Sócio do vento quer silêncio sobre os royalties da energia eólica de Osório
2006-02-09
Felisberto Boeira, líder da família proprietária das terras próximas à Lagoa dos Índios, onde a Ventos do Sul Energia S.A. vai implantar os últimos 25 dos 75 cata-ventos do Parque Eólico de Osório, pediu ao AmbienteJÁ para “ficar na moita” a respeito da sua participação no maior empreendimento energético em andamento no Rio Grande do Sul. “Quanto mais quieto a gente ficar, melhor para todos”, disse ele, temeroso de que uma entrevista pudesse “levantar a lebre” sobre o eventual enriquecimento da família, que comprou as terras em meados da década de 80.
Como, porém, evitar que venham à luz detalhes sobre o contrato de 35 anos entre os proprietários das terras de Osório e os empresários da Ventos do Sul? A esta altura dos acontecimentos — as máquinas já estão em campo, construindo as estradas de acesso ao parque eólico —, até os quero-queros que policiam as várzeas do Litoral Norte já sabem que os quatro irmãos Boeira vão ganhar de 2% a 3% da receita obtida com a venda da eletricidade produzida em Osório. Na elaboração do contrato, os Boeira foram assessorados pelo advogado Emilio Becker, de Porto Alegre.
Na pior das hipóteses — ventando pouco —, cada cata-vento vai faturar pelo menos R$ 1 milhão por ano. Isso significa que, sem deixar suas atividades tradicionais — o plantio de arroz e a criação de gado —, os fazendeiros de Osório vão ganhar pelo menos R$ 20 mil anuais de royalties por torre eólica. Se ventar mais, aumenta o ganho. E a única restrição é ao plantio de árvores de grande porte. Perto dos cata-ventos, não há espaço para a silvicultura, uma das alternativas de renda para os proprietários rurais do Rio Grande.
Por Geraldo Hasse, de Osório para O Diário dos Ventos, série exclusiva do Ambiente Já e Jornal Já – www.jornalja.com.br