, um dos mais importantes da Colômbia por sua rica biodiversidade. Porém, organizações ambientalistas consideram que a medida é insuficiente. A campanha destruirá, nos próximos meses, 4,6 mil hectares de coca, matéria-prima da cocaína, e faz parte da política antidrogas do país que, com apoio dos Estados Unidos, procura reduzir os cultivos ilícitos que abastecem igualmente o narcotráfico e a guerrilha. Com esta medida, as autoridades também esperam resgatar La Macarena, tradicional bastião da guerrilha, da deterioração e do desmatamento e por isso denominaram a operação de “Colômbia Verde”.
Segundo dados oficiais, pelo menos em 13 dos 51 parques do país foram detectados cultivos ilegais e para cada hectare semeado de coca foram desmatados três. La Macarena já perdeu entre três mil e quatro mil hectares de floresta. “Vamos recuperar para o país o parque natural (La Macarena), uma área que infelizmente foi prejudicada impiedosamente pelos cultivos ilícitos”, disse à imprensa o general Jorge Daniel Castro, diretor-geral da Polícia Nacional, entidade que dirige a campanha.
No entanto, grupos da sociedade civil duvidam que a operação por si só seja eficaz. “A erradicação manual em La Macarena pode representar um avanço como técnica”, disse Ricardo Vargas, coordenador na Colômbia da Ação Andina (organismo não-governamental que estuda o narcotráfico na região). “Entretanto, não substitui a política equivocada que tem o governo, de tentar acabar com o problema do narcotráfico reprimindo o mais fraco: o camponês obrigado a cultivar a coca para sobreviver”, disse Vargas. “Se o governo não atacar diretamente as fontes de financiamento do narcotráfico, estes grupos continuarão se deslocando para outras áreas, como vêm fazendo há anos”, afirmou.
A erradicação manual da coca dentro dos parques substitui a fumigação com o herbicida glifosato, medida que foi rejeitada por organizações ambientalistas, em meados do ano passado, pelo dano que causaria à rica biodiversidade dessas regiões. La Macarena, que ocupa a serra à qual deve seu nome, ao sul do departamento de El Meta, foi classificada como Parque Nacional Natural em 1989 e declarada patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Com 630 mil hectares, é uma das regiões de mais alto endemismo (espécies de fauna e flora que só se encontram nesse local) e conta uma variedade de climas.
Na região habitam cerca de 2,5 mil famílias de colonos, que chegaram ali há mais de 40 anos, e seus descendentes, além de milhares de colombianos que nos últimos anos chegaram à região atraídos pela coca.
Apoiados por 1,5 mil policiais e centenas de militares, cerca de 900 erradicadores trabalham atualmente na área, dominada tradicionalmente pelas rebeldes Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que supostamente são financiadas pelo comércio da droga.
Calcula-se que milhares de pessoas deverão ser reassentadas ao final da campanha, mas o governo não deu detalhes sobre como pretende realizar o processo. Segundo grupos da sociedade civil, faz-se urgente que o Estado ofereça às famílias que moram na região meios de subsistência diferentes dos das últimas quatro décadas e proteção para suas vidas. “O governo deverá fazer o necessário para devolver a confiança no Estado por parte de seus habitantes e oferecer-lhes oportunidades de vida diferentes”, disse Carlos Escobar, assessor da Corporação Regional Ambiental do Atlântico (CRAA).
O conflito armado e o abandono pelo governo durante décadas são, além do desmatamento, os principais problemas que afetam La Macarena, segundo especialistas. Para Vargas, o processo de erradicação manual deve estar acompanhado de um plano de desenvolvimento integral acertado com as comunidades. O governo nunca realizou “uma política de Estado séria” para La Macarena nem para os demais parques naturais, disse Vargas, e além dos narcocultivos deveria ser aberto um debate público sobre a situação social e econômica de cada uma dessas áreas.
Na Colômbia há 51 parques naturais que ocupam cerca de dez milhões de hectares (10% do território nacional).
Segundo o Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos, no censo de 2004 foram registrados 5.364 hectares de coca em 13 parques, equivalentes a 0,05% da superfície protegida e a 7% da área total com cultivos ilegais do país.
Para a erradicação manual, além de La Macarena, estão na mira do governo os parques da Serra Nevada de Santa Marta e do Catatumbo. O Escritório da ONU contra a Droga e o Delito tem na região 11 observadores, que segundo seu representante na Colômbia, Sandro Calvani, têm por missão “quantificar as áreas que são limpas pelos Grupos Móveis de Erradicação Manual e informar o país e a comunidade internacional sobre o desenvolvimento desta operação”. Cerca de 30 grupos de erradicadores serão enviados para outras regiões do país. A meta do governo é erradicar 40 mil hectares de cultivos ilícitos em 2006.
(Terramérica/Envolverde, 07/02/06)